2024/01/06

Dia 2533

Hoje na terapia me falaram que eu devia dizer como me sinto. Mas porque? Que diferença faz. As pessoas só acordam nas partidas. Ninguém dá a mínima enquanto você está ali cansado ainda tentando salvar o navio afundando. É triste mas é verdade. E de navios afundando eu sempre fui o último passageiro. Sempre vendo todas as partidas e logo depois caindo na imensidão do oceano. 

Então, pra que dizer como me sinto se o navio vai afundar? Como sei que ele vai afundar? Porque pelo que vejo, sou o único tentando tirar a água que transborda aqui de dentro. O único tentando tampar os buracos no casco. Mas e se eu colocar uma boia e me salvar? E se dessa vez eu ser quem vai partir? E se dessa vez eu abandonar o barco primeiro?

Acho que o mais importante é estar com alguém que mesmo que você esteja sozinho, não se sinta sozinho. O que isso quer dizer?

Eu estava sentado em um desses lugares que vende café, caldos e bolos tomando um expresso quente. Um caderno e caneta sempre me acompanham ao lado da carteira e celular e por mais que eu não escreva muito nele, sempre levo caso eu me perca em devaneios. Dia cheio, muitas coisas para resolver, só problemas desde cedo. Um dia bem pesado mesmo. Fora todas as coisas na minha cabeça. E com a xícara na metade e caderno aberto ali, naquele momento eu não me sentia sozinho. Eu sabia que se eu mandasse uma mensagem com qualquer conteúdo iria voltar com carinho. Se eu ligasse, seria mais ainda. E se eu não fizesse nada, só terminasse o café, pagasse e fosse embora ainda assim não me sentiria sozinho, embora estivesse sozinho. Porque no fim do dia ao voltar pra casa eu teria a certeza que teria alguém esperando meu boa noite.

Entende? Estar sozinho é bem diferente de ser sozinho e não nascemos para sermos sozinhos. Pois então, chore. Quando uma pessoa chora, nunca chora pelo que chora, mas sim por todas as coisas pelas quais não chorou em seu devido momento. 

Mais um porto, ancorado. 

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