2016/10/12

Dia 2327

Segunda-feira de Outubro. São 7:07AM. Av. Paulista. São Paulo/SP - Brasil. Parei no Fran's Café para o dejejum. Ainda lembrando de ontem a noite. Aqueles olhos...
Estou aqui para uma consulta médica e não consegui tomar café da manhã em casa. Minha consulta é ás 8:00AM então cheguei cedo. Faz 17°. Pedi o "speed 1", eles dão esse nome quando você só quer comer um pão na chapa e café com leite. Tem um rapaz novo sentado á minha frente. Usa óculos e parece aqueles jovens de cursinho pré-vestibular que fica ali no prédio da Gazeta. Pediu uma água sem gás e lê conversas no celular. Há mais dois homens ao meu lado direito. Claramente de escritório. Um deles é casado. Ambos de notebook respondendo e-mails. Pediram café pequeno sem açúcar. Vestem social e tem uma valise de couro sintético. Parece uniforme e que são do mesmo lugar mas eles nem se conhecem. Se algum dia me ver sentado em um lugar desses, pode ter certeza que estou reparando em você e provavelmente estou escrevendo sobre você.
Sentei aqui no fundo então consigo ver a fileira de oito mesas até a porta da frente. O lugar todo é envolto de janela então consigo ver a rua. Eu adoro esses lugares. É tão bohêmio e inspirador. Eu poderia escrever um livro sentado aqui. Aliás, sem noticias interessantes no jornal do mêtro hoje e até meu horoscopo parece não estar favorável. A Paulista esta cinza, bem cara de São Paulo mesmo. Mas eu adoro essas cores, parece até filme do Almodovar. O vermelho marlboro do farol, o letreiro luminoso da loja em frente. A tira verde indicando o nome da estação do mêtro Brigadeiro. As cores passando, as pessoas andando. São Paulo em movimento ás 7:23AM de uma segunda-feira qualquer.
Daqui a pouco vou me levantar, pagar no caixa o meu café e ir embora. Hoje estou escrevendo sobre este lugar porque quero voltar aqui um dia desses. Com companhia é claro e tomar um café americano quem sabe. Escrever sobre esse dia também ou apenas vivê-lo. Meu dia hoje vai terminar lá pela 00:00hs e nesse meio tempo vou pensar no noivado, na minha família, na minha promoção, em viajar o mundo, em comprar uma máquina fotográfica, em dirigir um carro novo, em me mudar para um apartamento com varanda, em ter um filho ou em não ter um filho. Em fazer amor com ela de novo e ver aqueles olhos...
Hoje escrevo mais feliz porque sou um homem apaixonado. Não apenas pela minha mulher mas também pela vida. Porque tenho amor em mim e porque alguém me quer bem. E esse mesmo alguém eu vou convidar para um café aqui. Mais um dia eu vou ter vivido aquilo que outra vez escrevi. Ou não, ou talvez eu viva outro dia não escrito e faça novas histórias mas que nunca vou escrever. Porque sabe, tem coisas que podemos apenas deixar fora das linhas. Isso é viver os dias, é viver os sonhos.
Eu gosto de me sentar aqui. Se me perguntassem do que mais gosto de fazer eu diria que é isso. Sentar nessas cadeiras e pedir um café que vem acompanhado daquelas bolachinhas embaladas. E fica esse cheirinho de café fresco e chocolate no ambiente. Eu gosto. Sentado aqui vendo apenas o movimento, sem pressa. Observando histórias se cruzarem entre a Av. Paulista e Al. Santos. Gosto daqui porque me faz pensar. O ambiente me faz pensar. As pessoas que vem nesse tipo de lugar tem outros jeitos que normalmente não vemos por ai. Tem outras conversas.
Bem, eu me formei em Marketing em janeiro desse ano e uma das coisas que aprendi é em como os lugares fazem você propositalmente apreciar estar ali. Até a disposição dos móveis e a colocação dos produtos nas prateleiras. Até mesmo o aroma do lugar é usado para atribuir nessa questão de atração cliente-ambiente. Tenho que dizer que isso funcionou comigo, porque propositalmente eu gosto de estar aqui. Para falar a verdade, esse é meu lugar favorito. Já vim aqui com algumas companhias, mas nunca nenhum amor. Nunca trouxe ninguém á esses lugares porque são especiais pra mim. Reuniões de amigos tudo bem, mas mostrar esses lugares com o coração é um pouco complicado. Sabe, "posso te levar para conhecer o meu lugar predileto?". Não, nunca. Como quando você é criança e tem um lugar secreto especial. Esse é o meu.
Escrevi muitos dias aqui, dos felizes aos mais tristes. Escrevi sobre você se algum dia esteve do meu lado também. Quase certeza que eu tomava um expresso com chocolate e creme, eu acho. Enquanto estou sentado aqui e escrevo, tomando meu café quente... Eu sou livre. São 20, 30 minutos nessas onde não preciso me preocupar em me justificar por nada. Não preciso me preocupar com nada além da minha caneta e do meu papel. Porque uma caneta não te julga e não te pressiona. Não te aborrece ou te entristece. Ela fica lá esperando você dizer tudo que quer dizer. E aqui se eu quiser gritar é só colocar tudo EM LETRAS GRANDES que não vou machucar ninguém.
Queria trazer aqui a única pessoa que eu sei hoje que não vai embora. Assim não corro o risco de estragar as memórias desse lugar. Alguém que vou poder dizer "Quando eu sumir, quando o mundo todo não me fizer sentido e você não souber notícias minhas é aqui onde você deve me procurar primeiro". A questão é essa: Você viria? Eu iria. Passaria pela porta de madeira rustica com adesivos em verde e procuraria em qual sofá esta sentada. Se é para chorar que vamos chorar juntos. Se for para rir, me deixa contar a piada. Se for para escrever que comece o parágrafo para que eu termine. Tudo bem? Só não deixe o café esfriar.

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