2024/03/17

Dia 2540

 


Enquanto dividimos aquele cigarro na sua cozinha, eu estava chorando quando sussurrei “eu fui embora de tanta gente esse ano” e você parecia tão calma falando sobre isso. Mas às vezes é isso mesmo, você tem que ir.

Quando uma pessoa te ama de verdade, ela faz questão da sua presença, da sua companhia e você não precisa lutar por isso, você não precisa pedir pra entrar, ela vai te dar a chave e te convidar. Se você está em um lugar onde tem que insistir pra estar lá, sugiro que dê meia volta e se retire, esse lugar não é seu. Acredite, quando é pra ser, as coisas fluem e você não precisa pedir e muito menos implorar por isso.  Nos lugares certos, com as pessoas certas você consegue perceber nitidamente a sua importância.

Quando os sábados terminam e você volta pra sua cama - sozinho -, não vem aquela sensação de que o mundo é um lugar grande demais para que sigamos sem enlouquecer? Pois fique perto de pessoas que te trazem de volta quando estiver perdido. De pessoas que te lembram quando você mesmo já se esqueceu. Existem pessoas que são nossos lugares favoritos. Fique aí, mesmo que demore e eu espero que demore. 

Pela segunda vez me perguntaram se já me apaixonei alguma vez na vida. E eu lembrei de você e do quanto eu não gosto de ficar tocando nesses tipos de assunto. Apertei forte sua mão enquanto o amor nos larga. É bom ter alguém pra conversar, alguém que te faça rir quando as coisas não vão bem, mas hoje ri sozinho.

2024/03/03

Dia 2539

 


Esse texto não é sobre você.

Às vezes você sabe que vai bater, e acelera. 

Precisamos entender que agora temos realidades diferentes. Histórias diferentes, tempos diferentes, lembranças diferentes e mundos diferentes. E vamos precisar aceitar isso. Por outro lado, saiba que não haverá saudade batendo a porta no fim do domingo. Que haverá sexo sorrindo na hora do ato, chuveiro pequeno pra nós dois e abraço com corpo molhado. Vai ter cabelo seu no meu moletom, no banco do carro e no travesseiro. Que vai opinar sobre meu perfume, sobre a calça e o sapato. Jogo de cartas e a chuva lá fora. Silêncio de três segundos antes do refrão da música a ser cantado por três vozes simultaneamente: a do rádio, a minha e a sua.

Esse texto não é sobre você.

É sobre você ser como um livro raro na estante. Uma xícara favorita. Aquele cinto que mesmo sem combinar com nada eu sempre estou com ele. O CD guardado, com álbum e tudo cheio de carinho porque nele há uma música especial. Os ingressos de cinema apagados com o tempo na gaveta. O último número discado no celular. Quem vai saber que dentre essas milhares de fotos ainda há uma sua perdida aqui. Quem vai saber? Paixão é esbarrão, amor é encontro. 

2024/02/18

Dia 2538

 

Os azuis oceano me queimavam, seu hálito quente deixava meu corpo em brasa, seu gosto me tirava de órbita, mas seu corpo... Esse me desmontava. 

Me beija na rua, me leva pra tua casa, me deixa nu e diz que eu sou o que você procurava. Fale a eles sobre essa garota dos olhos pretos e de seu sonho louco. Meu coração ainda te quer, te busca, dispara só com o som da sua voz, mas tenho medo de todas as feridas cicatrizadas que nos causamos e que ainda estão marcadas em mim. 

A chave debaixo do tapete, uma desculpa só para te ver no meio da semana. Fazer amor na sacada, a batida no som do carro, o excesso de álcool na festa e a ressaca no sofá. A janela do ônibus e as mensagens no celular. Éramos tão jovens. Hoje eu pensei tanto, mas tanto em você, que tive que pausar tudo o que estava fazendo, fechar os olhos com força e respirar fundo. Sentei um pouco esperando o coração parar de doer. Não parou.

2024/02/13

Dia 2537


Há uma quietude inexplicável em uma xícara de café. E sentado aqui apreciando isso, o mundo parece quieto. Eu larguei o celular, voltei a escrever no caderno com uma simples caneta preta. Entrei no meu laboratório mental. 

Querido eu, me desculpe por não ter te salvado do caos do mundo até aqui. As coisas ficaram meio bagunçadas, mas vamos consertar tudo. São 7:00hs e o sol invade a casa pela janela da sala de estar sem pedir permissão. Como que um dia novo começa sem o anterior nem ter terminado ainda? Nem o dia, nem a vida esperam. Essa é a real. 

Estou sempre vivendo um dia para trás, pensando em um dia para frente. Entende? É necessário alinhar para o hoje, agora, às 8:20hs. A caneta vira pincel e com a tela em branco pincelo as dúvidas da minha vida ouvindo as músicas dos anos 2000. A cada batida, três estrofes de memórias misturadas com um jardim da sacada. A cada batida uma oração, um coração quentinho e uma sensação de felicidade. Um número digitado que nunca ligo, uma mensagem que nunca envio, um refrão que nunca canto. Tem dias que só no outro dia mesmo.

Olhar com calma aquilo que quero entender depressa. E quando fui ver, já me perdi em devaneios novamente. Já escrevi algumas linhas e lá se foram alguns minutos. Droga, eu não consegui parar o tempo naquele instante. Ou naqueles tantos outros instantes. E já foi, o café esfriou. 

2024/02/04

Dia 2536

 

Pra quem é de silêncios, qualquer barulho é trovão. Se eu sou maré baixa e calmaria, ela é uma tormenta e tempestade. Um abraço seu resolve tanta coisa. Me quer, eu me entrego. Não sinto nada pela metade, eu exagero. Somos de muitos, do contrário porque se conectar?

Imagine alguém dizendo "não posso te perder, vamos consertar isso" e provar isso um pouquinho por dia, mesmo não fazendo ideia de como fazer. Mesmo não tendo a ideia que já está fazendo só por estar ali. 

O mundo está cheio de metades, mas precisamos de inteiros. Mesmo que esse inteiro esteja faltando uma parte, nos encaixamos, nos preenchemos. Porque me envolver com alguém tão raso se sou tão profundo? 

Te amo, de um jeito cliche. Te amo café, flores e ouvir você respirando ao meu lado em mais uma noite de terça feira qualquer. Te amo pijamas esquisitos e pantufas de personagem. Te amo pipocas, mãos pequenas e olhos grandes. Te amo 23:00hs, mensagens carinhosas e textão. 

Eu abracei você pela primeira vez, de novo.


2024/01/28

Dia 2535

 

Eu fico poema com isso. Quando alguém sabe a brincadeira que queria ter feito quando ouvi algo no ambiente. Quando identificaram minhas negações e desconfortos na sala de estar. Quando me fizeram um café fresquinho e me trouxeram uma xícara quase até a borda sem eu pedir. A batida folk da música no carro quando o farol fecha e o refrão "Durante todo tempo bem do meu lado, lá estava você brilhando, meu raio de luz"

O vermelho Marlboro no batom dos lábios dela e o azul anil no céu. Minha camisa xadrez e botas engraxadas. Barba feita e as chaves na mão. O capricho de perguntar se o perfume combinou. As unhas feitas de propósito. Enfeitada de jóias que ganhou uma em cada ocasião. O timbre da voz baixinho perto do ouvido e a respiração ansiosa no meu pescoço quando estamos envolvidos em um abraço e suas mãos na minha nuca.

Toda vez que te encontro é a primeira vez. Enquanto me apresentava as músicas de sua cantora preferida, eu falava pra você que a gente criaria memórias afetivas, e você brincou no dia dizendo “e logo depois a gente vai se desentender e essas memórias serão dolorosas”. Eu realmente correria o risco de ser para passar todas elas contigo.

Eu fico poema com isso. Tenho casa e durmo nela todos os dias. Mas eu também tenho um lar e meu lar tem os olhos mais bonitos que eu já vi.

Quero tanto ela que hoje deixo a porta destrancada. Deixo as luzes acesas mesmo tendo medo do escuro.

2024/01/25

Dia 2534


Eu estava lá, meio perdido, meio errado, um pouco confuso, talvez incompleto, mas estava sempre lá.

Estava lá quando ela não se encontrava e estava sem rumo. Estava lá quando se sentia abandonada pelo mundo todo. Estava lá quando se encontrou também e quando sentiu que pertencia a algo maior que ela mesma. Estava lá quando fez um amigo novo, quando perdeu um amigo, dois, três, quando se sentiu sozinha novamente.  

Estava lá quando ela perdeu um filho, a fé, a esperança e um minuto. Estava lá quando o cadarço quebrou, quando descobriu uma nova música favorita, quando precisou de um abraço e uma ausência. Estava lá quando perdeu o emprego, esqueceu a senha, as chaves, o celular, o dia do aniversário. 

Eu sempre estive lá mesmo quando não queria estar. Quando não era para estar. Quando não precisava estar. Eu estava lá, meio perdido, meio errado, um pouco confuso, talvez incompleto, mas estava sempre lá.

Eu estou muito errado ou a segunda parte da vida é sobre se curar da primeira? No meu túmulo estarão gravadas várias datas, é que me vi morrer diversas vezes nesta vida. E descobri que para viver essa vida a gente precisa morrer uma centena de vezes para viver apenas um momento.