2017/12/16

Dia 2415

Hoje em Barcelona, uma garota sonhava no quarto sozinha. Uma garota bonita e jovem que pensava em fazer coisas boas e tinha muita esperança na vida. Viajar era mais que um hobby e fotografia era um passatempo divertido. Mas ela tinha muitas lembranças, um peso enorme maior que ela e que cabia dentro do seu coração. Pensava em estrelas e no universo. Talvez se não fosse naquele tempo, talvez se não fosse o gelo, talvez se não tivesse aparecido o leão, é quem sabe hoje não haveria a saudade. Mas as coisas acontecem do jeito que deveriam acontecer. Se não fossem as malas cheias de memórias ou aquela história que faz mais de um ano. Se não fossem os danos, não seria ela.
Hoje em Barcelona, uma garota sorriu. Ela viu seu próprio reflexo em uma poça de água e seu cabelo bagunçado depois de um dia cansativo. Sentiu cheiro de uma comida gostosa feita na hora. Viu a cena de um casal dando as mãos na rua que se lembrou de um filme antigo. Ouviu uma música antiga na rádio que falava sobre esperar dentro de um quarto e lembrou de alguém. Hoje ela comeu sonho de padaria.
Hoje em Barcelona, no metro uma garota chorava muito encostada no fundo do vagão. Era um choro sentido, forte mas silencioso. Ela tentava disfarçar as lágrimas mas seu nariz e seus olhos estavam vermelhos, como a quem pega um resfriado bem forte. Queria falar com ela, mesmo sem a conhecer. Saber qual a sua dor. Se era menor ou maior que a minha. Na mesma hora despertei a não fazer isso porque... Bom, porque me lembro bem o que aconteceu da última vez que cheguei perto de uma garota que chorava. Pode ser que fosse o acaso ou o destino. Eu nunca acreditei muito nessas coisas mas quem sabe foi realmente algo assim. Poderia ser qualquer pessoa a ver aquela garota fodida sentada na escada. Mas é claro, tinha que ser eu. 
Hoje em Barcelona, uma garota tímida acenou para mim na rua. Parecia alguém que eu conhecia, mas ao mesmo tempo era uma pessoa estranha. Ela acenou. Eu acenei de volta. Ela sorriu. Barcelona ficou bonita outra vez.