2024/07/20

Dia 2549

 

Abraço demorado é meu silêncio dizendo tudo que não sei dizer.

Quando eu morrer, por favor, não chorem. Festejem. Não quero velório, por favor, não. Cremação, simples, simbólico. As cinzas em um lugar bonito que eu ainda não tenha conhecido. "Não tive tempo" de conhecer. Fumem um cigarro por mim depois.

Agendem uma festa, chamem todo mundo. Quero que toque Mamonas Assassinas, Ultraje a Rigor ou qualquer coisa assim. Brindes e copos para o alto. Sorrisos. Crianças correndo, gritando e rindo por aí. 

O contrário da morte não é a vida, é o nascimento. A morte é o fim de um ciclo que começou no nascimento. Aproveitamos o meio do caminho. É necessário por um fim. Saudade fica, é claro que fica, mas todo mundo precisa de um símbolo para o fim. A minha, vai ser a última bexiga estourada com uma salva de palmas. Vai vir um silêncio depois, um constrangedor silêncio e nessa hora preciso de uma música especial. Uma bem alegre. Celebrem. 

Quando entendemos que só temos o aqui, agora, começamos a refletir em sermos reativos, em estado de humor, onde aplicamos a maior parte da nossa atenção e tempo, com quem passamos mais experiências e tudo aquilo que fizemos e também deixamos de fazer. A gente tem que tomar cuidado pra não afundar, às vezes a vida fica pesada demais.

Usem as melhores roupas que tem para irem ao mercado, e daí? Banho, cobertas e bebida quentinha. Beijem seus parceiros, seus filhos mais ainda. Abracem. Façam aquela oração poderosa quando ninguém estiver ouvindo. Riam até a barriga doer. Se preocupem menos, afinal estamos só de passagem por aqui mesmo.

Essa não é uma carta de despedida, mas estou me despedindo.

Com amor.

2024/07/12

Dia 2548

Ninguém bagunça sua casa se você não der a chave. Esse post não é sobre casas.

Eu chorei quando percebi que minhas tentativas eram em vão, que nada importava. Tu cabia em mim, mas eu não tinha espaço em você. Havia amor, é claro que havia. E enquanto eu te via em câmera lenta para gravar seus detalhes, você acelerava meus áudios no celular. Sinto falta dos seus olhos castanhos me fitando pela manhã, só que nenhuma manhã teve sol novamente.

Decidi escrever todos os dias mesmo que não tenha nada a dizer, mas sempre terá algo ou à quem me expressar, afinal, estamos rodeados de vida, de partidas e chegadas. Há algo em mim que não fecha, não cura e não cicatriza, e ás vezes dói.

Somos todos almas desgastadas, conhecendo outras almas também desgastadas, tentando entender sentimentos que um dia nos foi tão familiar. Esse lugar, esse ar, é tão confortável e aconchegante que parece lar. Arrumei a casa, troquei as cortinas e fiquei sentado no sofá esperando mas ninguém apareceu. 

A casa arrumada, mas vazia. Esse post não é sobre casas.