2017/02/16

Dia 2358

Combinamos de nos encontrar naquele mesmo bar. Aquela mesma cena de bar de antes. Mesas do lado de dentro e algumas na calçada. O tempo estava gostoso, bom para ficar conversando do lado de fora. As pessoas não precisam de passeios caros ou lugares famosos para se divertir. Uma bebida gelada na calçada já é grande coisa para os bons apreciadores de uma boa companhia. 19:00hs em ponto. Ela estava ali perto, trabalhava na região. Eu tinha atravessado meia cidade para chegar lá de carro. O bom é que gosto de dirigir, acho gostoso. Prefiro a noite, adoro as luzes da cidade. O vermelho marlboro do farol, as luzes azul cintilante e verde brilhantes dos bares. Vidros abertos, tocava Me, Myself And I do G-Eazy no som do carro. Passei devagar na frente onde ela trabalhava para buscá-la e ela estava linda.
Uma mulher de meia estatura, cabelos claros mas não tão claros na altura dos ombros. Usava óculos mas naquele dia não quis parecer tão séria. Vestia uma calça bonita de linho cinza comprida e uma camiseta básica preta. Uma bolsa escura, acho que era Louis Vuitton. Sandálias de tiras preta. Pouca maquiagem, o que mais salientava era o perfume que dava para perceber assim que ela entrou no carro. Uma mulher simples mas que chamava muito a atenção. Não só por sua beleza física, mas por sua feminilidade notável e seus hormônios que sentia-se de longe.
Abaixei o volume do som, ficou aquele fundo com a batida da música. Ela ficou comentando algo sobre o dia de trabalho dela e como estavam as coisas e os pedidos que fazia. Na verdade, eu nem sei direito o que ela fazia lá dentro mas sabia que ela entendia do que fazia. O celular dela não parava de mensagens chegando a todo instante, grupos e pessoas falando o tempo inteiro. Foi nessa hora, é... Creio que foi nessa hora mesmo, quando ela pegou o batom para retocar usando o espelho do quebra sol do carro. Viu a tela do celular cheia e simplesmente o desligou. Nos dias de hoje, se alguém desliga o celular para apenas estar com você, isso quer dizer alguma coisa.
Á três quadras dali estava o bar. Encosto na mesma rua. Enquanto ela fechava a bolsa eu desligo o carro, o barulho de chaves e a trava da porta abrindo. Dou a volta, abro a porta e ela ainda esta na bolsa. Olha e ri, mas me da a mão pra sair do carro. Fecho a porta, o barulho do salto da sandália na calçada diz exatamente onde ela esta andando. Sentamos e logo o garçom vem nos atender. Ela pede uma cerveja - sim, mulheres também bebem cerveja - e eu também. O garçom se retira e ela me pede cinco minutos para ir ao toilet. Em lugares abertos e com muitas pessoas eu gosto de ficar observando tudo ao redor. Tenho casais na mesa da esquerda, um grupo de amigos da faculdade á frente. Um rapaz solitário no canto. Dois garçons conversando esperando serem chamados. O cara que faz coquetel limpando o balcão. Dois carros, um vermelho e um prateado estacionando ali perto. Um cara falando ao celular. Outros três rapazes falando sobre as duas mulheres duas mesas adiante. Um deles usa aliança e fico me perguntando onde esta a garota desse cara agora. Geralmente os caras, mesmo os que estão acompanhados de garotas bonitas ficam de olho em outras garotas bonitas em público. Eu não, eu sou um colecionador de detalhes do mundo. E eu tenho uma linda mulher sentada na minha frente, porque iria querer olhar para o lado?

Aproveitei a ausência dela para desligar meu celular também. Sem ligações, sem mensagens. Apenas eu e ela e o desenrolar daquela conversa. Mas quando ela voltou... Nossa! Tinha trocado de roupa, agora estava de vestido preto um pouco acima do joelho. O perfume continua exalando forte mas nada enjoativo. Sentou-se dizendo que estava mais a vontade do que usando roupa de trabalho agora. E pode acreditar, o caminho do banheiro até a mesa todos os caras pararam alguns segundos para vê-la passando. Durante a conversa quando era a vez dela de falar, eu ficava observando no desenho dos dentes, no desenho dos lábios. Nos movimentos das mãos. No batom marcado na borda do copo. No desvio do olhar dela quando eu olhava para eles bem no fundo. Parece que ela se sentia invadida, como se eu estivesse no seu íntimo.
Depois de duas cervejas decidimos que era hora de ir embora. Ela só disse que queria sair de lá, não que queria ir para casa. Disse que queria ir ao meu apartamento, ver onde eu morava. Ás vezes ela ia lá alguns anos atrás, eu fazia uma batida e ficávamos conversando sobre o tempo e a vida. Imaginando a velhice e a casa na praia. Mas naquela noite não se tratava sobre uma imaginação de futuro incerto que iriamos falar, estava na cara de qualquer um que quisesse ver. E que mal há, somos dois adultos e sabemos o que estamos fazendo. Só que não, não sabemos. Já tem sentimento envolvido. É complicado.
Eu abro a porta do carro, ela ri ao entrar. Quando eu entro ela olha pra mim e diz que não me entende, como no mundo de hoje eu ainda sou como os caras dos anos 20, 30... Eu também dou risada e digo que nem eu mesmo sei. Quando ligo o carro a mesma batida da música volta bem na parte do refrão que fala "Eu não preciso de nada para passar a noite, exceto a batida que está no meu coração." A música faz o cenário dentro daquele carro ficar sexy. O vestido dela sobe um pouco mais porque ela esta sentada no banco do passageiro. Ela depilou as pernas ontem, com certeza. Há uma pequeno corte atrás do joelho feito por gilete, ainda não esta cicatrizado. O que essa mulher pensava ontem a noite enquanto tomava banho e depois antes de dormir?
Ela não é mais a garota do bar, agora ela é a garota que esta sentada no sofá da minha sala. Descalça, sem sandálias e com um sorriso no rosto vestindo um vestido de R$ 200,00. Ofereço um drink e ela não aceita, parece que quer ficar completamente ciente do que esta acontecendo para não colocar a culpa na bebida depois. E nós dois sabemos o que acontece agora. Todo mundo sabe. O cheiro do perfume dela encosta no cheiro da minha loção pós barba. O batom com nome esquisito dela encosta no meu lábio recém umedecido pela última palavra que eu disse quando ela me perguntou se eu queria beijá-la: Quero.
Ela esta toda quente, parece um vulcão. Diz que sente minha falta e pergunta se pode ficar mais um pouco. E dai eu pergunto: Por mais uma hora, uma noite ou o resto da vida?


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