2023/09/12

Dia 2522

A ponta da caneta secou. Justo no estrofe de mais impacto a bendita da caneta secou. Eu quis rasgar as páginas, jogar o caderno longe ou quebrar a xícara mas eu não fiz nada. Engoli as palavras como a caneta, a seco.

Não quero enlouquecer para poder escrever, eu escrevo para não enlouquecer. Algumas palavras são o veneno e o antídoto. Tudo depende da dose e do tempo. É que ás vezes a overdose não vem como a gente espera. 

Uma alma tão barulhenta quanto a minha e ironicamente, a única capaz de compreender os meus silêncios. Esse é um tempo esquisito, parece que a gente tá se quebrando e se concertando, tudo ao mesmo tempo. 

Comecei a fazer natação faz pouco tempo e descobri que há uma coisa engraçada sobre estar debaixo d'água. Dentro da piscina azul é um silêncio absoluto. Chega a ser constrangedor. Mas, de alguma forma aquieta minha cabeça e só há o barulho da água enquanto olho para aquele azul infinito. Cada mergulho é como se o mundo parasse, o relógio não girasse e por fim uma paz, mas a cada vez que subo de volta é como se todos os barulhos do mundo voltassem simultaneamente me empurrando pra trás. Lá em baixo parece que estou caindo devagar, pra dentro de mim. 

No fim, escrevi sobre minha pele pálida algumas palavras para que quando a caneta secasse a mensagem não apagasse ou ficasse esquecida no meio dos muitos, milhares de pensamentos automáticos que estão sempre aqui. No fim, a gente escreve para não falar sozinho. 

São apenas palavras molhadas na borda da piscina e a gente não sabe se afunda ou se emerge.

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