2020/08/19

Dia 2490



Desejo é a cobiça daquilo que esta logo ali, quase que podemos tocar mas não podemos. É como se pudesse estar se vendo mordendo lençóis por ai em qualquer cama mas basta uma palavra errada e você esta no quarto cansada, molhada e sozinha. Já eu? Nunca fui do tipo que gostava muito das pessoas. Não procurei me envolver e nem conhecer. Sempre fiquei na minha, estagnado como um trem que chegou ao fim da linha. Mas você, você eu gostei. E é tão idiota isso, que dá vontade de dar a marcha ré e trilhar um novo caminho. Porque assim tão de repente aparece alguém que te tira o ar. E mais tarde, o chão.

Sabe quantas garotas eu levei para cama? Muitas e em todas elas eu só via o seu rosto. E eu repetia a mim mesmo "Beije ela como se seus lábios fossem perder o controle, mas também beije-a devagarinho". Não havia lugar mais seguro do que entre as suas coxas, eu estava em casa. I Put A Spell On You da Annie Lennox tocando baixinho, sabia que eu me amarro na batida do piano dessa. O barulho do ventilador, o cinzeiro gelado, a fumaça da xícara esfriando em cima da comoda de marfim claro do quarto e seus cabelos caídos sobre meu braço e ali, fogo. Meus dedos dedilhavam seu corpo, quase como se eu estivesse fazendo uma pintura a dedo e você a minha tela favorita. Minha barba deslizando sobre seu ombro enquanto te falo meias verdades sobre o que acontece agora.

Estive dentro de você, preenchendo qualquer tipo de vazio e respirando seu ar. Sentindo seu gosto, enfim. Dando absolutamente tudo que você queria e pedindo que aquele momento não acabasse, mas sempre acaba. E a gente sempre quer mais. E a gente goza, ri, chora, goza outra vez. Se olha, pensa que é pra sempre. Promete que é. Quer que seja, mas dura só mais uma noite, um dia, uma semana, um mês. Amanhece e estamos sozinhos outra vez. As chaves do carro, o troco do café da manhã e seu gosto em mim. Bato a porta devagar para não te acordar. Quando acordar, espero que aperte os lençóis lembrando de mim em você. Paro o carro na próxima esquina, quero voltar e ao abrir a porta você estar lá. Mas você nunca esta. É fumaça e fogo e quando menos espera, queima. 

Mas se me ligar e dizer que vem, eu preparo o mesmo quarto e a mesma cama. Me conta mais dos seus segredos, me confessa seus desejos mas quando a luz apagar a ideia é só levantar no amanhecer. Mas se eu te ligar, você vem?

2020/08/16

Dia 2489

 O último que sair apaga a luz, mas conta uma história antes.
A minha é essa: Quando eu era criança costumava girar e girar no mesmo lugar, depois deitar no chão. O mundo inteiro rodava e parecia que eu estava caindo. Caindo pra cima. E quando tudo parava, só restava o silêncio e a imensidão do telhado do mundo inteiro lá no alto. Não sabia, mas ali eu estava feliz.
Eu olho o céu toda noite mas já faz muito tempo que não encontro silêncio em meio a esse monte de letras tropeçadas tentando escrever alguma coisa que fizesse sentido. Para mim. Para você. Quando escrevemos algo, nunca sabemos quantos corações vão ler aquilo. Mas sei que escrevi esse texto cruel demais para ser lido rapidamente afinal eu quis sempre dizer mais coisas e desde que criamos a noção de tempo, a espera nos mata.
Espera. Fico aqui sentado esperando você me dizer qual vai ser a hora que vai quebrar meu coração. Porque no fim do dia continuo sem saber seu CEP, qual seu cheiro, qual seu gosto e se prefere andar de pijamas ou de calcinha e camisetão descalça nas noites de verão. Se eu deveria discar seu número e dizer que estou indo e ainda se o grave da minha voz arrepia os pelinhos do seu braço.
Fico preocupado se quem beija seus lábios esta reparando no desenho que eles tem e em como é fácil fazer você sorrir. É realmente fácil, você gosta de palavras pequenas, elogios simples, inesperados e sinceros e piadas instantâneas com um pouco de sarcasmo. Mas só um pouco. Fico preocupado também se quem segura sua mão sabe que esta segurando meu mundo inteiro. Ainda, fico preocupado se quem toca seu corpo se importa em fazer isso ser perfeito.
É a coisa mais maravilhosa e terrível que pode acontecer com a gente. Como se só houvesse a escolha de nadar ou se afogar. Você sabe que encontrou algo incrível e quer levá-lo consigo para sempre. Um segundo depois de ter aquilo, fica com medo de perder. Essa coisa, essa coisa bonita que todo mundo quer é a dúvida mais gostosa de se ter. Mas moça, você não sabe quantos sorrisos eu dei hoje só por lembrar de você. Pode não saber mas aqui estou eu, caindo de novo pra cima e pode acreditar... Feliz.
Se isso tudo é verdade? Você nunca vai saber. E no fim, eu deixo a luz acesa só para ver você sorrir mas, me conta uma história antes?
E daqui 50 anos alguém ainda vai falar o seu nome. E vou lembrar de quem é. E vou sentir saudade.


2020/08/06

Dia 2488

Se eu fosse escrever uma carta sobre minha vida seria meio um manifesto raivoso, meio uma carta de amor. Passei anos difíceis aprendendo que a vida é boa, embora tenhamos momentos ruins. Momentos durante o dia, a semana, o mês, o ano, sim. E assim como peças de dominó caindo em sequência sem o desenho ter terminado, a vida para mim é aquela vontade de começar um novo desenho colocando a primeira peça novamente de pé.

Hoje é 06 de agosto. Acordei com vontade de transar. De gozar e sentir aquele relaxamento que vai até o dedo do pé. Depois passar um café fresco e apreciar o cheiro do pó desfalecer na água quente. Tomar um banho e de cabelos molhados ir ao mercado, comprar flores novas e coloridas para o vaso da sala. Ficar parado dois minutos a mais no farol só para terminar de cantar o estrofe daquela música do Marrom 5 que fala sobre domingo de manhã.

Colocar a chave sobre a mesa e tirar os sapatos. Pisar descalço sobre o tapete fofo e confortável. Contrair os dedos e ligar a tv para assistir qualquer programa aleatório. Pegar no sono, acordar 9 da noite. Ficar na varanda fazendo amor com a noite. Pensar nela, mas ta chovendo dentro dela, quase que um temporal.

Beije-me. Se você vai partir meu coração, este é um bom começo. Não me dê espaços. Espaços são ruins e tristes. É o vazio que machuca a alma. É o procurar e não achar algo que estava logo ali, como a sensação desesperadora que é não conseguir lembrar de um pensamento recente, ou uma palavra fácil. Já é o fim do dia. O foda é o fim do dia, cara. E aqui estou eu, colocando novamente a primeira peça em pé.

2020/08/01

Dia 2487

As pessoas mais solitárias são as mais amáveis. As mais tristes tem o sorriso mais bonito. As mais sofridas são as mais sábias. Tudo porque elas não desejam que outras pessoas sofram o tanto quanto elas sofreram. E eu? Bem, eu sou aquele cara que escreve sobre pessoas ferradas e hoje é sobre você.
Li por ai que: "Se um poeta se apaixonar por você, você nunca morrerá". Bendita a hora que comecei a te escrever. Era definitivamente a garota mais ferrada que eu já conheci. Mas tinha um gosto especial, uma mistura interessante de rock dos anos 90, filmes dos anos 80 e com uma doçura que nem sabia que existia fora dos livros. Sorria bonito, quantas pessoas você conhece que sorriem assim? 
Tinha um ar de mistério, dançava com a lua e fazia amor com as estrelas. Era livre, mas tinha uma necessidade absurda de se provar. De se importar demais, de se auto sabotar mais ainda. De se confirmar e ser confirmada. Uma ânsia de mudança que não entendia e por fim, era seu próprio quebra cabeça.
E tinha uma tristeza, mas essa tristeza já era de casa. Entrava sem bater, remexia tudo sem pedir permissão e ficava o tempo que bem entendia. Ela estava perdida no paraíso mas sem o coelho de Alice. Conseguia ser a dúvida mais gostosa que eu já tive.
A gente sempre pensa que não vai conseguir, que não vai ser forte o suficiente. Que não vai dar. Que não vai aguentar, que o mundo vai cair e que a gente vai desistir. Tentamos, mas é difícil então tentamos mais um pouquinho. A gente só esquece de ver o quão forte já fomos e se você não enxerga isso agora esta tudo bem. Eu só preciso que saiba que hoje, com dor e todo amor do mundo eu pensei em você. Então escrevi.