2013/03/25

Dia 1474


Se eu fosse escrever uma carta de despedida seria mais ou menos assim...
"Percebo que a cada suspiro eu tenho só a minha mente. O norte é para o sul o que o relógio é para o tempo. Há leste e há oeste e há vida por toda parte. Eu sei que nasci e eu sei que morrerei. E os sentimentos, deixados para trás. Toda a inocência perdida de uma vez. Significante, entre as linhas. O oceano está cheio porque todos estão chorando. Geralmente suspeitamos dos demais o que sentimos em nós. Certo?
Me perdoe aos amigos que perdi. Por que geralmente dizemos sempre 'eu vou estar lá' e de uma hora para outra tudo se esvai. Erramos sim. Uma, duas... Dez vezes. Tudo culpa da nossa idiocracia. Magoamos pessoas boas sabia? Estamos engolidos no orgulho jamais voltando atrás ou qualquer coisa assim. Fazendo o que sempre falamos que não iriamos fazer. Então não mandei nenhuma mensagem. Nenhuma campainha tocou. Nenhum telefonema. Nenhum e-mail chegou e nessa hora final o arrependimento bate e me da vontade de falar a palavra: Desculpa.
Não sei como pareço aos olhos do mundo, mas eu mesmo vejo-me como um pobre garoto que brincava na praia e se divertia em encontrar uma pedrinha mais lisa uma vez por outra, ou uma concha mais bonita do que de costume, enquanto o grande oceano da verdade se estendia totalmente inexplorado diante de mim. Todas as pessoas tomam os limites de seu próprio campo de visão, pelos limites do mundo.

Eu sempre pensei que a felicidade depende muito mais do que temos dentro da cabeça do que dentro de nossos bolsos. Mas parece-me os homens absolutamente não terem percebido o poder do amor. Então não chore. Não se revolte. Compreenda. Aquela historia de 'as pequenas coisas, não tem nada maior.'
E poucos vão entender o meu cansaço do mundo. Talvez achem de primeira que é apenas um ato de chamar atenção ou, outrora achar que é apenas fraqueza. Daquelas acumuladas. Ou até apenas uma, uma sensação de: o que é mesmo que se passa? Desprovidos de caráter e coragem, desatentos ao próprio tesouro... Caem.
Há um tempo para partir, mesmo quando não há um lugar certo para ir. E o meu tempo chegou. Provavelmente não vamos ter mais a oportunidade de tomar um café juntos. De rir juntos. De dar um abraço juntos. Não vamos poder conversar sobre o tempo ou o futuro. Não vamos poder falar mais sobre os devaneios futuros que jamais acontecerão.
Mas tem motivo pra viver de novo, dentro de cada um. E o amor da minha vida? Ela vai chorar e chorar e chorar, talvez chorar por dez anos lembrando da minha mão na pele, da minha palavra no ouvido, do som da minha risada no silêncio de nós. Uma hora ou outra, em qualquer lugar ela vai se pegar tentando lembrar o que aquela cena te lembrava. E é ai que em súbito ela vai dizer: É ele.
Acreditem. Eu amei. Com cada palavra e cada gesto. Do meu jeito. Talvez apressado ou sem pressa eu disse ou quis dizer tudo isso. Mas principalmente, de coração.
Com o tempo meu bem, todos nós nos tornamos apenas lembranças."
Eu termino, rezo alguma oração e bla bla bla... Vou para um lugar bem longe. Bem bonito também, afinal seria minha ultima imagem. Odeio quem quer acabar com a própria raça e atrapalha a vida dos outros. Todos nós deveriamos mesmo é ser como os elefantes que quando vão morrer se afastam. Corajosos, aceitam seus destinos. E só. Dai a gente apenas some no infinito. O mundo anda tão complexo, tão irritado e tão ocupado que nos esquecemos da cor que tinha o céu.

Nenhum comentário: