Carta aberta ao que restou de mim.
Na busca incessante de ser, acabei me tornando o que não deveria ser. Na ânsia de me moldar as expectativas, abandonei o que me fazia único. Meu riso perdeu a espontaneidade, meus passos ficaram mais pesados e minha essência virou um eco distante sufocado pelas camadas que criei para me proteger. Eu quis tanto ser aceito que me rejeitei. Fui tão longe tentando agradar que me perdi no caminho.
O reflexo no espelho já não conversa comigo e as conquistas que antes pareciam tão importantes, agora não passam de troféus vazios. Quem sou eu além das aparências? Quem sou eu sem máscaras? Talvez a resposta esteja no silêncio que eu sempre temi. No ato de parar e encarar a verdade, pra ser quem devo ser preciso me desaprender quem me tornei. Preciso voltar ao início, onde minha essência sabia o que era viver sem medo. Talvez na desconstrução eu me encontre novamente.
Queria ser a pessoa que não se importa. Não ser a pessoa que finge não se importar, porque eu me importo. Me importo pra caralho. Não sei fingir que não está acontecendo e que não me abala. Que sou a prova de balas. Eu não sou. Vou ver acontecendo e querer abrir a cortina, pra que você viva mais intensamente. Pra que fique bem. E eu? Eu fico para depois.
Não é martírio, apenas as coisas foram acontecendo e eu fui deixando, até ficar fora de controle. E quando fui ver estava eu no alto da montanha, mas eu não queria pular. A chaleira apitou, o gato miou e a porta se abriu. Nada mais era como antes.
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