2024/05/19

Dia 2545

 

Eu estava em uma praia e corria, mas não na areia. Corria, sei lá porque, sei lá pra onde. Só corria. No horizonte o infinito e no chão um caminho que não acabava. Eu jamais sairia daquela praia. Então acordei, ainda era escuro. Passava das três mas ainda não eram cinco. 

Levantei, lavei o rosto. Passei um café fresquinho. Um café amargo, um chocolate amargo mas um amor doce, por favor. Fiquei lembrando da praia enquanto o café pingava e dos rostos que apareceram. Que esquisito esse sonho, tinha gosto de saudade. 

Saí de casa, parei no meio da calçada e olhei para cima. O céu parecia grande e infinito. O que vem depois das nuvens, estrelas? Até onde vai essa imensidão? Era azul, branco, alaranjado lá no finalzinho. O céu é grandão e eu, pequenino.

Olhos diferentes têm visões diferentes. Tente, sempre que puder, enxergar o mundo por outro ângulo. Tente, sempre que puder, enxergar o mundo pelo olhar de outro alguém. Às vezes o mundo já é o mesmo a muito tempo que ficamos cansados, mas quando vemos pelos olhos de outro alguém, acaba sendo um mundo totalmente novo. 

Talvez nós estamos voltando a olhar a lua? Sentei no banco, acendi um cigarro e fiquei olhando as pessoas na rua. Estamos morrendo desde que chegamos e esquecemos de olhar a vista.

Voltei pra casa, pra minha cama. Já eram mais de seis. Quis voltar para a praia mas não para correr. Sentar, olhar o horizonte e pensar no mundo. E você, bem, você é meu mundo.

2024/05/05

Dia 2544

 


Quando você decidiu ir embora não perguntou como eu estava ou como me sentiria. Não quis saber como as coisas ficariam dentro da gaveta ou os espaços vazios do guarda roupa, da cama e da sala de estar. Os vácuos entre as fotos da estante e no banco do carona.

Quando você decidiu ir embora não quis saber porque as garrafas ficam sempre vazias e o cinzeiro sempre cheio ou, porque tem silêncio dentro de casa e eu não quero falar sobre isso. 

Quando você decidiu ir embora não se preocupou como ficariam suas caixas aqui dentro. Não fez questão de saber o que ficaria vazio e o que transbordaria. Em nenhum momento questionou o porquê da tempestade e onde estariam os dias ensolarados (...) Um dia seremos apenas fotos. Músicas escondidas em fins de playlists quase nunca selecionadas. Agora somos estranhos com memórias em conjunto.

Se não tinha intenção de ficar, porque fez esse espaço de morada? No final das contas, só procuramos por alguém que deite ao nosso lado em dias de chuva. E hoje, chove lá fora.

Esse texto não é sobre ir embora.