2017/08/16

Dia 2402

Chove em São Paulo hoje. A cidade parece um pouco triste, como se soubesse e conversasse comigo sobre saudade. A verdade é que eu não sei como começar esse texto. Há tantas coisas acontecendo, tantas coisas na minha cabeça sobre o amanhã que então vou preferir falar sobre o hoje. E meu hoje aconteceu na Av. Paulista. Eu adoro estar aqui. Se me perguntassem qual meu lugar favorito da cidade eu diria que é aqui.
Se esses 2.546 metros conseguissem dizer alguma coisa, com certeza diriam que eu fui feliz aqui mais de uma vez. O engraçado é que toda vez que estou andando nessa reta acabo sentindo saudade. Ela só é bonita quando escrita na poesia. A minha, particularmente, já não cabe mais no papel de tão grande e dolorosa que é. Mas não sinto saudades absurdas, esta mais para observar as estrelas no céu e origamis de papel dentro de uma garrafa.
Já protagonizei cenas cinematográficas aqui. Hoje, peço um café no Starbucks e me sento naquela esquina. Ainda ouço o som das palmas. Ainda lembro do sorriso do rapaz dentro do carro olhando o farol abrir. Ainda lembro das balas de brinde. Ainda lembro do cheiro da tinta. Ainda lembro de não querer voltar pra casa. Hoje a saudade bateu e eu apanhei, apanhei feio. Quando foi que perdemos nossa coragem?
Acho que alguns anos se passaram desde então, eu nem percebi quando aconteceu. De repente me vi com 25 anos e algumas realizações que todo mundo vai conseguindo com o tempo como faculdade, carta de motorista e essas coisas. Mas de vez em quando a gente sente que falta algo, algo que deixamos lá atrás não porque foi ruim mas porque não estávamos preparados para ter tudo aquilo de bom ainda. Como se fosse nosso unicórnio. Sentimos saudade mas não aquela saudade ruim, é como "que bom que isso aconteceu".
Não tem como não lembrar. Eu me lembro de tudo e o leão de bronze também. Nunca, jamais aconteceu igual. Todas as pessoas vão se lembrar desse farol algum dia. Sabe o que vai acontecer? Elas vão sorrir, sorrir grandão e uma parte do que acontece no impossível vai ser possível novamente. Sonhos que se tornam realidade, como as músicas do Teatro Mágico. Me levanto, continuo andando. Outra lembrança me pega na próxima esquina. Ai me deparo com a cidade inteira e que ela vai continuar tendo cheiros, sons e imagens que vão me trazer mais pra perto daquilo que um dia amei ter nas mãos. Então, se algum dia alguém me perguntar do que mais sinto falta na vida vou dizer que é de olhar as estrelas.
Esse é meu lugar favorito na cidade inteira. Seja para tomar um café ou visitar o parque Trianon. Seja ficar sentado debaixo do vão do Masp ou tomar um sorvete no Shopping Brigadeiro. Comer pastel com caldo de cana entre as estações ou descer até a Alameda Santos. Sentar na escadaria do cursinho ou visitar o prédio da Gazeta. Ler as mensagens escritas escondidas nos faróis ou andar debaixo do vão literário da Consolação. Andar na ciclofaixa ou tirar fotos por ai, não importa. Esse lugar tem um rosto, um cheiro e um sorriso de uma saudade gostosa. Saudade de você.

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