2018/04/14

Dia 2429



Sempre gostei dos sábados de manhã. Aliás, gostava dos sábados de manhã quando a sexta-feira a noite tinha sido boa. Quase sempre era porque no sábado de manhã o sol invadia meu quarto sem pedir permissão, trazendo luz em cima da cama, refletindo o lençol branco. O mesmo lençol que cobria parte do corpo dela, deixando exposta as pernas daquela que estava deitada de bruços abraçando um dos meus travesseiros. Aquele cheiro de mulher espalhado pela cama toda, misturado com sexo. Pra mim esse era o melhor cheiro do mundo.
Era quase que um ritual, eu levantava com cuidado para não acordá-la. Vestia meu roupão e descia as escadas para passar um café fresco. O andar debaixo ficava com aroma de café do interior. Subia de volta sem fazer barulho e me sentava á frente daquela cena. A xícara preta na minha mão. O ar quente subindo e se esvaindo no ar. A frente disso, lençóis brancos enrolados em algumas partes do corpo dela. Quase todas as vezes as pernas e as coxas ficavam descobertas. Quase todas as vezes estava sem calcinha e o desenho do quadril ficava a frente da janela onde a luz do dia invadia o ambiente. E eu ficava ali até o meu café acabar ou ela acordar.
Quando o meu café acabava eu voltava para a cama e ela me procurava com as mãos sentindo o movimento da cama. Deitava no meu peito e começava a falar sobre algumas coisas como viajar para algum lugar distante ou que deveríamos ter um filho. Que talvez seria interessante começar a vida em algum outro lugar. Que tinha idéias sobre isso ou aquilo mas no fundo sabia que nenhum daqueles absurdos ditos na cama sábado de manhã aconteceriam tão de repente.
Quando ela acordava antes, procurava pela presença do outro lado da cama e não encontrando abria os olhos. Eu deixava a xícara ao lado da cama e ia ficar com ela. Fazíamos amor enquanto o café esfriava. Quase sempre eu gostava quando o café esfriava.
Então eu tinha a minha cama, os meus lençóis brancos, meu café, minha garota e a nudez dela e a minha luz da janela. Eu não tinha o que reclamar, meu mundo estava bom. Até que um dia acordei sozinho, o café tinha acabado e só havia temporal batendo no vidro. E pra onde foram meus sábados tão bonitos? Por fim, ela acordou fazendo carinho no meu rosto. Disse que não aguentava mais esperar eu acordar porque fazia algum tempo que ficou me vendo dormir. Era uma segunda-feira. Então percebi que não era apenas meus sábados que ficavam bonitos agora. E obrigado por isso.

Nenhum comentário: