2023/09/15

Dia 2523

 

Alguns dias é mais difícil segurar o mar dentro dos olhos. Então transborda. O importante é ter alguém ali que mesmo tentando ser apenas um rio vai tentar segurar essa maré, até restar apenas a brisa. Sorte de quem tem alguém quando vem a próxima onda e sempre tem uma próxima onda.

Passei a vida vendo as pessoas indo embora, apenas eu fiquei. Entendi a partir daí que ficar é um ato de amor. Deixei as pessoas irem porque se não elas não iriam mesmo e ficar sem querer estar é o pior tipo de prisão. Deus me livre de ser a bola com uma corrente para alguém. Eu poderia ter insistido mais, tentado mais, mas seria apenas eu de novo. De novo.

Mas nos olhos certos você sempre será arte. Nos lábios certos seu nome sempre será poesia. Os detalhes são as coisas que mais importam e é também uma das coisas que as pessoas menos cuidam. Uma coisa, uma coisinha por dia faz toda a diferença. Quando você percebe que essas coisas, coisinhas só aparecem quando sobra um tempo, então não te vale mais a atenção. Não te vale mais o carinho e cuidado. Tem que deixar ir.

Quem sabe encontramos uma outra maneira de recomeçar sem sofrer tanto, de sair desse labirinto. A gente olha demais pra quem decidiu ir embora e esquece de olhar pra quem diariamente renova o compromisso de ficar. E aqui estou eu, esperando a próxima onda sozinho.


2023/09/12

Dia 2522

A ponta da caneta secou. Justo no estrofe de mais impacto a bendita da caneta secou. Eu quis rasgar as páginas, jogar o caderno longe ou quebrar a xícara mas eu não fiz nada. Engoli as palavras como a caneta, a seco.

Não quero enlouquecer para poder escrever, eu escrevo para não enlouquecer. Algumas palavras são o veneno e o antídoto. Tudo depende da dose e do tempo. É que ás vezes a overdose não vem como a gente espera. 

Uma alma tão barulhenta quanto a minha e ironicamente, a única capaz de compreender os meus silêncios. Esse é um tempo esquisito, parece que a gente tá se quebrando e se concertando, tudo ao mesmo tempo. 

Comecei a fazer natação faz pouco tempo e descobri que há uma coisa engraçada sobre estar debaixo d'água. Dentro da piscina azul é um silêncio absoluto. Chega a ser constrangedor. Mas, de alguma forma aquieta minha cabeça e só há o barulho da água enquanto olho para aquele azul infinito. Cada mergulho é como se o mundo parasse, o relógio não girasse e por fim uma paz, mas a cada vez que subo de volta é como se todos os barulhos do mundo voltassem simultaneamente me empurrando pra trás. Lá em baixo parece que estou caindo devagar, pra dentro de mim. 

No fim, escrevi sobre minha pele pálida algumas palavras para que quando a caneta secasse a mensagem não apagasse ou ficasse esquecida no meio dos muitos, milhares de pensamentos automáticos que estão sempre aqui. No fim, a gente escreve para não falar sozinho. 

São apenas palavras molhadas na borda da piscina e a gente não sabe se afunda ou se emerge.

2023/09/10

Dia 2521



Esse é um texto curto demais pra ser lido sem um café.

Às vezes falo de você comigo e seus olhos me deixam em dúvida se o céu fica realmente lá em cima. Fico projetando futuros ansiosos nos meus pensamentos onde no fim do mundo somos nós dois.

Dei o primeiro gole na xícara e fiquei  pensando que esse mundo está realmente muito louco, perdido e apressado. 

Dei o segundo gole e lembrei dos dias que acordei tão cedo que ainda era ontem, das vezes que pensei em desistir e não desisti e do céu estar mais azulado na manhã seguinte. Esperança.

No terceiro gole já era hoje, presente. A melodia na rádio, o papel amassado e rabiscado com palavras aleatórias formando uma frase qualquer sobre amor, saudade e pra sempres.

Foi o último gole.

Mas vai sempre existir alguém, em algum lugar, que vai atravessar você com um amor-cometa. Porque o amor encontra um jeito, ele sempre encontra um jeito de te incendiar por completo. 

Senta aí, puxa uma cadeira. Me conta como foi seu dia. Eu conto umas piadas bobas, conto umas moedas e te compro um sorvete. A gente se abraça, se beija. Sorri.

... Curto demais pra ser lido sem um café.

2023/09/07

Dia 2520

 

Eu não sei pedir ajuda. Não porque eu seja uma pessoa orgulhosa e metida. Mas é porque eu aprendi e vivi quase minha vida inteira no modo sobrevivência. E dentro desse modo sobrevivência tem a categoria "incomodar o mínimo possível".

A escada da vida vai ficando cada vez mais alta, fico pensando se realmente desejo estar lá no topo ou me sentar aqui e apreciar a vista. Correr e viver sempre nessa disputa de sei lá o que, por sei lá onde não me atrai mais tanto assim. Parece que reduzi a marcha e estacionei aqui, nesse momento. 

Mesmo sem pedir ajuda, estou aqui tentando organizar tudo, a casa, meus livros, minha cabeça e meu coração. Sozinho. Vejo todo mundo indo, passando por mim, queimando largada e correndo com uma vontade enorme. Mas se eu correr também, não vejo o pôr do sol, não vejo o botão que se esforçou tanto pra nascer em meio ao asfalto cinza, não vejo a pintura do artista na parede ou o poema escrito meio que constrangido no quadro pendurado na loja quase que passando despercebido dizendo "e a música sempre tocava, mesmo quando ela estava triste".

Eu sempre vou ser daqueles que não perde um pôr do sol ou uma pausa pra prosa. E hoje não preciso de ajuda, mas preciso conversar. Fiz café. Acendi um cigarro. Escrevi esse texto. A porta está aberta. 

2023/09/05

Dia 2519

 

Dia 01, 2023. 

Já se passaram treze anos desse diário escrito, reescrito e silenciado. Se fosse começar hoje teríamos outro tom, outros gosto e com certeza seríamos outros personagens. A ótica para contar qualquer coisa seria de qualquer um, menos de mim. É um peso muito grande dissertar um ponto de vista que nem eu mesmo entendo e saber que outras pessoas vão se identificar. Mas, esse é meu mundo e se você está aqui, agora, faz parte dele. 

Romantizador de amores urbanos. O lance de existir em outras vidas que cai bem na música e o café que nunca esfria. Essa é a melodia. 

Um amor infinito que ao dobrar a esquina, acabou. Uma intensidade tão forte e tão frenética que quando veio a calmaria tudo virou desconhecido. Olhar pela janela do arranha céu de São Paulo e imaginar diversas histórias das quais quase todas não irei viver. Risadas que não irei ouvir, lugares que nunca estarei e olhares que não se cruzam. Mas fica bonito quando escrito. 

Talvez eu não consiga abraçar você, beijar você ou sentir você, mas saiba que estou aqui. Se fechar os olhos bem forte, vai saber.

Ame como se o mundo estivesse acabando.

Ele está.