2018/02/25

Dia 2424

Temos que respeitar o modo de amar de cada um. Ás vezes olhando pelo buraco da fechadura ficamos vendo o que acontece na vida dos outros e julgamos que é errado ou que absolutamente parece um absurdo tudo aquilo. Mas antes do julgamento devemos nos perguntar: Essa pessoa esta feliz? 
Talvez aquela situação para nós na nossa vida não é cabível, admissível, concreto e dentro do nosso universo ser uma realidade. Pense fora da caixa! Olhamos o outro e em meio ao caos e ao absurdo essa pessoa sorri, esta feliz e não esta reclamando de nada. Na verdade ela tem mais histórias para contar do que uma criança que voltou da escola no seu primeiro dia de aula. Ela se encontra em um estado físico e mental muito bom e notável a todos que convivem com ela. "Você esta bonita hoje", "Você emagreceu" - As mulheres adoram essa. E de modo algum a vê chorando pelos cantos. E o sexo, ah o sexo!
Por outro lado com sorrisos cada vez mais raros e sem poder de contagiar, com impaciência ao invés de brincadeiras e um torturante silêncio onde deveriam existir palavras e palavras, cada vez mais pessoas vivenciam a solidão a dois. São olhares vazios, pensamentos dispersos e uma sensação enorme de “tanto faz”. Na mesa do restaurante, o casal insiste em prestar atenção exclusivamente às telas de seus celulares. Enquanto caminham nenhuma palavra sai de seus lábios, e na despedida um beijo frio. No sexo, por não exigir diálogo, as coisas fluem um pouco melhor. Mas ainda assim é insuficiente. O relacionamento, contudo, é mantido. Talvez por conveniência ou talvez porque essa realidade basta. Existem pessoas que se contentam com o básico e outras que temem a solidão mais do que qualquer outra coisa. Elas não percebem, porém, que estão sozinhas, apesar de terem uma companhia. 
Parece contraditório, mas não é. Soa como se as pessoas, com medo da solidão, resolvessem ficar sozinhas juntas. Assim é formada uma multidão de almas vazias, de corações partidos e mentes desencontradas. Ficam inconformadas por aqueles que dizem que até o céu muda de cor quando estão amando. “Porra, o céu é azul. Sempre foi e sempre será”, concluem. Mas é mentira. O céu é da cor que querem aqueles que não sentem uma solidão esmagadora, estejam acompanhados ou não.
E assim assistimos relacionamentos começando e terminando dia após dia. Não haveria problema nenhum nisso, afinal, nossa existência é efêmera, e somos feitos de dúvidas e erros. O problema é assistir o seu relacionamento começar e acabar e ainda assim não aprender nada de valioso com ele. E sabe por que não? Porque vocês não estavam juntos. Apenas estavam sozinhos no mesmo lugar. Deus me livre de algo assim!
Com o tempo algumas coisas vão perdendo a graça para falar a verdade. Lugares, pessoas, coisas e até sentimentos. Você sabe, eles dizem que uma hora tudo vai acabar. Que as coisas ruins vão passar e que a tristeza vai cessar. Eles dizem que vai tudo ficar bem, que os muros que cairão vão ser reerguidos com novas estruturas mais fortes e resistentes dessa vez. 
Com o tempo amor passa a ser "Eu lavo a louça, arruma o quarto ai" e "cócega não!". Ainda "olha pra mim, eu tô falando" e "eu to carente, você não vai fazer nada?". Também o "estou esperando você largar esse jogo ai e ficar comigo" e "vai tomar banho pra gente ficar junto". "Te trouxe o café" - essa é a melhor. "Toma cuidado, volta rápido pra casa" e "Vou buscar o café da manhã". Aquela de "vou dormir ai hoje?" e "vai me avisando, to saindo de casa agora". "Já deu o biscoito da cachorra?" e "onde a gente vai comer hoje?" também podem ser usados. E os famosos "essa roupa não esta muito curta não?" e "essa roupa não combina". Por fim, "só me abraça".

2018/02/18

Dia 2423

Isso não é sobre você, nunca foi.
Nem sobre as vezes que paramos na fila do supermercado e eu sabia exatamente qual sorvete você olhava dentro do freezer. Nem sobre o nervosismo nos primeiros dias que foi dirigir e não sabia ao certo fazer uma baliza. Ou sobre seu gosto por bandas que tocam música Folk. Por falar em músicas, esses dias tocou na playlist aleatória aquela famosa Snuff enquanto eu estava no farol e nem percebi quando ficou verde até começarem a buzinar pra mim. 
Também não é sobre o fato de você tropeçar na calçada com frequência ou sua risada ser mais alta que a minha quando a piada era realmente engraçada. Ou ainda o fato de você ficar linda sorrindo. E não, definitivamente não, quando acordava com seus cabelos estavam lá no alto. Na verdade isso era engraçado.
Também não tem nada a ver com eu gostar do desenho dos seus lábios quando passa batom vermelho ou o formato dos teus dedos da mão. Ou sobre a sombra do seu corpo nu quando da luz na janela lateral do quarto de dormir vem a lua iluminar aquela cama. 


Mas também entendi que depois me canso, tá tudo bem em ir embora. Já estou um pouco acostumado com isso. Fico olhando toda aquelas trilhas criadas no meio da praça, no meio da grama, é como se uma multidão passasse por lá todos os dias e passasse com pressa, é isso que tenho que entender também. Que as vezes as pessoas passam com pressa e não se pode fazê-las se acalmarem.  É meio perturbador no começo, eu me sinto bastante sozinho ainda, mas a gente passa a se acostumar com isso, assim como nos acostumamos com os barulhos no meio da madrugada ou aos gatos fazendo barulho em cima do telhado. Volte para casa ou para qualquer lugar em que sinta-se bem, não encha a cara, não rebole a bunda, se permita ficar sóbrio e aceitar que algumas pessoas estão com pressa demais para nos esperar ou até mesmo, sei lá, fazer qualquer coisa.
Isso não é sobre você, nunca foi.