2018/04/14

Dia 2427


Nós éramos muito jovens. Muito jovens para fazer muita coisa, para ser outras. Muito jovens para saber, para compreender e para esperar. E o mal de ser jovem é ter a ilusão de que o tempo vai durar para sempre. Porque não dura, nada dura para sempre. Não estamos falando de idade, dizemos ser jovens porque é apenas um espaço de tempo que ainda não tivemos.
O sexo era bom mas não sabíamos como fazer amor ainda. Sair para se divertir era legal mas não sabíamos como apreciar a companhia um do outro ainda. O papo era legal mas o valor do silêncio era maior ainda. Presentes caros, lojas de grife, lugares exaltantes eram apenas coisas e puro status, um bombom sonho de valsa era o que arrancava mais sorrisos. Cada mínimo detalhe de hoje faria a diferença no ontem se apenas soubéssemos como fazer o que sabemos agora.
Ela usava sandálias de tira preta e mal sabia que aquilo um dia daria dor nos pés. Ele usava camisas de marca cara e mal sabia que um dia aquilo seria irrelevante. Lugares, pessoas, coisas e aos poucos quase tudo perdeu a graça. O traço amadurece, a letra, o tom de voz, as atitudes, os gestos, a palavra e a pessoa. Alguns valores se perdem, outros valores adquirimos. E nessa fenda do tempo, descobrimos que um dia vamos querer voltar no tempo para voltarmos a ser jovens mas com o que sabemos hoje. 
E hoje meu amigo, hoje somos jovens. Jovens demais para perceber que um dia teria fim. E teve.

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