2025/01/09

Dia 2561


Nada quebrado.

Nada faltando.

Nada fora do lugar.

Eu estou bem. Só não posso pensar, não posso lembrar e não posso ficar sozinho. Na maioria dos dias, eu acordo e me forço a levantar da cama antes do próximo despertador tocar. Sinto a primeira vitória do dia. Já é 1x0 pra mim. Lavo o rosto, 2x0. Preparo um café e os ovos mexidos. 4x0. Um banho gelado, roupas passadas e um perfume. 7x0. Sapatos e o botão do elevador. 9x0. Virei a chave do carro. Foi um dia de vitória. 

Mas em alguns dias, alguns dias parecem semanas em um único dia. Dias intermináveis, despertadores infinitos. O olho nem abre e a comida não tem gosto. Nem me lembro o que comi. O café que tanto é eficaz hoje decidiu não ser. A água caindo no meu corpo parecem mil alfinetes caindo todos de uma vez. Nenhuma roupa fica boa, parece que ganhei peso ou esqueci de lavar a camisa na outra vez. E o perfume? Esse acabou. O cordão do sapato estoura e o elevador está fora de serviço. O carro não dá partida. O que mais posso fazer?

A música da rádio diz que está tudo bem e eu repito o refrão incontáveis vezes até acreditar realmente. Alguns dias eu venço, outros não. Eu tento não pensar tanto, lembrar tanto e sempre que possível, estar perto de pessoas com bom coração. Mas como é difícil encontrar pessoas assim hoje em dia. Se uma pessoa ocupada decide se preocupar com as suas merdas mesmo com tanta coisa pra resolver, significa que ela realmente se importa e não está apenas querendo cuidar da própria solidão. Porque no final, todos somos solitários, românticos e esquecidos. 

Shalom.

2025/01/01

Dia 2560

 


Tenho um jeito meio quieto de ver a vida. Gosto de como o céu muda de cor no fim da tarde, de como as pessoas sorriem distraídas. Acho que o mundo é mais bonito quando ninguém está tentando nota-lo. Aquele momento foi tão bom que eu nem tirei foto, sabe? 

Tudo na vida tem seu tempo, o café que queima sua boca agora, daqui 30 minutos estará frio. Já parou para pensar quantas pessoas já te conhecem em uma versão sua que já não existe mais? 

Somos uma utopia, meu bem. E isso nunca vai mudar. Quando a gente entende que ninguém tem a responsabilidade de cuidar da nossa dor, a vida começa a ficar mais fácil. Projetar nos outros aquilo que depende de nós é um baita erro, eu precisei passar por muitos perrengues para entender que nem sempre haverá um colo e uma mão estendida e isso é porque cada um tem seu processo particular. Às vezes o outro não demonstra, mas cada um tem seu fardo para carregar, viver é assim tem suas fases. Vão ter dias que nós mesmos vamos ter que nos consolar, e maturidade é isso entender que não é porque o outro não nos ajudou que ele deixou de nos amar. Cada um tem seu corre e luta, nem sempre o outro vai poder ter a disponibilidade de guardar sua própria dor no bolso para nos ajudar.

Se você conseguir entender isso com leveza e sem culpa, você entendeu a piada até o final.