2022/12/10

Dia 2504


Já faz tanto tempo, isso é muita coisa. É muita tempo. É uma longa jornada desde que tudo começou e no meio do caminho desabou. E depois desse tempo todo estamos aqui na frente um do outro sem saber o que dizer. Mas eu espero conseguir, porque em todo esse tempo não houve um só dia que não pensei em você ou na sua chatice. E no timbre da sua voz. E na curva dos seus lábios quando sorria sem graça. Ou no desenho do seu quadril e seus olhos grandes. Ou no som da sua risada engraçada no meio do silêncio entre nós dois que não era constrangedor. E o calor da sua mão e seu abraço apertado. Não houve uma droga de dia que eu não sentisse a sua falta.

Eu espero que você tenha histórias para contar porque vou querer ouvir todas elas. As felizes e as tristes. Eu espero que você tenha novas músicas favoritas para ouvir no carro. Eu espero que não tenha trocado aquele seu perfume favorito, eu amo aquele cheiro em você e me faz te achar em meio a multidão. 

Eu procurei, procurei você em outros rostos, outros corpos, outros sonhos e passei muito tempo procurando e não chegando a lugar nenhum. Mas sempre pensei que se algum dia eu me sentasse na mesa com você novamente iria querer falar tanta coisa que nem saberia por onde começar. Então vamos lá:

- Garota, eu senti a sua falta. 

Comecei a fumar, parei de fumar. Comecei a beber, parei de beber. Fui a igreja uma ou duas vezes. Fiz muitas orações baixinho no travesseiro a noite. Fiquei triste e achei que era o fim, mas a gente sempre acha que é o fim e nunca é. Quase me casei, quase me casei de novo. Troquei de emprego e troquei de novo. Quis viajar, não quis levantar da cama. Quis ter uma doença fatal ou entrar em um acidente de carro. Não aconteceu. Pensei em aceitar Jesus, fumei mais um cigarro, tomei mais um gole e acordei.

Tentei plantar feijão no algodão, troquei de canal, pedi uma pizza e comi sozinho na frente da televisão desligada. Li dois livros legais e outros nem tanto assim. Te escrevi um bilhete, nunca entreguei. Escrevi uma carta, nunca postei. Escrevi uma música que nunca cantei, um poema que nunca recitei. Girei várias vezes no mesmo lugar de olhos fechados e deitei no chão. Abri os olhos e o mundo todo rodava em câmera lenta. Respirei fundo e a saudade bateu. Quando a saudade bate o coração espanca.

Porque garota, eu senti sua falta.

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