2019/03/31

Dia 2459

Nós arrancamos tanto de nós mesmos para nos curarmos mais depressa das coisas, que ficamos esgotados perto dos 30 anos. E temos menos a oferecer toda vez que começamos algo com alguém novo. Mas se obrigar a ser insensível para não sentir alguma coisa… Que desperdício! Faz muito tempo, muito tempo mesmo. Tanto tempo que eu não lembro quando foi a última vez. Sentir o gosto do beijo molhado, do calor do corpo encostando devagar. Do abraço que acalenta. Do carinho na mão. Do sexo. De me sentir especial. Mas era um casal perfeito, eu e minha solidão.
Logo eu que gosto de coisas tão simples, que fico feliz com quase nada sempre me exigiram quase tudo. Eu digo "espera um pouco, vou passar um café pra nós", e gosto do cheiro do café fresquinho. Do silêncio da minha casa na madrugada. Das minhas botas surradas. Do cheiro do mato molhado e de subir montanhas mesmo que essas sejam de dentro do meu coração. De escrever bilhetes aos outros. De gatos, eu adoro gatos. De fazer carinho em cachorro de rua. De fazer amizade com crianças. De me cobrir bem quentinho em dias frios e ficar ouvindo o vento do lado de fora da janela. De melodias combinadas. Do cheiro dos cabelos dela.
As coisas mudam, mas isso não significa que elas melhoram. Ás vezes temos que apenas aceitar que elas mudam, que as pessoas vão, que outras coisas acabam e que nós temos que seguir em frente. Seguir em frente é a parte mais difícil. Mesmo que a saudade de vê-la deitada de calcinha me falando sobre as teorias que eu nem entendia me force a lembrar dos momentos que eu não aproveitei. Mesmo que aquela rua continua a ser nossa. Que eu nunca conseguirei levar outro alguém naquele café da esquina. Mesmo que você esteja presente sempre, como se fosse um mal hábito, eu sei, vou ter que conviver com isso.


Eu mudei e de repente minha vida se foi e o acaso fez parecer valer. Eu via tanto medo ao meu redor. Sabendo disso, eu me enchi de amor. Dizer verdades pra poder vender essa noite eu tive que acordar um pouco forte e entender minhas dores, secar meu corte. Meu coração que ainda aponta o norte, to tentando me entregar de novo. Mas por amor eu sei que parei aos meus quase 30. Porque estou me curando, ainda estou me curando.

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