2016/08/23

Dia 2308


Aquele pré-rolê que normalmente faziam, combinando o lugar e a hora e quem iria também. Chegar na terça-feira e mandar mensagem falando do sábado e aquele barzinho legal. Montar um grupo no Whats quem sabe e ficar fazendo piadinha até um dia antes da data marcada. Zoar alguém que sempre chegava atrasado. Mandar fotos e brincadeiras com conotação erótica e pornográfica - por que era engraçado - e direcionar a tal pessoa e a outra também.
No dia, mulher é VIP até 00:00hs. Tem vodka, tem red bull, tem red label... Desce a tequila. Arriba, abajo, al centro y adentro. O gostinho do sal e limão. Aquele bomberinho que é de finalizar. Quantos shots, vira o shot e no meio a gente acaba até bebendo o shot de outra pessoa. Tem aquela amiga que a amiga levou junto que você ficou olhando e ela também. E dai você pensa "Será que rola?". Depois de alguns shots, é claro que rola amigo. É uma piada e outra. É uma lembrança e outra. É uma história e outra. E ai a gente fica nesse mundo. Beija, abraça, ri. No fim, você esta no quarto beijando um estranho.
A garota nem era tão gostosa assim, mas o que contava era o tamanho da bunda dela. Ou o jeito que ela beijava. Nem lembra como ela beijava, mas ainda sentia o gosto da vodka. A cabeça roda, a gente ri. Fuma um cigarro, dois, três, meio maço. Fuma o cigarro do amigo. Perde o isqueiro. Rouba um isqueiro. Chega o amigo atrasado. Mais festa! Vamos beber! Vamos fumar! Vamos rir! Vamos fingir que aqui é o melhor lugar do mundo e que estamos realmente felizes. 
O lado bom do álcool é que ele te mostra a verdadeira realidade no meio do porre. Ele te da um tapa de sobriedade e que você deveria parar com aquilo, mas você não para. Acha que aquilo faz parte da vibe. A gente pira nessa hora. Acha graça e continua. Você continua e vai para o quarto. E faz sexo sem camisinha. Goza que nem sente prazer. Fuma mais um cigarro. Todos aplaudem. Se der sorte, foi só a foda mal fodida que aconteceu e ai você vai embora. Se der azar, acaba dando P.T, virando a piada da próxima balada. Vomita na rua, a risada acompanha a barriga contraindo mais uma vez. 
A noite se estende, são 3:40 da manhã. Já é tão tarde que já é cedo. Você acorda do lado daquela garota linda mas se questiona como é que ela foi pra cama com um cara que nem você. Ah é, foi o José Cuervo. Lembra? Sal e limão. É um convite ou acaba sendo. Ela deve estar mais chapada que você. Não sabe se a abraça, porque isso pode parecer intimo demais - como se estar dentro da vagina dela espalhando esperma não fosse - ou se apenas deita e vira de lado. O mais engraçado é de manhã mas ainda escuro. Dou carona ou deixo ela no ponto de ônibus? Puts, ela mora em Santana e eu sou da Zona Leste. Uber! Vai com Deus.
Chega em casa, tem gosto amargo na boca. Come um pedaço daquele pão insosso, tira os sapatos, deita sem banho mesmo. O corpo ta cansado mas ainda ativo, demora um pouco para dormir. Aquele pós balada misturado com aquele pós sexo todos ainda marcados em você. A cama vira um abismo e você cai sem asas. Acorda e os olhos viram e a cabeça gira. O estomago rodopia. A nuca dói. Que trem te atropelou? No celular tem umas 200 mensagens da galera rindo, enviando foto, fazendo piada, perguntando se você morreu. A garota que você trepou na noite passada e que você deveria ao menos mandar uma mensagem nem tem o número dela. Mas tudo bem, sem culpa, foi sem compromisso.
O engraçado é que a piada da balada fica eterna e vão te chamar da próxima vez porque continuarão lembrando disso. Quem sabe a garota que sentiu seu esperma dentro dela - ou não - vai estar lá porque a amiga dela que chamou ela na primeira vez também vai ir. Dai você pode pegar o número dela ou antes disso ela pode pedir pra essa mesma amiga o seu número. Mas acho que não, isso seria apelativo demais. Ou ainda até, você pode transar com a outra amiga nova que você não sabe o nome mas vai colar dessa vez. É o mesmo bar, não se esqueçam. As mesmas piadas no grupo. Ainda tem aquele amigo que chega atrasado. Ainda vai ter alguém que vai dar carona para outro alguém. E no fim, todos vão estar lá. 
Sabe o que é mais surpreendente nisso tudo? É que a probabilidade de você estar lá, sóbrio, sem fazer nenhuma cagada e ainda estar feliz de verdade é quase 0. Vai descobrir que existem muitos amigos para encher seu copo e te desafiar a mais uma dose ou duas mas quase nenhum pra te ouvir em uma quinta-feira chata na hora do almoço. Vai descobrir que a ressaca moral é tão pior quanto a ressaca física. Isso varia do seu organismo e do seu caráter também. Vai descobrir que essas fodas baratas não tem amor nenhum envolvido. Que independente de você ter ficado e dormido com uma pessoa ou dez, ainda sim vai estar sozinho. Sozinho.
Mas quem sou eu para dizer algo não é mesmo? Não venho com hipocrisia ou dar alguma lição de moral. Mesmo porque o moralismo é uma ideia falha de orientação combinada com a falsa concepção de superioridade. "Eu não fiz isso, você fez". É que no fim, depois que a bebida acaba, que a camisinha é esquecida e que o travesseiro se torna a única companhia... O que anda fazendo sentido? Já me fiz tantas vezes essa pergunta que perdi a conta ou desisti de contar, sei lá.
Hoje eu me tornei o cara que esqueceu quantas doses eu aguentava e me tornei o cara do suco de laranja. Aquele cara que volta pra casa direto do trabalho, sem paradas para happy hour. O careta ou como vocês chamam hoje em dia? É que perdeu a graça ver as garotas de vestido preto e curto segurando copos coloridos tentando sensualizar e acabando se tornando vulgares. Os caras disputando quem chama a garrafa de Absolut só pra gritar "Absolut!" no meio da galera. Essa história de que ninguém é de ninguém e ver garotas inteligentes, garotas bonitas se deixarem levar por tão pouco. E os caras se aproveitando de situações como o término do namoro de uma delas ou a briga das amigas ou saber que a outra é irmã de uma amiga e coisas assim. Na verdade, essas coisas nunca tiveram graça nenhuma. A gente faz tudo isso pra ser um pouco aceito, eu acho. Pra suprir a falta de algo. Ou porque é estúpido de verdade mesmo mas não assume. 
Se me perguntasse se sinto falta das baladas a resposta é com certeza não. Minha balada hoje é debaixo da coberta, assistindo Netflix e cuidando da minha mulher. Já fui da bagunça sim, da farra e de não saber como voltei pra casa. De não saber o que eu estava fumando nem o que eu estava bebendo. Tenho histórias pra contar, pode crer. Mas por experiência própria, se eu pudesse lhe dar um conselho é: Não faça. No fim, não vale a pena e o máximo que você vai ter são algumas histórias idiotas pra contar onde só quem esta querendo viver as mesmas coisas vai achar isso fantástico ou engraçado. Quando chegar na minha idade e tiver caído sua ficha vai ver como é idiota isso tudo. É que hoje, larguei os copos das baladas pra segurar a mão de alguém e estou em busca de algo bem maior que a noite de sexta-feira. Tomei jeito, como dizem. 
Enfim, espero que não desperdice tempo nem sua vida. Espero que encontre um caminho melhor e que não precise de nada disso tão fugaz. Há coisas melhores e maiores esperando para acontecer mas nada vai se realizar se estiver cego. Prazeres temporários vão continuar sendo prazeres temporários. Então, me diz ai... O que anda valendo a pena?


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