2023/12/09

Dia 2529

Cheguei em casa e dei um beijo na minha esposa. Abracei meu filho bem forte e pude sentir os dedinhos pequeninos dele brincando com a gola da minha camisa. Era meu último dia, mas eu não sabia. Eles não sabiam.

Então fui dormir e acordei no dia seguinte. Eu morri mais um dia. Acordei mais um dia. Fiz o mesmo todas as vezes que consegui.

Foi então que escrevi está carta pedindo perdão ao universo por todas as vezes que não pude estar presente. Por cada risada e brincadeira que não fiz, por cada dia ruim que sumi mesmo estando sentado no sofá da sala. Por todas as vezes que troquei uma sessão de cócegas pela tela do celular. Por todas as vezes que o relógio era minha ponte quebrada e me impossibilita de chegar ao outro lado. Por cada refeição que não fiz sentado na mesa e fiquei sabendo de uma nova letra escrita ou uma nova amizade feita.

O carro não funcionou, a bateria acabou, o sinal falhou. Não era culpa de ninguém, foi apenas mais uma pessoa cansada que adormeceu no volante. Um flash de luz, um silêncio, vidro quebrado. Muitas pessoas falando, visão embaçada mas agora não sinto nenhuma dor. Consigo reparar na minha respiração e alguém segura minha mão. São pequenos dedinhos brincando com os meus. Ainda não.

Dei um beijo na minha esposa, abracei meu filho bem forte. Eu morri mais um dia. Acordei mais um dia. Pedi socorro.

Conversem. Conversem sempre sobre tudo, mesmo quando as conversas são difíceis. Porque o silêncio são pedras. E pedras transformam-se em muros. E muros dividem.

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