2015/05/23

Dia 2100

Quando fiz 18 quis entrar no exército. Queria ter um ideal, um ponto fixo no meio dos meus pontos frouxos onde eu conseguisse me orientar. "Esse vai ser o marco 0" pensava eu e tudo começaria dali. Em um conceito de mundo perfeito, se todos fossem bons não haveria guerra. E por um conceito realista, vence quem tem mais balas. A alta patente, a continência. Lembro até hoje de jurar a bandeira e não que eu seja um nacionalista convicto nem que eu ache o Brasil um bom lugar pra se lutar. É que eu não lutaria por uma pátria e sim pelas pessoas. As pessoas boas cara, independente se eu as conheça ou não vale a pena lutar por elas. E não são os tiros disparados que faz a diferença, mas voltar pra casa vivo. Mas, enfim, o mundo ou o destino não quis isso. Não quis que eu acordasse ás 4 da manhã para lustrar as botas e vestir a farda. E ai você pode virar pra mim e dizer "mas você pode ir atrás dos seus sonhos" - Não cara. Sonhos são levianos demais para uma vontade tão grande quanto a minha de sem querer nada em troca, ajudar quem precise. E não, não sou nenhum puritano metido a ideologista. Sou só um cara fodido tentando encontrar a paz. Não estou no Greenpeace ou o 'salve as baleias'. Mas e dai?
Então dai eu já pensei ser jornalista. Mas não se escreve sentimento em jornal. E escrever mecanicamente eu não quero. Seguindo receita, robotizado. Já pensei ser tanta coisa e, no entanto, nada me basta. Afinal, eu só sei o que não quero, porque sei exatamente o que não sou. Não sou frio ou parcial. Ou amo ou odeio e não existe um meio termo entre meus termos de uso. Darei minha opinião, farei meu comentário fora de hora e acharei muitas coisas em relação a tudo. E não se escreve “Eu acho” em notícia. Logo eu que creio em tanta coisa e crio tantas outras. Não, eu não escrevo notícia, eu não narro fatos. Isso aqui, na verdade, é um pensamento transcrito. E quase não se pensa em jornal.
Já quis ser astronauta também, mas por mim mesmo já vivo no mundo da lua. Quis ser cozinheiro, artista, advogado e médico. Já quis ser bombeiro, arquiteto e aviador. Marinheiro, pintor e professor. Já quis ser um tantão de coisa mas nem sei ao certo o que hoje em dia almejo ser. Ser eu mesmo me parece o mais correto. E no fim, acho que o que eu mais espero é que alguém, algum dia diga "Sinto sua falta soldado".

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