2013/07/01

Dia 1549

De volta de um bar. Do mercado. Da casa da sogra, tanto faz. Estávamos de volta. A semana tinha sido a mesma coisa. Contas que chegavam pelo correio. Filas em todos os lugares. Trânsito onde quer que a gente fosse. Pilhas de papéis amontoados nas nossas mesas. As voltas do relógio que contavamos. A plantinha da varanda morreu porque esquecemos de colocar água, droga. Amanha vamos ter que sair e comprar outra. Sinceramente? Nada disso me questionava porque eu não estava dando atenção. Na verdade, nada disso me interessava. Fazia tempo que nada me chamava atenção realmente. Tudo estava tão desgostoso, tão entediado, tão... chato. A repetição diária, rotina incansável.
Mas de repente, eu a via saindo do banho. Com os cabelos ainda meio molhados. Meio seco. Com a toalha em volta do corpo. Era tão simples, mas tão, tão sexy. Por instinto de homem ou animal, não sei, me deu vontade de ataca-la. Tirar a força aquela toalha, abusar dela. Mas não, tinha que ser mais que aquilo. Fazia muito tempo, muito tempo mesmo que eu não olhava minha mulher daquele jeito. Era tão perfeita. Estava tão linda. Sempre foi. E quando foi que parei de olhar para ela com outros olhos? Ah, eu sou um estupido. Eu queria falar tantas coisas lindas pra ela. Deveria? É claro que sim.
Eu cheguei perto dela, bem devagar. Ela se assustou. Mas sorriu pra mim. Era o sorriso mais lindo do mundo naquela hora. Eu me casaria com ela de novo ali mesmo. Se ela quisesse. Segurei sua mão, como se fosse quebrar. A aliança ainda brilhava como no dia que comprei. Dai eu fico pensando que idiota eu fui de esquecer de reparar nesses pequenos detalhes. Ela cortou o cabelo? Ela fez a unha? Comprou um novo perfume? Essa é uma camisola nova ou é a antiga, ja não sei mais. Acho que ela sempre faz as mudanças esperando que eu a note e eu nem consigo saber onde estão meu sapatos. Ok, eu errei. Tem um diamante deitado do meu lado todas as noites e eu só consigo ver as contas chegando. A disposição dos móveis na sala. A visita do final de semana e se a casa esta apresentável para os convidados. O chato sou eu. Admito. Mas naquela noite não.
Consegui olhar nos olhos dela. Era um universo inteiro ali me esperando. Pra que eu conversasse com ela, brigasse, beijasse ela, sorrisse pra ela, me chateasse... Tudo que eu quisesse por que ela estava sempre ali. Geralmente eu espancava ela com palavras, mostrando erros, erros, erros... Pra onde eles foram agora? Ela é perfeita. Eu teria que inventar elogios pra ela, por que era muita coisa boa que eu sentia por ela naquele momento. Eu só queria abraça-la, segura-la entre meus braços. Aperta-la contra meu peito, pedir desculpas, dizer que a amo e que ela é linda e maravilhosa. 
Alisei seu rosto, ela ficou sem graça. Mas isso é o certo, certo? Fazer incrivelmente segundos de sem-gracisse mexerem com o coração de ambos, acho que não tem mais nada que pode definir o amor. Eu a beijei. Mas não era só um beijo. Era devagar, suave, quente, molhado... Ao mesmo tempo tudo isso ao contrário. Parecia mais o encontro de duas galáxias se chocando. Um encontro perfeito. Eu me sentia tão próximo dela. E realmente estava. Senti vontade de fazer amor. Enlouquecidamente e perdidamente apaixonado por ela. Senti vontade de tê-la só pra mim, fazer ela se sentir segura de si como mulher. Fazer ela se sentir feliz e leve. Fazer ela se sentir amada. E por que não? Por que não?, eu digo... Eu a deitei, encostei nela como nunca. Era a mulher mais linda, mais encantadora, mais sexy, mais mulher que eu ja tinha visto em toda minha vida. Totalmente nua na minha frente, a toquei como nunca havia feito. Como nunca tinha acontecido antes com outra mulher. Era minha primeira vez com a minha mulher que estou casado á anos. É até engraçado dizer isso, escrever isso. Meio adolescente até. Mas era sim. Ela sentiu prazer como mulher, como minha mulher, como minha esposa... Como minha parceira, minha amante. Nunca vi ela gozar tanto, com tamanho prazer. E eu também. Foi uma noite incrivel pra gente. Fazer amor de novo? E porque não?
Depois ficamos deitados juntos, abraçados, colados, inseparáveis. Conversando sobre as praias, cabanas, passeios, viagens, acontecimentos, lembranças... Mundos inteiros que tinhamos e nem sabiamos. Era apenas nós, sendo nós mesmos de novo. Esquecendo o mundo por uma noite para sermos marido e mulher apenas. Sem grandes interesses a não ser de... Estarmos juntos. E apaixonados. Muito apaixonados.
E então eu percebi que embora a rotina tome conta de você, que o dia te engula com problemas e que a vida parece já não ser mais tão emocionante quanto quando você tinha 20 anos... O importante é você ter quem amar. E ser amado de volta. Ter quem amar todos os dias. Por que é realmente muito importante quem você escolhe para ficar ali, nos dias ensolarados e nos dias de trovão também. E é bom saber que você de alguma forma, consegue se apaixonar todos os dias. Assim como eu, que me apaixono todos os dias pela mesma mulher. A minha mulher.! Meu mundo inteiro.!

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