2017/08/01

Dia 2401

A principio, não vou conseguir dizer todas as coisas que quero dizer aqui sem contar certos fatos antes.
Em dezembro de 2016 eu ia pedir minha namorada em casamento. Eu estava com um pouco de medo afinal, não nos casamos com qualquer um não é? E eu dei tanta mancada por ai já, tomei tantas decisões erradas que não queria que essa fosse mais uma. Eu já morava com ela á alguns meses e estávamos falando bastante sobre casamento. Basicamente tínhamos decidido quando seria e tudo mais, mas não havia nada que nos confirmasse uma certeza para tudo aquilo acontecer realmente. E eu sabia que essa certeza teria que partir de mim. Afinal, o pedido é que da o pontapé inicial de tudo isso. Pois bem, mas como se casar?
É claro que bateu uma certa insegurança sobre aquelas paradas de "será que é a pessoa certa?" ou "será que eu sou a pessoa certa para ela?". Esse tipo de coisa tenho que confessar que não tem nada a ver. Se for ou não for a pessoa certa vão saber antes mesmo de começar. Mas se há pessoas dispostas a lutar e fazer dar certo, vai dar certo. É tudo uma questão de querer e gostar, e pode crer eu gostava muito daquela garota pra passar o resto da minha vida com ela. Então, troquei uma ideia com Deus, pra receber Dele a resposta definitiva. Para saber com certeza que eu não estava errando mais uma vez com a minha vida e a vida de outra pessoa. Não interessa como Ele me confirmou tudo que foi confirmado, mas as coisas estavam certas na minha cabeça e no meu coração. Dai, o que vem depois?
Bom, eu como todo pisciano metido a shakespeariano bolei uma ideia que parecia incrível e maravilhosa de bonita. Tinha tudo para dar certo. Mas antes de eu prosseguir, tentem ver as coisas com os olhos dela e não a julguem ok? Era setembro ainda então liguei no Edifício Itália, o lugar mais foda e romântico que eu poderia imaginar dentro de São Paulo. Parecia incrível porque nunca havia levado ninguém lá antes então o lugar seria só dela daquele dia em diante. Fiz uma reserva para as 20hs do dia 3 de dezembro porque o aniversário dela seria no dia seguinte. Ela saiu de manhã para ir no cabeleireiro então aproveitei e enchi a casa de bexigas vermelhas. Subia pelas escadas e ia até o quarto e em cima do colchão tinha umas 50 bexigas a mais. Eu quase desmaiei pra encher tudo aquilo sem uma bombinha de ar. Escrevi uma carta com indicação do horário e um mapa do lugar. Fiz um vídeo também e deixei no notebook em cima do colchão. Peguei minha melhor roupa e fui para a casa da minha mãe depois de deixar tudo arrumado em casa. O plano era, ela chegaria em casa e veria tudo aquilo. Ok. Leria a carta. Ok. Assistiria o vídeo. Ok. Seguiria todas as instruções e me encontraria lá no restaurante do Edifício Itália enquanto eu estaria esperando com um par de alianças para pedi-la em casamento. Eu me arrumaria na casa da minha mãe e ela em casa e tudo lindo e maravilhoso aconteceria. Só que não.
Volto a falar, não a julguem a partir daqui. Enquanto eu estava na casa da minha mãe ela me liga e eu ansioso para ver o que ela tinha a dizer daquilo que eu havia feito. Para a minha surpresa (e foi uma grande surpresa mesmo) ela não aceitou aquilo muito bem. Eu não estava em casa para leva-la até la e ela não conhecia o lugar. Ela não sabia como reagir a toda aquela parafernália que eu fiz. Ela ficou sem reação e a única coisa que o automático dela mandou ela fazer foi dizer "Eu não vou". Achei que ela estava brincando ou que por mais que no fundo eu soubesse que não fosse uma brincadeira, ela cederia ao que eu estava pedindo e iria realmente ao restaurante. As alianças estavam no meu bolso, tinha comprado dois meses antes. Não estava acreditando. Comecei a pensar que era um erro e que eu havia me precipitado. Que as respostas de Deus tinham sido apenas respostas da minha cabeça e qualquer certeza que eu tinha, haviam ido para o ralo. Tinha ficado chateado e queria falar um monte quando a visse e por mensagem também. Ao invés disso, peguei minhas coisas e fui embora. Peguei o ônibus em um dia de chuva de volta para casa.
Eu não sabia o que dizer para mostrar que estava desapontado. Tinha planejado aquilo por quatro meses. O que eu poderia dizer? Quando cheguei em casa as bexigas já estavam estouradas. Ela fazia a unha no sofá e não pronunciei nenhuma palavra. Subi e fui me deitar no colchão, acabei pegando no sono por algum tempo. Logo após, desci para falar com ela. Conversamos, meio que trocando faíscas ainda. Ela tentando me falar que eu não precisava fazer todo aquele circo para agradá-la e eu tentando explicar para ela que só estava tentando fazer aquele um momento especial, o mais especial para nós dois. Fomos dormir um pouco brigados, eu não sabia direito o que fazer para melhorar aquela situação e pelo meu orgulho e personalidade só queria que ela acatasse ao que eu estava tentando fazer. Mas também não poderia seguir com aquilo daquela forma, porque no dia seguinte era o aniversário dela. Não queria estragar tudo. A noite passou e na manhã seguinte estávamos decidindo onde ir para comemorar o aniversário dela. Ela por sua vez não estava tão afim de sair para fazer nada. Parecia ainda sentir um pouco de culpa pelo dia anterior e desmotivada a fazer qualquer coisa. Meu papel naquele dia foi puxar o dia a seguir porque se dependesse daquela motivação, ficaríamos em casa e seria um dia convencional como qualquer outro domingo. Por mais que eu não gostasse de aniversário, o dela tem que ser comemorado!
Não sabia ainda direito como iria fazer para pedir ela em casamento. As alianças estavam ali na gaveta de meias, minha frustração mandava eu jogar no sofá no dia anterior enquanto ela fazia as unhas e despejar pra cima dela um monte de palavras que a chateariam ainda mais. Eu não fiz nada disso. Deixei elas bem guardadas ali até pensar em algo. No fim das contas, acabamos indo almoçar num restaurante desses que só vamos uma vez por ano, que geralmente os fornecedores levam os clientes para almoçar para fazer aquele social. Eu ouvi Outback? Rolou fotinho, pedidos até abrirmos a calça de tanto comer e sobremesa daquele tipo bem gostoso. Voltamos para casa, assistimos um pouco de TV e no fim do dia fomos tomar banho para encarar a segunda feira logo mais. Enquanto ela tomava banho eu peguei as alianças na gaveta de meias e fiquei pensando no que faria. Me questionei se deveria fazer algo ainda ou seguir com aquilo. Antes que ela saísse coloquei elas debaixo do seu travesseiro. Não sabia direito o que eu estava fazendo. Entrei para tomar banho depois que ela terminou e quando voltei para o colchão (Sim, dormíamos num colchão de acampamento inflável por alguns meses. Estávamos nos livrando das coisas velhas dela e comprando aos poucos nossas coisinhas para montar nosso canto), enfim, ela estava mexendo no celular. Pedi pra ela prestar um pouco atenção no que eu ia falar e ela com certeza pensou "La vem drama, la vem bomba!".
Não me lembro direito, mas acho que fiz algum discurso e bla bla bla mas no fim perguntei se ela gostava de mim. Ela não respondeu "Sim, eu gosto de você" ou "Sim, eu te amo". A luz do quarto era basicamente dos reflexos das luzes de natal do andar debaixo. As respostas ficaram ali, naquele quarto. Tirei as alianças debaixo do travesseiro dela, ela chorou a bessa. Ali, mesmo sem entender direito eu recebi uma confirmação que faria eu seguir com ela pro dia de hoje e hoje para o dia de amanhã e assim por diante. Lembra que eu pedi para não a julgarem no inicio? Então... Que garota que dispensa um jantar romântico no alto do prédio mais chique da cidade e aceita o pedido de casamento deitada num colchão inflável de acampamento? Ela é o tipo de mulher raiz e não nutella. Vamos comer um pastelzão ali na feira? -Vamos! Vamos ali na pracinha ver as crianças brincarem enquanto a gente toma sol? -Vamos! Bora ali no parque não fazer nada e só ficar deitado na grama se curtindo? -Bora! Ninguém ta afim de cozinhar então que tal pedir uma pizza e assistir filme? -Sim.


Entenderam? Você não precisa gastar milhões para tentar impressionar ou fazer a coisa mais engenhosa do mundo. O simples é o mais sincero. E quando você é sincero significa que vai ter que aguentar ela em todo mês na época de TPM. Mas também, se fosse eu e soubesse que iria sangrar por uns sete dias todo mês até o fim da minha vida iria ficar putasso. Significa que vai ter que esperar ela escolher cada coisa para a casa para só depois poder opinar. Significa que ela não vai gostar muito dos seus sapatos e nem da sua mãe e você vai ter que ter jogo de cintura pra equilibrar tudo isso. Significa que uma hora ou outra um ou os dois vão estar de saco cheio em um dia qualquer e vai rolar uma tensão básica e ta tudo bem. Significa que vão decidir qual a cor da parede e quem pode pagar as contas no mês seguinte. Significa planejar uma viagem muito louca sem explicação ou motivo. Significa que você vai ter um esforço danado pra mostrar pra ela que dentre todas as outras ela é a sua especial. Enfim, isso significa muita coisa.
Viemos de mundos diferentes, até de galáxias diferentes. Eu sou teimoso e confuso, ela é cabeça dura e mandona. A gente tem todos os defeitos do mundo mas e dai? Ainda quando me perguntam qual é a minha cor favorita, eu digo que é o castanho dos teus olhos. Não existe desculpa quando duas pessoas se querem de verdade. E a gente se quer, se quer muito. Vai ter defeitos, vai ter brigas, vai ter passado e presente numa guerra sem soldados, vai ter grana e falta dela, vai ter manias e personalidades diferentes. Mas também vai ter carinho, amor, compreensão, respeito, conversa e acima de tudo... Gratidão.
Eu posso até esquecer de pagar a conta de luz e a gente tiver que ficar no escuro, desajeitados andando no breu. Passaria as minhas mãos até reconhecer os seus detalhes, mapeando o seu corpo como se eu já soubesse ler cada palavrinha do que ele diz pra mim. Mesmo que no fim do dia não tenha nada pra gente comer na geladeira e eu tenha me atrasado, prometido te ligar e desligado, ter furado contigo na porta do cinema por causa do trânsito e arrancado as plantas do seu vaso pela entrada brusca com o carro, eu juro que vou tentar não gritar alto.
Mesmo que a minha mãe te evite e você seja grosseira, dizendo que a comida dela de domingo tem um gosto clichê de segunda-feira que você odeia, eu falando alto e atrapalhando o som das coisas que você ouve, enrolando o tempo todo pra levar o lixo pra fora ou pra dizer que te ama, eu dormiria na sala, e deixaria você dormir aqui para que você tenha momentos de paz a sós e pra eu perceber o quanto você faz falta, amor. Que a gente cai nessa roda viva do dia a dia e se esquece de que ficou porque ama, porque sabia que ia ser assim, mas fere. Fere o outro porque é costume de toda essa gente ferir quem se ama, e porque a gente não trava a língua com quem ama pra bem ou pra mal. E eu não travo nada, mas deveria. Deveria segurar as coisas, contar até dez e me lembrar que pra todo estresse do dia, pra todo problema que surge, pra tudo de ruim que der na telha ou nas infiltrações, a gente tá junto.
Mesmo que a gente bata as portas com violência e diga umas besteiras, feitas pra machucar e arranhar a pele do outro, eu te juro que não iria embora. A gente daria meia-volta quando chegasse no térreo ou pararia o carro na entrada da garagem esperando o outro gritar pra ficar (e mesmo sem grito voltaria pedindo desculpas). Mesmo que algo acontecesse fazendo com que você não quisesse mais ouvir minha voz ou dormir comigo, tirando a graça das minhas piadas eu ficaria. Mesmo que a gente trabalhe até tarde, durma fora alguns dias por causa das viagens, esqueça a comida do cachorro e do gato, deixe a torneira ligada e inunde o nosso andar inteiro, mesmo que tudo pareça dar errado e a gente chegue num ponto em que não se suporte mais, eu vou lembrar do exato momento em que pus os olhos em você e me apaixonei.
Mesmo com a falta, com a toalha molhada, com a tampa do vaso levantada, com os berros, as crises, TPM, meus pais, minhas tias, seus amigos idiotas, minhas amigas vagabundas, a TV fora do ar, a pickup que não pega tem 40 dias, o contrato atrasado do apartamento, a falta de atenção ou o prato na pia, a calcinha pendurada no chuveiro, as nossas manias irritantes e as escovas de dentes trocadas, mesmo que falte papel higiênico no banheiro e todas essas coisas que dão vontade de desistir da gente, eu não desistiria. E mesmo que você fosse embora de mala, cuia e sem cobertor, eu te beijaria e pediria pra dormir do meu lado, apagaria a luz e te abraçaria dizendo que eu ainda vou te amar mesmo com tudo isso amanhã de manhã.
Você sempre me ouve dizer "eu te amo" mas quase nunca me ouve dizer "obrigado". Então, obrigado - eu te amo!











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