2016/11/24

Dia 2338

Tem um delicioso aroma no ar. É tipo uma fragrância de flores mas tem um toque de pele de mulher depois do banho. É gostoso sentir. Esse aroma desperta a imaginação mas não precisa de muito. Logo ela aparece e da o ar da graça. Aquele batom marcando o desenho do lábio mas nada forte. O básico do básico na maquiagem. Aqueles pezinhos 34 virando os dedinhos encabulados encostada na beirada da porta usando minha camisa branca. As mangas dobradas e as unhas pintadas de vermelho... Qual era mesmo o nome engraçado que tinha no frasco? Não consigo me lembrar. 
Acho que ela escovou os cabelos. Ou não, ela fez aquele negócio que eu gosto. Não sei o que é mas falo que esta bonito sempre que ela faz. Ela sorri pra mim da porta. Sorri grandão. Como se apenas eu ganhasse aquele sorriso, exatamente daquele jeito. Faz graça, sobe a camisa na coxa. Da risada. O som da risada dela invade o quarto, me sinto em casa. É como se nada de mal pudesse acontecer a nós dois ali. Por alguns instantes, fui feliz de novo. Ela faz mais graça e coloca o dedo na boca. Nem ela se aguenta e da mais risada.
Teve uma hora que ficamos sérios sem falar nada. Eu estava gravando aquela cena. Sabe? Aquele filminho de memória que às vezes revemos? Então, essa é mais uma cena. 
Da dois passos para frente e para. Estica o pé direito para frente como se fosse bailarina depois arrasta ele para trás do pé esquerdo. Como se aquele pezinho descalço estivesse com vergonha e fosse se esconder. Eu fico apenas olhando. Devo estar com aquele sorriso bobo na cara. Com certeza estou. Eu sempre fico. O aroma vem dela, é da pele dela. Acho que é mais um daqueles cremes, ela tem uma coleção. Mas também tem cheiro do pós-banho. Ela sabe que eu gosto. E vem andando um passinho de cada vez. Aquela pele meio bronzeada que ela tem de natureza, se aproximando um-passo-de-cada-vez. Quando chega perto demais da vontade de agarra-la mas eu não faço. 
Ela pega minha mão e da um beijo. Fica me olhando olho no olho como se quisesse me dizer algo. Mas ela não diz, ela nunca diz. Não pronuncia uma palavra mas diz tudo que eu preciso saber.


2016/11/22

Dia 2337

Chegou uma hora da minha vida que olhei para o lado e vi alguém que não fosse embora. No começo ela que disse que queria ficar, que queria ficar de verdade assim... Tipo, pra sempre. Eu liguei pra ela no meio da noite, ela desligou. Ligou de volta. Foram segredos ás 2 da manhã. Particularmente eu tenho uma preferência pela madrugada. Ela é encantadora e sexy, as pessoas ficam mais desinibidas para conversar. Lembra? No começo... Você tinha apenas duas horas pra dormir porque ia trabalhar no dia seguinte e antes disso fiquei sabendo de segredos, confissões, sonhos e outras coisas. Foi ali que comecei a perceber que você era diferente. 
Com o tempo fui descobrindo outras coisas como o jeito certo de dobrar a toalha de banho por exemplo. Que um cinto não é apenas um cinto, ele serve pra quebrar as cores da roupa - mesmo eu não ligando direito pra querer quebrar cor de nada porque sempre usei preto e branco e pra mim estava certo. Ah é, descobri que cabelo se corta e barba se apara. Descobri que assim como meus desenhos no papel, muita informação na sala de estar fica feio. Então nada de colocar aqueles enfeites na estante, já temos nossos livros ou aqueles quadros na parede. E descobri o gosto do melhor estrogonofe do mundo.
Passou mais o tempo e fui vendo coisas que antes não via. Como o jeito que ela se maquia que parece que esta pintando um quadro de Da Vinci. O jeito que os pés pequenos se esticam para alcançar algo alto. E até o jeito dela explicar algo que eu já sei, mas deixo ela falar porque adoro ouvi a voz dela. Ou o jeito que as mãozinhas dela se entrelaçam nas minhas.
É claro que não poderia faltar a linda covinha na bochecha que ela tem. Ou quando ela sorri grandão. E até quando eu chego para beija-la cheio de carinho, passando minha mão no rosto dela e indo com meus dedos até a nuca beijando devagarinho enquanto ela fecha os olhos em câmera lenta aceitando e confiando em mim. Ela, essa garota que anda com passos para dentro... Não era pra falar dela, mas acabei falando um montão.
Ela é meu par para ver o fim do mundo e se eu não pedisse pra ela ficar para sempre, iria me arrepender cada segundo. Por isso, se eu pedir, mas pedir com jeitinho... Você fica?


2016/11/18

Dia 2336

Ela acordou chata hoje. Fez manha, não queria levantar. Fui brincar e logo recebi um corte. Fui dar um beijo nela antes de sair pra trabalhar e ela virou o rosto. E o pior, eu não tinha feito nada. Queria revidar isso, queria não mandar mensagem pra saber se ela chegou bem no trabalho. Se ela conseguiu tomar o café da manhã. Se ela pegou chuva, estava nublado hoje cedo. Mas sou meio bobo, não consigo revidar essas coisas. Só não queria pensar em ter que revidar alguma coisa. Prefiro mais quando vou buscá-la em qualquer lugar e ela passa pela porta sorrindo. Quando ela faz isso eu me sinto um pouco importante. Como se ela gostasse de me ver ali. Toda vez que ela sorri eu tenho vontade de beija-la.
Ás vezes quando estou sozinho fico pensando nas coisas. Em como tudo aconteceu. Foi tipo "Tinha um amor no meio do caminho. No meio do caminho tinha um amor." e ai a gente acabou se cruzando na linha da vida. Eu tenho orgulho de como as coisas vieram a se desenrolar á partir dai. Tem dias bons, tem dias ruins. Tem dias parados. Tem dias agitados. Tem dias normais. Tem dias incríveis também e esses... Ah, esses não caberiam nessas linhas. Esses dias são nossos. Só nossos. 
Quando alguém entra em nossa vida, aceitar as qualidades do outro é tão fácil. Mas com a convivência diária, com o passar dos dias e do tempo, das crises, somente descobrimos o verdadeiro sentindo do amor quando a gente aceita o lado ruim do outro e aprendemos a conviver com cada defeito. Não estou dizendo que é fácil. Não é. Estou dizendo que se você continuar lutando vale a pena. 
Se eu contasse minha rotina pra alguém, contasse literalmente tudo sem deixar passar nenhum detalhe... Provavelmente falariam pra eu cair fora. Que sou novo demais pra passar por certas coisas. Ou qualquer blá blá blá desse. Falariam isso porque estão fora observando e ouvindo. Ninguém esta vivendo como eu. Ninguém sente o que eu sinto. Ninguém encara as coisas como eu encaro. Por isso eu fico. Ficar é um ato de amor e carinho.
Eu não acordo de mal humor, quase sempre estou em paz com o universo. Hoje em dia precisa de muito pra me deixar realmente irritado. Tive que aprender com o passar dos meses a ficar mais na minha e não querer saber tanto das coisas nas horas que elas acontecem. Na verdade, tive que aprender muitas coisas nos últimos meses. Ainda tenho muito a aprender e talvez tenha alguma coisa a ensinar também. Quem sabe? 
As pessoas ouvem ela rindo lá no fundo. Todo mundo sabe que eu não quero fazer mal a ela. O que antes era silêncio naquela casa foi tomado por barulhos de risada, gargalhada, voz de bichinho da televisão e até músicas cantadas erradas - isso é por minha conta. Então, se alguém me perguntasse porque eu fico, a resposta seria bem simples: Porque eu adoro vê-la sorrindo.

2016/11/17

Dia 2335

Ela acaba de levantar, ainda lembra do dia anterior. Tão confuso e tão claro quanto a luz do sol que entra pela janela. Ontem ela andava pela calçada como sempre faz aos domingos, era de manhã, dia ensolarado, caminhou por 40 minutos e fez uma pausa sentando-se em um banco que ficara em frente a um lago. A cena mais linda, céu azul e limpo e o reflexo do sol nas águas daquele lago que parecia maior do que realmente era.
Permanecendo por um tempo ela se manteve ali, enquanto isso olhava as pessoas ao redor caminhando sozinhas, acompanhadas e com seus cães, o garotinho que estava aprendendo a andar de bicicleta junto com seu pai, o casal sentado na grama rindo, onde era possível sentir todo o clima de felicidade e amor dos dois, pessoas vendendo água, sorvetes entre outros aperitivos que costumam vender em parques cotidianamente. De repente, ao seu lado, sentou um belo rapaz. Seu cabelo estava bagunçado, camiseta suada na gola, usava tênis e bermuda. Era possível ouvir a respiração ofegante de uma possível corrida. Ficaram ali sentados olhando tudo ao redor, mudos por uns 10 minutos....
Quando ele inicia a conversa descrevendo à sua maneira de enxergar o cenário a frente, ela ouve ainda sem entender o porquê de um desconhecido começar uma conversa assim do nada. Ele se apresenta e ela também, e começam a conversar sobre seus pontos de vista. Passa 20, 30, 40 minutos que viram 2, 3, 5 horas, e quando perceberam já estava admirando o pôr do sol.


A sensação de estarmos com pessoas que ao mesmo tempo são desconhecidas e com a mesma impressão que conhecemos a vida toda são indiscerníveis. Eles pelo contrário depois daquela manhã mantiveram isso por muito tempo, tempo esse que ainda não acabou e poderá ainda ter continuação nessas linhas, mas a conversa teve outros cenários e muitos outros momentos compartilhados.
Porque coisas que nos fazem sentir a vivacidade nos pequenos detalhes merecem ser compartilhadas, divididas para que muitos estranhos conheçam a pessoa que senta ao seu lado, ou que percebam que o que tanto procuram pode estar do outro lado escrevendo, admirando ou desejando o mesmo.... O maravilhoso acaso.



2016/11/13

Dia 2334

Concluir menos e aprender mais, esse tem sido meu lema. É verdade que existe uma ânsia de entender cada coisa, mas o que não se percebe é que quando definimos algo excluímos outras possibilidades de compreender o mundo e nós mesmos. Nada é apenas de um jeito e de uma forma específica. Há uma multidão de olhares que se cruzam e se afetam. Ter mais calma com a vida, com o mundo e com as pessoas, observar mais e absorver mais. Nada como ter duas ou três opções de escolha para dar o próximo passo. E foi ai, nesse espaço de tempo que comecei a aprender algumas coisas. Demorei quase 25 anos para aprender as coisas principais que me fariam seguir adiante para o resto da minha vida. 
Bom, aos 25 anos eu aprendi que não da pra confiar em todo mundo e que algumas pessoas gostam mesmo de ver o circo pegar fogo. Aprendi que tenho que ter paciência com as pessoas que gosto e que não necessariamente preciso amar tudo nelas para continuar amando-as. Aprendi que ás vezes em uma hora especifica a minha dor não é tão grande assim e que há pessoas sentindo dores maiores que a minha. Assim, nessas horas, preciso esquecer minha dor para ajudá-las a superar isso. Aprendi, inclusive de um jeito bem doloroso, que alguns amores não são para sempre e que esses nos dão lições importantíssimas para que encontremos o amor da vida eterna mais pra frente. Aprendi que só aos 25 anos a gente encontra esse amor. 
Aos 25 anos aprendi que a vida é quente e vívida e que a morte é fria e sem graça. Aprendi que minha saudade tem nome, cheiro e um abraço. Aprendi que ouvir o som do mar é melhor que qualquer sala de terapia. Aprendi o que é compaixão. Aprendi ou reaprendi a rezar. Aprendi a agradecer mais do que a reclamar também. Aprendi que as músicas dos anos 80 e 90 são as melhores. Aprendi que meus copos e pratos tem que ser de plástico. Aprendi que se formar na faculdade e ter um diploma não significa grande coisa, só que você realmente pode começar e terminar algo e se sentir realizado por isso. Mas, que isso se torna pequeno quando você sonha com o universo.
Aprendi que viajar muito é essencial e que deveríamos fazer isso mais vezes.
Aprendi que algumas pessoas não vão gostar de mim mas depois vão ver que estavam erradas, outras vão continuar não gostando mesmo. Aprendi que ás vezes esqueço o troco do café no bolso do meu paletó. Ah é, aprendi que o café esfria quando a conversa é boa. Aprendi o valor de um sorriso. Aprendi a tomar decisões e assumir responsabilidades. Aprendi que ás vezes estou errado e aprendi a pedir desculpas também. Aprendi que a gente precisa de um porre ou dois. Aprendi que algumas pessoas gostam só de sexo, não de amor. Aprendi a comprar roupas novas. Aprendi que adoro fotografar e que amo as luzes da cidade a noite.
Demorou 25 anos para que eu aprendesse quem sou e quem eu quero continuar sendo. Principalmente quem não quero ser ou quem eu não quero me tornar. Demorou esse tempo todo para que eu finalmente, encontrasse meu caminho. Eu não sei o meu dia de amanhã, não sei se vai haver sorrisos ou lágrimas. Mas hoje, hoje mesmo... Até agora, eu sou feliz. 


2016/11/08

Dia 2333

Vou começar de um jeito bem desmotivador hoje. Pra inicio de conversa vamos falar sobre sonhos. Ou melhor, como as pessoas destroem eles. Bom, quase sempre as pessoas de fora destroem nossos sonhos ou fazem algo que pelo fator externo temos que mudar nossos planos e ai mudar nossos sonhos, até algumas vezes desistir deles. Que injustiça não?
Eu queria levar a vida bem de boa mas a verdade é que a vida que anda me levando e só. Estou sendo levado pela correnteza. Tem dias que eu quero salvar o mundo. Mas tem dias que eu só quero fugir dele. Hoje, definitivamente... Eu quero fugir.
Uma hora a gente cansa, da faculdade, do trabalho, das pessoas ao redor. De tudo. E seria uma boa ideia começar do zero em algum lugar, onde ninguém nos conheça. Imagina que legal, pessoas te conhecendo e te admirando por quem você é naquele momento sem saber das merdas que você fez 3, 5, 10 anos atrás. As pessoas julgam demais, se apoderam demais da nossa própria personalidade. Fazem de tudo pra conseguir nossa confiança e nossos segredos pra depois jogar tudo isso de volta em cima de nós em uma hora oportuna. E sabe porque? Porque elas também querem realizar os sonhos delas ou também, porque já perderam muitos sonhos por ai. É natural ver alguém que quer ferrar a gente quando estamos felizes porque sente o peso dessa felicidade. Meio que "meus sonhos não deram certo, deixa eu atrapalhar os sonhos desse aqui também." É um puta egoísmo, fala ai?
Mas o amor salva tudo, ele salva até a dor. Eu já me vi em situações onde poderia ter largado tudo, onde vi todos meus sonhos na UTI porque já tinham arregaçado minhas esperanças de realiza-los. Eu poderia ter dito "Não, eu não preciso dessa merda. Estou indo embora pro norte". Mas não, eu fiquei. E sabe porque? Poque eu adoro incomodar. Eu adoro realizar meus sonhos. E isso tudo vai ter valido mais a pena ainda. Minha luta vai ser mais gratificante no final e eu vou desfrutar mais gostoso dos meus sonhos. Qual é, vamos ver estrelas juntos!
Eu não quero ser aquele velho que fica na praça falando sozinho com Deus, reclamando com o Diabo que não teve uma vida digna. Que não foi feliz. Arrisque-se. Eu vou viver muito e muito bem. Eu vou viver o amor da minha vida. A vida é quente e vívida, a morte é fria e sem graça. Não quero que minha saudade tenha nome, cheiro e um abraço. Vivam a vida amigos, é a coisa mais gostosa de se ter na memória... Histórias que ninguém mais tem. E um dia, um dia eu vou estar sentado na minha varanda com o sol do fim de tarde no meu rosto. Netos brincando no gramado e um horizonte verde na minha frente. Eu vou olhar pro lado e vai ter uma velhinha simpática sentada em outra cadeira. Vamos dar as mãos. Ela não vai precisar dizer nada e vai sorrir pra mim. Eu vou saber ali, naquele momento, que minha vida inteira valeu a pena.


Vamos viver nossos sonhos, temos tão pouco tempo ♫

2016/11/05

Dia 2332

Coisas que gosto:
- Gente que fala de um jeito bonitinho.
- Pequenos gestos de gentileza.
- Ordem de cores nas prateleiras do supermercado.
- Frases de efeito.
- Esfregar o pé no lençol.
- Sentir cheiro de mato molhado.
- Capas de livros em alto relevo.
- Horizontes com montanhas.
- Strogonoff.
- Bolo de chocolate bem macio com cobertura e granulado.
- Sentar em um barzinho ouvindo boa música e comendo porção de alguma coisa.
- O desenho do quadril da minha mulher.
- A covinha da bochecha dela quando ela ri (Eu realmente adoro isso)
- Fazer amor em uma tarde quente com a janela aberta.
- Sentir o cheiro de um novo pacote de café aberto logo de manhã.
- Ficar alguns minutos sem ninguém por perto e escrever algumas palavras.
- Ouvir o som do mar sentado na areia quando já estava ficando a noitinha.
- Ver casais de mãos dadas em público.
- Pizza sexta à noite.
- Abraços fortes e que demoram.
- Cantar músicas dentro do carro junto com o rádio.
- Explorar as cafeterias da Av. Paulista.
- Gente que olha no olho.
- Filmes antigos.
- Mate com leite.
- Luzes da cidade a noite.
- Carros de 1960.
- Carinho na nuca.
- Rosas em vasos para enfeitar a sala.
- Gatos.
- Trilhas.
- Filmes do Tarantino.
- Camisa xadrez.
- Fotografia.
- Fotos reveladas.
- Rir até a barriga doer.
- Bom dia com sorriso.


2016/11/02

Dia 2331


"Apaixone-se" - eles disseram. "Vai ser divertido" - eles disseram. Mas eles sabiam realmente o que estavam falando?
Vamos falar de novo sobre gostar de alguém? Mas como é de verdade? Digo, eu poderia escrever um livro sentado nesse café hoje sobre como é gostar de alguém e como é se apaixonar. Descrever detalhadamente como é sentir aquelas borboletas no estômago. Ouvir os sinos batendo. Que mais que os filmes enganam a gente? Ah é, os olhos brilhando, claro. Não poderia faltar. 
O que não nos contam é o que acontece depois do sexo. O que acontece quando você acorda e não quer conversar naquele dia. Quando tem contas para pagar. Aquilo que acontece quando chega a hora de trocar o sofá. Quando a paciência acaba. Quando a insegurança vem amarrada com uma dose de culpa sobre nada - porque nada aconteceu. Quando a apatia vem com a rotina. Ninguém fala essas coisas. Ninguém fala quando parece que vai acabar tudo, mas não acaba. "Apaixonar-se é bom" - eles dizem.
Tenho que concordar. Estar apaixonado é fantástico. A gente acaba vendo coisas que antes não víamos. Parece que a outra pessoa que aparece vem carregada com um monte de cores e formas que nem sabíamos que existia. E principalmente com um sorriso que a gente nem sabia que podia lidar de tão bonito. É, tenho que dizer... Quando ela sorri pra mim meu mundo fica bonito outra vez. Não sei a definição exata de estar apaixonado. Talvez seja quando ela da risada, aquela risada engraçada e ai eu acabo rindo junto. Ou quando sem perceber vejo a mão dela fazendo carinho na minha. Ou até, quando no ônibus ela encosta a cabeça dela no meu ombro. Já sei, é quando ela fala com aquela voz de personagem de filme infantil. É bonitinho.
Esqueça as borboletas, isso não existe. Se tem alguma coisa se mexendo no seu estômago pode ir ver um médico. A verdade é que a gente se apaixona pelos detalhes únicos da outra pessoa. No meu caso, é quando ela mostra a covinha da bochecha durante um sorriso. É quando finalmente ela perde a vergonha e olha nos meus olhos sem desviar o olhar. É quando ela sai do banho com aquele cheirinho de sabonete e me da um abraço. É quando eu falo algo que ela não espera e ela solta aquela risada alta como quando fomos pra Campos do Jordão (você sabe, aquele vídeo que fiz quando você achou que eu ia bater uma foto sua). É quando ela sorri grandão lendo isso aqui e ver que é pra ela. 
Se apaixonar é muito legal. Sério. Mas manter-se apaixonado é melhor ainda. Ninguém te diz como fazer isso. Ninguém consegue ensinar como é manter-se assim. Nem todo mundo faz isso. Nem todo mundo quer também. Vai de cada um. Na verdade eu acho que é uma coisa que existe entre as duas pessoas. Não é nada combinado nem decidido. Só acontece sabe? A gente ainda vai precisar trocar o sofá. Ainda vai ter dias que ela vai acordar e não vai querer conversar. As contas vem todo mês. Um monte de coisa ainda vai rolar. O que conforta é saber que uma hora ou outra, quando só haver eu e ela... Ela ainda vai sorrir pra mim. 
Apaixone-se! Vai ser divertido. Vocês vão rir lavando roupa. Ela vai te olhar de vez em quando como se tivesse todo o carinho do mundo dentro dos olhos. Você vai saber a hora certa de comprar aquele chocolate que ela gosta. E o café da manhã de amanhã... Esse vai ser o café da manhã mais gostoso da sua vida. Apaixone-se e mantenha isso todos os dias, nem que seja só por cinco minutos.

Dia 2330

Ela dorme, acorda, come, sai, dorme, acorda, sai... E parece que nada muda, tudo se mantém, fica estagnado, mudo, vazio, fundo.
Ela vaga em um caminho só dela, com os pensamentos só dela, tão complexo e confuso capaz de prender qualquer outra pessoa e a manter perdida também. Vê uma luz brilhante e forte no fundo do trajeto, mas o medo a interrompe de continuar, o medo a persegue, medo do desconhecido.
Ela sorri, aquele sorriso grande, mas por dentro está em cacos. Abraça e cuida, e mesmo dando o melhor dela para tantas pessoas ainda se mantem destruída, quando isso vai acabar? Qual a maneira mais rápida de manter a paz e a felicidade? Pois é, a mente de uma pessoa como ela faz com que a pessoa se mantenha presa em algo que acredita ser real. Até confuso entender isso, todos os acontecimentos voltados a ela, sendo bons ou ruins nunca são vistos da mesma maneira como realmente são. Ela procura, ela acha, mas no fim não parecer ser o que acreditava inicialmente, entenda, parece.
Ontem caminhei a seu lado, para tentar ajudar nessa última crise existencial que ela teve, e que não foi uma das mais fáceis e nem tão leve assim. Seus passos são longos e tristes, feição lacrada, impossível desvendar o que deve estar sentindo, os olhos brilham, as mãos procuram algo para descarregar o sentimento para se auto flagelar, corpo curvado como se houvesse um peso nas costas, como se carregasse o mundo inteiro e não estivesse dando mais conta de leva-lo. Ver essa imagem acaba deixando ainda mais confuso quem está observando, não é possível entender cada gesto, olhar que ela possa dar, só da a entender que há um vazio dentro dela, é palpável tal sentimento.
Ela dorme, acorda, come, sai, dorme, acorda, sai... E parece que nada muda, tudo se mantém, fica estagnado, mudo, vazio, fundo.
Ela tem tentado, realmente tem tentando.