2025/02/24

Dia 2563

Eu mereço alguém que saiba que eu não sou a pior pessoa do mundo. Que o que eu quebro, dá pra concertar. Eu mereço alguém que me faça perceber que nunca houve nada de errado comigo. Que meus defeitos eram descartáveis em meio a imensidão de algumas qualidades únicas. Eu era singular. 

Temos mania de estarmos em muitos lugares, estando em um lugar só. Não nos damos conta que precisamos de tempo e espaço no mundo para olharmos para dentro de nós mesmos.

Eu sempre me senti deslocado, como se vivesse em uma frequência que ninguém mais ouve. Entendi, enfim, que sou a rádio pirata que poucos vão encontrar em meio a um sinal ruim. Tocando músicas que ninguém mais ouve e que falam sobre o coração, solidão e como é linda essa vida bohemia.

Mas vai haver um dia, um dia em um futuro incerto, em um momento qualquer, de uma hora inesperada que vai aparecer uma reflexão do porque toda a luta, a dor, a angústia e tristeza fizeram sentido e o levaram até aquele momento. E finalmente entendeu o vislumbre do fugaz momento de estar feliz. E esse momento que dura tão pouco, faz valer todo o resto e você perceberá que em meio a essas memórias póstumas, talvez seja amor quando você for o domingo de alguém.

As pessoas não escrevem mais sobre isso. É uma pena.

2025/02/15

Dia 2562

Era uma noite qualquer e eu precisava de todas as palavras gentis que um dia já ofereci a alguém.Trocamos olhares profundos e depois nunca mais nos vimos igual. Mesmo depois de tantos anos, aquele era nosso primeiro dia de novo. Não havia tempo, obrigações e o mundo lá fora já não importava mais. O quarto se confortava com nós dois nus na cama apenas sendo nós mesmos.

Minha língua no corpo dela engolindo poesia. Devorava cada página com tanta vontade que cada vez mais a história fazia sentido. Suava, arrepiava, gozava e sentia. Como sentia. A felicidade gemia, escorria pela perna trêmula e entrava devagar. Sorria, meio tímida olhando na iris dos meus olhos. 

Eu te lia com as mãos e te devora com os olhos. Queria saber o que tinha no próximo capítulo. 

Quando tudo terminou havia silêncio, banho tomado, roupas confortáveis e abraço. Cheiro no cangote, mão na mão mas nenhuma palavra diferente. Às vezes o amor é isso, um silêncio não desconfortável que poderia ser traduzido em qualquer palavra mas não é. É o toque, o carinho, a presença, o olhar, o sorriso ou tudo isso acontecendo, sendo diluído no tempo e rotina. Hoje em dia, olho no olho é caligrafia e eu consigo escrever sua poesia.