É muito fácil se apaixonar por alguém. Quase sempre é porque esse alguém traz consigo algo que falta em nós. É um preenchimento automático e quanto mais esse alguém dispor daquilo que nos falta, mais nos sentimos preenchidos. Parece uma troca justa mas é egoísta. E quando nos saciamos daquilo que um dia nos faltou? Tentamos descobrir algo a mais que essa pessoa possa oferecer para continuar nos alimentando até o momento que deliberadamente acaba. Não resta nem as sobras.
Nos apaixonamos por toques, aromas, gestos, reações, assimilações, gostos e atitudes. E repetidamente, dia após dia fazendo questão de ter, pertencer, ver e sentir. Como um vício, um refrão de música que não sai da cabeça, o gosto amargo que não desaparece da boca ou a coceira incessante.
A paixão então é uma moléstia. Um verme que se alimenta até a sua própria morte. “Ao verme que primeiro roeu as frias carnes do meu cadáver dedico como saudosa lembrança estas memórias póstumas” - 1881, Machado de Assis. E mesmo depois do fim, ainda se alimenta de lembranças daquilo que um dia foi e fantasias do que poderia ter sido. É cruel, impiedoso.
O amor, este é boêmio. Leve, delicado, saudoso e companheiro. Acho que é quando o barulho da chuva se mistura com o sabor do café coado e parece que a casa inteira respira calma. A fuga do caos, da rotina, um horizonte alcançável que a maioria não consegue enxergar. Banho quente e meias esquisitas. Um conforto aconchegante, o domingo que não precisa terminar. A vontade de mais mas sem excessos.
A questão principal é que uma pessoa criada na dor e a outra no amor jamais vão enxergar o mundo da mesma maneira. Geralmente, elas se encontram e se apaixonam e depois da paixão, o amor. É necessário ter paciência e esperar o tempo fazer seu trabalho. O problema é que somos muito jovens e o tempo é uma luxúria. Anos e anos até tudo fazer sentido, mas ali, cada um vê o que já foi da sua perspectiva e geralmente bem distantes.
Virei aquela esquina depois de tantos anos e aquele lugar deixou de ser o café que algum dia existiu. As lembranças do batom no guardanapo que talvez você nem lembre mais, agora estão apenas na fotografia de uma galeria de lembranças. Você foi a maneira mais triste e bonita que a vida teve de me dizer que não se pode ter tudo para sempre. Que sempre é um milésimo de segundo que você não estava lá, mas vai se lembrar do resto da vida tentando voltar naquele momento só para tentar estar.

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