2017/06/05

Dia 2391


É até o limite da imaginação. Foi isso que acordamos quando decidimos ficar dentro daquele apartamento de 42m² por um final de semana inteiro sem sair. Éramos nós contra o mundo. E como foi? Eu conto, com todos os detalhes que ainda estão fresquinhos aqui na minha cabeça, no cheiro desse apartamento e na temperatura dos meus lençóis.
Saímos uma semana antes no sábado a noite. Durante a semana trocamos muitas mensagens, ela contava seu dia e me mandava alguns áudios engraçados pausados, como se estivesse pensando no que dizer pra não me mostrar logo de cara que o humor dela era uma coisa a ser entendida além de curtida. Falamos sobre o tempo e as horas. Sobre a pausa pra o almoço e o e-mail chato que teve que responder e até a receita de família que ela sabia fazer. Cada vez que ela falava e eu colocava o telefone no ouvido é como se eu conseguisse sentir o ar quente vindo da boca dela falando bem perto de mim. Enfim, me apaixonei. Chamei ela para sair, tomar um café ou algo assim. Nada de noitada fora, já tínhamos passado dessa fase e para a minha alegria ela aceitou. Creio que se ela pudesse me expor como foi para ela, seguiria como o parágrafo a seguir.
"Ele tentou se aproximar de mim, assim, sem mais nem menos. Sem saber o quanto eu sou danificada. Sem conhecer os meus defeitos. Sem saber o quanto estou calejada de vindas e idas. Ele tentou se aproximar, e o pior foi que eu gostei. Gostei do frio na barriga no primeiro beijo, do toque de sua mão em minha nuca e da outra em minha cintura, gostei do corpo dele contra o meu, fazendo meus pulmões se encherem de ar, e fazendo-os se esquecerem de esvaziar. Gostei de ouvir meus batimentos tão alto em meus ouvidos, que me fizeram esquecer totalmente do mundo ao meu redor. Beijo esse que por segundos fizeram minha alma se restaurar de qualquer dor que já senti, de qualquer decepção que já sofri e de qualquer abandonar que já passei. Beijo esse seguido de um abraço com cheiro bom, cheiro que marca bem fundo em minha memória, juntando o que resta dos pedaços espalhados do meu coração que tenho recolhido tão calmamente nos últimos meses. Ele tentou se aproximar de mim, e o melhor foi que ele conseguiu."

Para ela as batidas do coração eram como o tic tac do relógio, contando quantos minutos ela ainda tinha. Todas as vezes que cheguei perto dela ouvia o meu coração dentro da minha cabeça e o dela sempre esmurrando meu peito a cada abraço. Acho que era natural, não forçamos nada. Rimos, tomamos café e eu consegui ver o brilho daqueles olhos castanhos na minha frente. E o perfume dela, dava pra sentir a dois quarteirões mas era aquela coisa suave entrando na sua memória entende? Enfim, me apaixonei (de novo). 
A semana foi passando e parecia que só o que importava era a próxima sexta-feira. O próximo final de semana. Mas, quando chegou na quarta feira e chamei ela para sair novamente me disse que não queria sair no sábado. Fiquei pensando nos dois lados: Primeiro que aquilo poderia ser uma dispensa e segundo que ela poderia estar me testando para ver até onde eu iria. (Mas eu chamei ela para sair pela terceira semana seguida, isso não estava mais que na cara que eu estava interessado?). Mas ok, que tal ir la em casa? Me fala o que você gosta de comer, eu sei cozinhar um pouco mas se não gostar a gente pede uma pizza que tal? Ela aceitou (para a minha surpresa novamente) E agora?
Disse que podia ser pizza mesmo. Ás 20:00hs, sexta feira. A condição dela foi "Eu só vou se você me prometer que não vamos sair até domingo". Ok então. Mas ninguém passa três dias de pizza então na quinta feira a noite fiz compras e é claro que rolou um sorvete e outras besteiras no carrinho. Mas ai, o que vamos fazer por quase três dias seguidos? Fizemos amor sim, é claro que fizemos. Algumas vezes dentro desses três dias. Mas não foi só isso. A maior parte do tempo ficamos de moletom e meia debaixo da coberta assistindo qualquer série aleatória no canal pago. Ou então com a TV desligada e uma travessa de vidro com algum doce cheio de açucar dentro ouvindo ela falar alguma coisa, qualquer coisa. Só porque era bonitinho ouvi-la falar. E até deitados sem pressa nenhuma do dia acabar, dando pequenos beijos e trocando olhares. Deus, quando chegar minha hora por favor que seja dentro de um momento desses!
Esquecemos que tínhamos uma rotina durante a semana. Esquecemos que não gostamos de algumas pessoas nos nossos empregos. Esquecemos que a faculdade acaba nos engolindo de vez em quando. Esquecemos os boletos não pagos dentro da gaveta. Esquecemos os celulares e as mil mensagens dos grupos. Esquecemos de sermos sociais de propósito. Quando você vai chegando perto dos trinta anos de idade poucas coisas realmente se tornam importantes. No me caso é apenas uma. E quando me perguntam qual é a minha cor favorita, eu digo que é o castanho dos teus olhos.

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