2023/12/28

Dia 2531

Esses dias achei uma foto perdida na galeria do celular, mesmo porque não somos a geração que tem fotos em gavetas. Era uma foto sem rostos, de uma cafeteria simples e aconchegante. Os personagens dessa fotografia estavam escondidos de propósito. Quem tomou a cena foi um guardanapo manchado de batom e uma xícara de café. Era uma foto carregada de lembranças e sentimentos. 

Na estrada, a placa indicava o atalho para memórias que eu já nem recordava mais. Caminhos que eu não posso trilhar de novo. Nostalgias que insistem em reaparecer alimentadas de gatilhos com cheiros de perfume em meio a multidão, lugares que surgem no meu GPS e músicas da minha playlist secreta. As vezes da saudade de ser a pessoa favorita de alguém. De levantar e fazer um café da manhã na cama tentando acertar a quantidade de chocolate no leite e um abraço entre os cobertores. 

Quando te conheci era alguém inteiro, intenso e queria muito algo que não sabia o que era. Acho que éramos duas pessoas cheias, transbordando tanto que acabamos não cabendo mais uma na vida da outra. Uma pena. Mas e se começasse de novo? Eu tenho tanta coisa nova para contar. O que acha de um café?

Foi aí que entendi que não era verdade aquilo que me diziam sobre a saudade, porque parecia que quanto mais o tempo passava, mais eu sentia falta dela. 

Foi aí que eu entendi que não fazia sentido aquela história de superar, aquela velha história de seguir em frente. Adiantaria eu bater de frente com o meu próprio coração? Foi aí que eu entendi que ela estaria sempre ali nos livros, nas canções, no café fresquinho pela manhã ou em um fim de tarde ao admirar o pôr do sol. O tempo pode passar, mas faz questão de não deixar algumas coisas irem embora com ele.

Espero que essas palavras cheias de carinho e saudade te cubram nessa noite difícil de sábado. E mesmo que não pense mais em mim, estou pensando em você. 

É sobre café, amor e saudade.

2023/12/21

Dia 2530

Aí que delícia de voz. Mande um áudio de 5 minutos. Manda foto do café da manhã, se arrumando, fazendo a unha, um nudes meio camuflado e cheio de suspense. Manda a música que está ouvindo no carro... Que delícia de voz, manda um áudio de 5 minutos aí. 

Acabou todas as mulheres do mundo. Ainda consigo enxergar uma mulher bonita na rua ou no restaurante, mas não faz diferença porque ela sempre vai se sobressair. O cheiro dela, droga, o cheiro dela está no meu travesseiro. O foda é que foi muita coisa ao mesmo tempo e a gente se confundiu, se perdeu no meio do caminho. Foi intenso demais. Ninguém sabe o dia de amanhã, a gente pode perder tudo em um instante, uma palavra.

Que sorriso lindo, nem parecia que ia arregaçar com meu coração. Eu gosto do jeito que você fala comigo, eu gosto da atenção que você me da, eu gosto de passar horas e horas conversando com você, é um tempo bem gasto. Gosto da ideia de ter você sempre que precisar, eu gosto de dormir tarde só pra ficar mais um tempinho contigo. E digo hoje, se você se afastar de mim, eu irei sentir sua falta. Muito.

Historias longas em câmera lenta. Não precisamos mais pensar em se recuperar ou colar corações quebrados. Despedidas longas, abraços maiores ainda. Quando for sair não bate a porta não, já está muito bagunçado aqui dentro e o tremor pode causar mais confusão. Evita também deixar a porta entreaberta, o vento que sopra vem com solidão, aperta o passo, sai com jeitinho, vai de fininho, vai doer, e eu espero que desse jeito doa menos.

Ela é capaz de tirar os meus pés do chão e me dar asas para chegar nas alturas. Que esse mesmo amor, seja meu por completo e que, pelo menos uma vez na vida, tenha um desfecho feliz. Já não tenho mais forças pra suportar outro fim e muito menos curar outro coração partido mesmo porque o meu ainda falta um pedaço.

Mas que voz gostosa, me manda um áudio de 5 minutos aí.

2023/12/09

Dia 2529

Cheguei em casa e dei um beijo na minha esposa. Abracei meu filho bem forte e pude sentir os dedinhos pequeninos dele brincando com a gola da minha camisa. Era meu último dia, mas eu não sabia. Eles não sabiam.

Então fui dormir e acordei no dia seguinte. Eu morri mais um dia. Acordei mais um dia. Fiz o mesmo todas as vezes que consegui.

Foi então que escrevi está carta pedindo perdão ao universo por todas as vezes que não pude estar presente. Por cada risada e brincadeira que não fiz, por cada dia ruim que sumi mesmo estando sentado no sofá da sala. Por todas as vezes que troquei uma sessão de cócegas pela tela do celular. Por todas as vezes que o relógio era minha ponte quebrada e me impossibilita de chegar ao outro lado. Por cada refeição que não fiz sentado na mesa e fiquei sabendo de uma nova letra escrita ou uma nova amizade feita.

O carro não funcionou, a bateria acabou, o sinal falhou. Não era culpa de ninguém, foi apenas mais uma pessoa cansada que adormeceu no volante. Um flash de luz, um silêncio, vidro quebrado. Muitas pessoas falando, visão embaçada mas agora não sinto nenhuma dor. Consigo reparar na minha respiração e alguém segura minha mão. São pequenos dedinhos brincando com os meus. Ainda não.

Dei um beijo na minha esposa, abracei meu filho bem forte. Eu morri mais um dia. Acordei mais um dia. Pedi socorro.

Conversem. Conversem sempre sobre tudo, mesmo quando as conversas são difíceis. Porque o silêncio são pedras. E pedras transformam-se em muros. E muros dividem.

2023/11/20

Dia 2528

O que precisamos entender é que alguns amores nunca serão nossos. Eles aparecem na nossa vida para que possamos passar por alguma prova, amadurecer, crescer, evoluir, doer, aceitar e seguir. Isso serve para o outro lado também.

No fim, às vezes fica uma mágoa, um rancor que aos poucos, devagar vai diluindo no tempo e o que resta é uma lembrança confortável dos momentos bons que houveram. Esse espaço entre a dor e o conforto é a felicidade. A saudade bate, espanca e quando a memória insiste em aparecer vem acompanhado sempre daquele sorriso do canto da boca. Esse mesmo! Igual agora.

Dias assim se tornam inalcançáveis. Não adianta tentar reproduzi-los em outros tempos, em outros corpos, os mesmos momentos. Por isso é muito importante estar ali vivendo, sentindo na carne e na alma cada instante. Curar quem poder curar sempre que puder. Se curar também, sempre. 

E o que eu faço com todo esse amor que eu não pude te dar? Silêncio não se pode ler. O importante é ficar quando já ouviu todas as verdades, segredos, erros e partes quebradas da outra pessoa. Isso faz a diferença porque depois de tudo isso se a pessoa ficar, é porque ela te quer com um desejo de criança inocente esperando a vida acontecer com você para ter verdades, criar segredos, acertar e concertar suas partes quebradas. 

Em feridas abertas, até carinho machuca. Eu era incrível pra caralho, vocês tinham que ver o brilho que tinha no meu olhar. Vocês não sabem a tempestade que foi só pra ver esse céu meio azul. Tem dias que a vida é um tapa na cara e um beijo na testa. 

2023/10/31

Dia 2527

Estive pensando em você. Foi um susto, um pequeno esbarrão não calculado entre as memórias empoeiradas. O tipo de lembrança carregada de sentimento que a gente nem fazia ideia que ainda estava guardada aqui. Tocou como um pincel que toca suavemente uma tela trazendo formas, cores e vida a um quadro monocromático. Trouxe ar fresco, renovação, calor e fluidez. Aquele sopro cuidadoso atrás do coração que traz uma sensação de conforto e segurança, como se o minuto durasse pra sempre.

- É um prazer caminhar com você. 

Foi a primeira vez que desejei o caminho mais longo. Somos só um desencontro ou realmente devo ficar? E depois daquele momento as coisas começaram a quebrar mais rápido do que eu podia concertar. Quando vi, o vento levou embora tudo aquilo que tentei prestar atenção em não perder e estava eu, recolhendo o resto dos pedaços que faltava concertar mas não pude. 

Outro dia me perguntaram: Qual a maior loucura de amor que você fez por alguém? Eu respondi: esperar.

Às vezes não precisamos de alguém que nos concerte. Às vezes só precisamos de alguém que nos ame enquanto nós consertamos a nós mesmos.

2023/10/30

Dia 2526

Houve uma noite em que eu quase desisti.

Ninguém escreve músicas sobre o amor ou escrevem bilhetes em papel arrancado e deixam na cabeceira da mesa. Quase ninguém lê a bíblia de verdade, lêem por obrigação. Quase ninguém olha nos olhos. Quase ninguém da passagem.

Quando o telefone era preso por um fio na rua as pessoas eram mais livres. Dois seres ocupados tentando manter contato, dá pra entender. Pode ser perigoso acreditar nas coisas só porque você quer que elas sejam verdadeiras.

Mas houve uma noite em que eu quase desisti.

Sou chato, sou estressado, sou engraçado, sou quieto e às vezes explosivo. Mas quem me tem, tem tudo. E por mais que meu mundo ainda não tenha tanta coisa, ele é todo seu.

Mas houve uma noite em que eu quase desisti. Foi um ataque de ansiedade as 11 da noite. Fiquei eufórico, coração a milhão. Achei que era infarto, mas só tenho 31. É muito jovem. A cabeça não parava, eu não sabia se ligava pra alguém, mas quem? É que ninguém segurou minha mão nessa hora, então eu quase desisti. Mas foi quase.

Me tornei o livro abandonado na estante e embora minha história fosse interessante, ninguém ligava mais. No capítulo 31 teve uma reviravolta, ele se apaixona por ela na cafeteria mas... Era o batom no guardanapo. Uma solidão no bolso. Um amargo na boca.

Mas houve uma noite em que eu quase desisti, foi por pouco.


2023/10/22

Dia 2525

São 5 da manhã. Acordei sem o despertador. Acordei porque os pensamentos eram altos demais, e nenhum deles me fazia bem. Acordei porque parecia um ônibus lotado de gente conversando sobre vários assuntos e mesmo que ninguém estivesse falando comigo, não dava pra eu simplesmente colocar meus fones de ouvido. 

É sempre uma confusão danada, mas precisamos estar bem. A arte de consolar aqueles que estão quebrados pela vida, há pessoas agora nesse exato momento em casa com o coração despedaçado esperando um afago, uma mensagem. E mesmo que do lado daqui esteja um caos, eu estou aqui. Então eu não vou conseguir te dar um abraço, te mandar algo no celular pra quando você acordar ou escrever um bilhete e deixar na sua mesa, mas eu estou aqui, sempre aqui.

A sua casa é limpa e organizada? A minha é, cada coisa em seu lugar e o mínimo sinal de pó na prateleira eu já tomo uma providência. Pessoas que tem a casa organizada tem a mente bagunçada. A gente tenta arrumar do lado de fora o que não conseguimos do lado de dentro. Então te convido pra que sempre quando se sentir pesado e cansado, me faça uma visita. A porta está aberta, aqui tem cheiro de uma estante de livros e café. Tento deixar tudo bem leve da porta pra dentro. Peço apenas que deixe os sapatos e o medo do lado de fora, seja bem vindo. 

Te segurando pela ponta dos dedos, encaminho pra sala de estar e sempre um longo e forte abraço. Seu perfume, seus cabelos no meu rosto, seus bracinhos em volta do meu pescoço. Na minha cabeça e coração tem bastante tristeza, mágoa, solidão, receio, angústia e ansiedade mas para você eu separei o meu melhor abraço e quero que você se sinta seguro. Vou fazer uma piada ou outra sem graça esperando arrancar um sorriso ou uma gargalhada pra trazer um som que vira música nesse lugar e sempre quando todas as outras coisas decidirem sair de dentro de mim, o som da sua risada vai me acalmar aqui. Porque pra mim, nesse momento você é único na Terra. 

Nunca saberemos quando será a última vez. As vezes a partida já aconteceu. Entra, eu fiz café. Chove lá fora e aqui dentro também.

2023/10/01

Dia 2524

Tão discreta, mas puro fogo. De banho tomado e calcinha de renda. Com um perfume que é da pele dela e olhos cheios de desejo. Escrevendo no corpo um do outro o roteiro de um filme de amor censurado. Os olhos se beijam primeiro, sempre.

Todo dia de manhã eu vejo o nascer do sol em um copo de café e em você. Tem olhos de calmaria, cheiro de terra molhada e conforto em noites de chuva, abrigo perfeito. É que minha poesia meu bem, já é escrita nua.

Gosto de sentir seus olhos em mim enquanto eu desvio o olhar. Eu amo demais seus olhos para olhar com amor nos olhos de outra pessoa. Entende isso?  Enfim, eu sou todo seu. Rendido, completamente rendido e entregue, assim mesmo, sem resistência. 

Mas eu tenho uma urgência de calor, de pele na pele e dentes rangendo. De um esforço adicional para chegar a mais um ápice que nem sequer eu ou você sabia que poderíamos chegar. Uma necessidade grande desse rebate do corpo se afastando e se encontrando de novo e nesse vai e vem forte e sincronizado, a calmaria depois.

Eu queria dizer tanta coisa agora, mas minha boca está ocupada demais te beijando como se fosse a última vez. Eu queria te olhar tanto nesse momento, mas meus olhos estão fechados e contraídos sentindo sua respiração ofegante no meu ouvido. 

Um amor bom demais para ser vivido rapidamente. 


2023/09/15

Dia 2523

 

Alguns dias é mais difícil segurar o mar dentro dos olhos. Então transborda. O importante é ter alguém ali que mesmo tentando ser apenas um rio vai tentar segurar essa maré, até restar apenas a brisa. Sorte de quem tem alguém quando vem a próxima onda e sempre tem uma próxima onda.

Passei a vida vendo as pessoas indo embora, apenas eu fiquei. Entendi a partir daí que ficar é um ato de amor. Deixei as pessoas irem porque se não elas não iriam mesmo e ficar sem querer estar é o pior tipo de prisão. Deus me livre de ser a bola com uma corrente para alguém. Eu poderia ter insistido mais, tentado mais, mas seria apenas eu de novo. De novo.

Mas nos olhos certos você sempre será arte. Nos lábios certos seu nome sempre será poesia. Os detalhes são as coisas que mais importam e é também uma das coisas que as pessoas menos cuidam. Uma coisa, uma coisinha por dia faz toda a diferença. Quando você percebe que essas coisas, coisinhas só aparecem quando sobra um tempo, então não te vale mais a atenção. Não te vale mais o carinho e cuidado. Tem que deixar ir.

Quem sabe encontramos uma outra maneira de recomeçar sem sofrer tanto, de sair desse labirinto. A gente olha demais pra quem decidiu ir embora e esquece de olhar pra quem diariamente renova o compromisso de ficar. E aqui estou eu, esperando a próxima onda sozinho.


2023/09/12

Dia 2522

A ponta da caneta secou. Justo no estrofe de mais impacto a bendita da caneta secou. Eu quis rasgar as páginas, jogar o caderno longe ou quebrar a xícara mas eu não fiz nada. Engoli as palavras como a caneta, a seco.

Não quero enlouquecer para poder escrever, eu escrevo para não enlouquecer. Algumas palavras são o veneno e o antídoto. Tudo depende da dose e do tempo. É que ás vezes a overdose não vem como a gente espera. 

Uma alma tão barulhenta quanto a minha e ironicamente, a única capaz de compreender os meus silêncios. Esse é um tempo esquisito, parece que a gente tá se quebrando e se concertando, tudo ao mesmo tempo. 

Comecei a fazer natação faz pouco tempo e descobri que há uma coisa engraçada sobre estar debaixo d'água. Dentro da piscina azul é um silêncio absoluto. Chega a ser constrangedor. Mas, de alguma forma aquieta minha cabeça e só há o barulho da água enquanto olho para aquele azul infinito. Cada mergulho é como se o mundo parasse, o relógio não girasse e por fim uma paz, mas a cada vez que subo de volta é como se todos os barulhos do mundo voltassem simultaneamente me empurrando pra trás. Lá em baixo parece que estou caindo devagar, pra dentro de mim. 

No fim, escrevi sobre minha pele pálida algumas palavras para que quando a caneta secasse a mensagem não apagasse ou ficasse esquecida no meio dos muitos, milhares de pensamentos automáticos que estão sempre aqui. No fim, a gente escreve para não falar sozinho. 

São apenas palavras molhadas na borda da piscina e a gente não sabe se afunda ou se emerge.

2023/09/10

Dia 2521



Esse é um texto curto demais pra ser lido sem um café.

Às vezes falo de você comigo e seus olhos me deixam em dúvida se o céu fica realmente lá em cima. Fico projetando futuros ansiosos nos meus pensamentos onde no fim do mundo somos nós dois.

Dei o primeiro gole na xícara e fiquei  pensando que esse mundo está realmente muito louco, perdido e apressado. 

Dei o segundo gole e lembrei dos dias que acordei tão cedo que ainda era ontem, das vezes que pensei em desistir e não desisti e do céu estar mais azulado na manhã seguinte. Esperança.

No terceiro gole já era hoje, presente. A melodia na rádio, o papel amassado e rabiscado com palavras aleatórias formando uma frase qualquer sobre amor, saudade e pra sempres.

Foi o último gole.

Mas vai sempre existir alguém, em algum lugar, que vai atravessar você com um amor-cometa. Porque o amor encontra um jeito, ele sempre encontra um jeito de te incendiar por completo. 

Senta aí, puxa uma cadeira. Me conta como foi seu dia. Eu conto umas piadas bobas, conto umas moedas e te compro um sorvete. A gente se abraça, se beija. Sorri.

... Curto demais pra ser lido sem um café.

2023/09/07

Dia 2520

 

Eu não sei pedir ajuda. Não porque eu seja uma pessoa orgulhosa e metida. Mas é porque eu aprendi e vivi quase minha vida inteira no modo sobrevivência. E dentro desse modo sobrevivência tem a categoria "incomodar o mínimo possível".

A escada da vida vai ficando cada vez mais alta, fico pensando se realmente desejo estar lá no topo ou me sentar aqui e apreciar a vista. Correr e viver sempre nessa disputa de sei lá o que, por sei lá onde não me atrai mais tanto assim. Parece que reduzi a marcha e estacionei aqui, nesse momento. 

Mesmo sem pedir ajuda, estou aqui tentando organizar tudo, a casa, meus livros, minha cabeça e meu coração. Sozinho. Vejo todo mundo indo, passando por mim, queimando largada e correndo com uma vontade enorme. Mas se eu correr também, não vejo o pôr do sol, não vejo o botão que se esforçou tanto pra nascer em meio ao asfalto cinza, não vejo a pintura do artista na parede ou o poema escrito meio que constrangido no quadro pendurado na loja quase que passando despercebido dizendo "e a música sempre tocava, mesmo quando ela estava triste".

Eu sempre vou ser daqueles que não perde um pôr do sol ou uma pausa pra prosa. E hoje não preciso de ajuda, mas preciso conversar. Fiz café. Acendi um cigarro. Escrevi esse texto. A porta está aberta. 

2023/09/05

Dia 2519

 

Dia 01, 2023. 

Já se passaram treze anos desse diário escrito, reescrito e silenciado. Se fosse começar hoje teríamos outro tom, outros gosto e com certeza seríamos outros personagens. A ótica para contar qualquer coisa seria de qualquer um, menos de mim. É um peso muito grande dissertar um ponto de vista que nem eu mesmo entendo e saber que outras pessoas vão se identificar. Mas, esse é meu mundo e se você está aqui, agora, faz parte dele. 

Romantizador de amores urbanos. O lance de existir em outras vidas que cai bem na música e o café que nunca esfria. Essa é a melodia. 

Um amor infinito que ao dobrar a esquina, acabou. Uma intensidade tão forte e tão frenética que quando veio a calmaria tudo virou desconhecido. Olhar pela janela do arranha céu de São Paulo e imaginar diversas histórias das quais quase todas não irei viver. Risadas que não irei ouvir, lugares que nunca estarei e olhares que não se cruzam. Mas fica bonito quando escrito. 

Talvez eu não consiga abraçar você, beijar você ou sentir você, mas saiba que estou aqui. Se fechar os olhos bem forte, vai saber.

Ame como se o mundo estivesse acabando.

Ele está.

2023/08/20

Dia 2518

O telefone desligado sob a mesa ao centro da sala, ao lado do vaso de flores que comprei no sábado de manhã. Roxas, brancas, rosadas, azuis e flores do campo. As chaves do carro, um ticket de estacionamento e um relógio de pulseira preta já um pouco desgastado. Um recibo e uma xícara de café da noite anterior. Um livro começado com mais da metade já lido e a última página lida dizia "em que pese os sentimentos, abraçar depois do sexo ainda era a melhor sensação".

Te encontrar no anoitecer, era a melhor parte do meu dia. Mas você não sentia aquele momento na mesma intensidade que eu. Eu sabia, qualquer afeto me afetará, então segui. Quem nunca se apaixonou por um par de olhos castanhos? Quem nunca achou que aquele momento era para sempre e o pra sempre acabou na tarde seguinte, sem explicação ou bilhete de despedida?

Algumas coisas estão acabando com o tempo e as pessoas não reparam mais no barulho da chuva ou no cheiro dos livros. As flores no mercado ficam murchas e morrem. Ninguém mais as leva para casa. Aliás, os amores estão morrendo nas prateleiras mesmo. Ninguém os leva para casa também. Tudo esta tão frágil, leve e passageiro. 

Eu não parei de comprar flores, de fazer o café ou de escrever os bilhetes. Eu ainda ouço o barulho da chuva e cheiro os livros na prateleira. Eu acordo toda manhã planejando conquistar o mundo, o meu e meu mundo tem um par de olhos castanhos.

2023/08/13

Dia 2517

Erre. Erre muito. Erre pra caralho mas quando decidir começar a fazer tudo certo não pare. De jeito nenhum! Siga dali em diante o caminho mais certo que conseguir e tente não errar nem com você nem com os outros. Amadureça. Quando somos jovens, magoamos muitas pessoas. Mas depois que amadurecemos a juventude não é mais uma desculpa. 

Pessoas boas deixam de ser pessoas boas porque foram magoadas e algumas vezes querem retribuir isso pro universo. Por isso, temos tantas pessoas machucadas machucando outras pessoas. E vira um ciclo eterno de pessoas machucando outras pessoas.

Eu certamente já fui o responsável de machucados pelo caminho. Muitos deles em algumas pessoas. Mas não era o meu tempo certo e as pessoas saíram machucadas pela minha falta de maturidade. Eu amava demais de maneira descontrolada e sem direção. 

Corações quebrados, emoções camufladas, sentimentos banidos. Existe amor em SP, Criolo? 

Acredito humildemente que depois que a gente amadurece e o coração se acalma, paramos de amar de forma desenfreada. O amor fica em uma linha reta e é nesse momento que o amor da sua vida acontece. Não é uma questão de querer, mas sim, de tempo. Você encontra outro coração machucado e amadurecido que decide se consertar. Tem que ter a consciência de que vai demorar. E o amor é isso, tempo.

Quanto tempo você tem hoje? Amor é a fragilidade da inconstância. E de novo, quanto tempo você tem hoje? Não negar abraços, sorrisos e beijos. Que não nos falte tempo para mostrar que estou aqui. Hoje.

2023/07/15

Dia 2516

Ontem notei que o mundo mudou muito, que a vida mudou bastante e eu? Eu fiquei para trás, não mudei nem o corte de cabelo quanto mais os valores e ideais. Então, decidi mudar começando pela casa, a barba, a escrita e o acústico do meu coração. Agora ele bate em um novo som, apaixonado. 

A mudança foi drástica, repentina e assustadora. Agora não sei lidar com a quantidade de novidade que aconteceu desde a hora que acordei. Parece que já vivi três vidas em algumas horas. Mas espera, não era assim antes? Droga, nada mudou e foi a cabeça que não parou. A cabeça nunca para então preciso sorrir em meio aos prantos. Chorar ao me ver sorrir no espelho. Andar em meio aos cem passos e sonhar antes de dormir.

Essa semana morri de novo. Dormi, acordei, sonhei de novo. Morri mais um milhão de vezes. É sempre muito, é sempre intenso demais. Tudo aqui é grande desde o amor, a saudade e a tristeza também. Braços abertos esperando abraço. Beijos soltos no ar esperando chegar do outro lado. Cartas enviadas dentro de garrafas esperando um destino desconhecido. Mas calma, amor. Um dia, pequena, tudo vai fazer sentido. Por enquanto, sorria no meio da confusão. 

2023/07/13

Dia 2515

Todos nossos poetas morreram. Somos os novos autores desses detalhes, detalhezinhos que ninguém mais repara. O desenho da folha no chão, o ar quente saindo da xícara num dia frio, a frase grifada no meio da página no meio do livro e no meio da história para que o próximo que ler enfatize aquele trecho tão importante para você. Que o próximo que ler sua história de tanta importância, queira escrever o próxima capítulo. Que te leia do início ao fim. Que mesmo que não entenda toda a história, entenda o suficiente para te guardar como a história mais importante.

Desejo também que leiam-te como braile, passando a ponta dos dedos em cada parte do teu corpo, tentando decifrar a mensagem explícita mas também escondida em cada pedacinho. Assim, devagar e com atenção como merece cada centímetro dos teus desejos mais pervertidos e cheios de vontade de que entendam sem que precise falar uma palavra sequer. 

2023/07/11

Dia 2514

Mesmo depois de tanto tempo, você ainda é um ponto sensível para mim. É só alguém falar seu nome e vem um bocado de lembranças, sensações, sentimentos, cheiros, timbres e sei lá mais o que. A mente fica exposta, vulnerável demais. O coração fica frágil e a cicatriz não sabe se fica aberta ou se cura. 

Poderia alguém se apaixonar por um corpo? Não no sentido machista, mas sim no apaixonado. Porque eu sim, me apaixonei por cada curva daquela mulher. Mas que sorte a minha ainda ter. Poderia alguém se apaixonar por uma ideia? Não no sentido de posse, mas sim no mágico. Porque sim, aquelas ideias nos levaram a outros lugares, outros patamares. Que sorte a minha!

Tomei coragem e marquei com ela pra ver o pôr do sol, e quando chegamos lá, o sol parou pra ver a gente.

No fim, a gente merece alguém que nos enxergue como algo importante demais para perder.


2023/04/30

Dia 2513


Gosto de vinho mas não sou nenhum sommelier, não sei escolher. Mas eu trouxe. Trouxe pizza também, da mais simples. Senta aqui, tem a lua e toca Caetano no rádio. "Toca Lisbela" - eu digo, porque é a música de Lisbela e o Prisioneiro. Senti falta dessa simplicidade, de um vento que balança o cabelo e de um sorriso no canto da boca que abre uma covinha na bochecha e eu me afundo nesse abismo.

É um sentimento incontrolável, parece que passamos o dia esperando acabar mas acabar o que? A sensação de estar na selva sempre a espreita dessa fera. Mas cadê essa fera que nunca aparece pra eu decidir se enfrento ou se corro? Essa luta eu nunca enfrento porque ela nunca começa, é isso.

"E nesse desespero em que me vejo" - cantamos juntos. Obrigado, Caetano. Uma lágrima escorre, um coração aperta e uma saudade espanca. É a sensação do primeiro e último abraço que nunca aconteceu. Do lábio que nunca senti o gosto. Do corpo que nunca senti quente. Nunca, é tipo pra sempre só que ao contrário. 

Mas senta aqui, tem vinho, tem a lua, tem nós dois. Pra sempre, um minuto.

2023/04/23

Dia 2512


Cheguei na metade do caminho. Bem, nos dias de hoje 30 anos é a metade do caminho. Não estamos chegando muito longe. Guerra, doenças, a economia. Sobretudo, a rotina. Ela me consome demais, como se já não bastasse todo o resto. Eu costumava ler livros em uma semana, hoje mal lembro o título do último que li quanto mais quando isso aconteceu. Era obcecado em escrever. Eu ria um bocado, sorria um montão. Eu rezava mais, cantava mais a música da rádio. Quando foi que as coisas começaram a mudar de caminho? Em que parte dessa história eu me perdi?

Estou dobrando a esquina da saudade, dando um olá para as lembranças e do nada abraço aquela memória que estava guardada em uma caixinha especial, embrulhada com carinho em um papel de presente bonito e um laço desajeitado. Você sabe, nunca fui bom com essas coisas. Mas eu senti, como se fosse algo palpável na palma da minha mão sendo pressionada sobre meus dedos e fazendo um aconchego no meu coração. Eu senti sua falta, sim.

As pessoas hoje vivem a base de ansiolíticos, terapia e tentando algo por elas mesmas e eu entendo. É normal. Mas em que parte dessa história a gente se encontra e é feliz? Quando vamos tomar um café pra eu pegar na sua mão e dizer que vai ficar tudo bem? Pra eu rir do seu batom na xícara branca como se acabasse de me dar um beijo. Quando é que vamos parar de complicar tudo e ser simples?

Ainda quero aprender a tocar violão, andar a cavalo, subir outra montanha e ficar de braços abertos como se eu estivesse vencido na vida, ao menos naquele dia. Estou cansado de me sentir cansado. Ainda estou aqui, esperando sei lá o que, sei lá onde. 

Ainda estou aqui virando uma esquina ou duas e quem sabe em qualquer uma dessas a gente se encontre por aí. Quem sabe já tenhamos todas as resposta do que hoje são nossas dúvidas. Quem sabe toque "when you're gone" do The Cranberries no radio e eu te ofereça uma carona e você não precise ir embora. Quem sabe?!

2023/04/21

Dia 2511

 

Eu gosto de beber café sozinho e ler sozinho. Gosto de andar de ônibus sozinho e ir andando de volta para casa sozinho. Isso me dá tempo para pensar e definir coisas na minha mente livre. Eu gosto de comer sozinho e ouvir música sozinho. Gosto de escrever, dançar e rir sozinho.

Mas quando eu vejo uma mãe com seu filho, uma garota com seu amante ou um amigo rir com seu melhor amigo, percebo que mesmo que eu goste de estar sozinho não gosto de ser sozinho.

Solidão mata um pouco por dia, um por dia. Não nascemos para sermos sós. O plural é mágico, puro e especial. O barulho de duas risadas sempre vai vencer o silêncio, não tem por onde. O calor do coração aquecido por outro coração dentro de um abraço me rejuvenesce vinte e tantos anos. O andar de mãos dadas me faz até esquecer os problemas. 

Mas se um dia eu não souber ser sozinho, seja meu par. Se um dia eu não estiver te fazendo rir então sou eu que precisa de uma piada. Se um dia eu não estiver aquecendo seu coração, saiba que é o meu que anda precisando de calor. E se algum dia eu não te der a mão, por favor, não solte a minha. 

Fiz um café, coloquei duas xícaras. 

2023/04/08

Dia 2510




Arrastei alguns móveis, encaixotei algumas memórias e coloquei água na chaleira pra passar um café fresquinho. Então, se eu te pedir você fica?
Chorei algumas noites, sorri algumas manhãs e ambos sem motivo ou razão. Apenas saiu, que alívio. Menti dizendo que estava tudo bem quando o mundo desabava aqui dentro e menti dizendo que estava tudo ruim apenas pra sentir um afago. Tudo isso é verdade e de propósito. Então, se eu te pedir você fica?
Comprei quadros, enfeites, plantas, livros, tapetes e um jogo novo de jantar. Varri algumas mágoas para debaixo do sofá e joguei fora alguns ressentimentos. Coloquei meu coração no freezer e alguns sentimentos estão no pote de balas da sala. Então, se eu te pedir você fica?
Tomei um banho quente, vesti minha melhor roupa, passei meu melhor perfume. Mudei três vezes de penteado. Fiquei nervoso, bati os pés sem parar. Estalar os dedos mais de uma vez e tirei as pilhas do relógio. Então, se eu te pedir você fica?
Respirei fundo, escrevi esse refrão. Olhei pela janela e a chuva batia no vidro, cada gota fazendo um desenho. As árvores dançavam com o vento lá fora. Meu bem, você vem?
Um beijo destrói toda a filosofia.



2023/03/24

Dia 2509

Hoje me apaixonei durante um sonho lindo. Nada de planos do futuro, coisas grandes, horizontes distantes. Era simples, ela existia e estava ali. Era isso e isso bastava. Me senti apaixonado e acordei feliz. Só acordei feliz. 

Mas acordei sozinho. Não havia ninguém, meu travesseiro não tinha o cheiro de ninguém. Minha casa não tinha o som de ninguém batendo os pratos tentando fazer um café da manhã desajustado. Meu banheiro tinha apenas uma escova de dente. Na sala, apenas meu par de botas batidas e no som do carro só minha playlist repetida. No meu guarda roupa, só meu jeans rasgado. A cama parecia grande demais. A casa silenciosa demais. A cabeça espaçosa demais e o coração pequeno. Pequenininho demais.



2023/02/21

Dia 2508

As pessoas estão sempre buscando algo maior, melhor. Algo que as desafie a dar mais um passo. Eu, por outro lado só estou sentado aqui, fumando um cigarro e tentando ter um momento de paz. Assim, sozinho mesmo. Já disputo tantos desafios comigo mesmo que cansei de querer competir com o resto do mundo.

Rir como criança, ouvir canto de passarinho, sarar de resfriado, escrever um poema de amor que nunca será rasgado. Um café fresco, um abraço apertado, uma música favorita no carro com uma companhia gostosa. Encontrar aquele doce favorito na prateleira de uma loja aleatória, uma moeda no chão e um verso na parede da rua. 

Quero uma cabeça leve e um coração cheio, sem essa turbulência do mundo de querer o próprio mundo e acabar sem ter nada e acabar de mãos vazias. O grande mau de hoje é que tudo dura tempo suficiente para ser esquecido rapidamente. Substituído depressa demais, não há tempo para luta e as vezes a mesma luta nem começa e já estamos em outra. O grande problema dessa geração é que quando algo quebra ninguém concerta. Eu sou da época que quando algo quebrava a gente concertava e não jogava fora. Isso era para tudo, copos, aparelhos, brinquedos e pessoas. 

As pessoas que passaram pela minha vida com certeza deixaram uma marca em mim - boas ou não - e eu espero ter deixado uma marca boa nelas também. Garanto que tentei concertar algo naquele tempo mas as vezes era eu que precisava de concerto e por isso parti. Naquela fração da linha da vida foi eternizado um momento, um sorriso, um olhar. Isso valeu. A gente aceita e segue em frente e se ficou algo para trás, hoje faz companhia para a saudade. Uma saudade boa, gostosa, daquelas que faz a gente se sentir bobo.

Se eu quebro você cola, se você quebra eu espero mas se precisar eu concerto. Se quebrar de novo eu fico. Se nada der certo eu te ouço, te abraço e fico aqui. Eu continuo aqui.

2023/01/06

Dia 2507

Deitei devagar, com meus fones de ouvido tocando um velho rock dos anos 90 onde a letra falava sobre um amor intenso. Abri os olhos e foi como se eu estivesse caindo, caindo pra cima. Como se eu pudesse me ver lá do alto. 

Eu deveria estar me preocupando menos, me apaixonando e aprendendo a tocar aquele violão. Deveria estar bebendo na mesa do bar ou na calçada em frente de casa. Eu deveria estar abrindo as portas que fechei anos atrás. 

Preciso de um beijo, de um abraço, de um refrão de Los Hermanos em Ana Júlia gritando dentro do carro com o som no máximo. Preciso de uma prece, uma oração. Preciso de um café, primeiro de tudo, um café. 

Esse é um pequeno bilhete de socorro de mim para mim mesmo tentando desesperadamente me encontrar nessas linhas novamente. 

A caneta caiu, o café esfriou e a música parou. Ainda pressiono suas cartas em meus lábios mas não lembro o som da sua voz. Então volto a deitar e ouvir aquele velho rock dos anos 90 e as lembranças são como ondas batendo sobre as pedras. Uma a uma batem forte e se quebram. Mas no fim, eu fecho meus olhos e finjo que ainda estou lá. Ainda estou lá, caindo pra cima.