Gosto da minha vida.
É verdade. Apesar dos pesares. Eu reclamo pra caralho, mas minha vida é boa. Eu gosto dela porque ela é só minha. Acho que é a unica coisa que é apenas minha realmente. O resto, tudo todo mundo tira um pedacinho uma hora ou outra. Meio fora de controle, frenético. Fazer o que? "É a vida" repetimos, "É a vida".
Meu mundo se resume a palavras que me perfuram, a canções que me comovem, a paixões que já nem lembro, a perguntas sem respostas, a respostas que não me servem, à constante perseguição do que ainda não sei. Meu mundo se resume ao encontro do que é terra e fogo dentro de mim, onde não me enxergo, mas me sinto. Porém, um bastardo da minha própria existencia. A filosofia barata de buteco ou de qualquer canhoto, rascunho de canto de algum livro, rabisco da ultima folha do caderno.
Sinto-me completamente em liberdade para fracassar. Sim, seja um fracassado. Perca a mão do baralho. Você vai entender a parte de liberdade que eu me refiro aqui. Perdendo, sorrindo, gozando da própria desgraça. E o que temos á mais nesse mundo, se não a divindade de... Sorrir. Se não tiver um motivo pra sorrir hoje, lembre do de ontem, do de anteontem, de outro dia qualquer. Só não desista de manter, sempre que der, um sorriso no rosto.
No entanto, quanto mais escrevo, mais me dou conta de que não há fórmula que dê garantia para nossas atitudes, de que não há pessoa neste mundo que não possa nos surpreender, de que tudo o que vivemos são tentativas, e que inútil, inútil mesmo, nenhuma é. A gente vai embora enquanto os outros – o que não é de estranhar – continuam onde estavam, fazendo o que sempre fizeram, e, quando voltamos, ficamos surpresos e por alguns momentos emocionados de ver que eles continuam lá, e também tranquilizados pela ideia de que existe alguém passando a vida inteira no mesmo lugarzinho, sem nenhuma vontade de sair dali. Me perguntam, assim, o que você acha de tal coisa. Pô, eu não sei o que eu acho. Na hora eu acho uma coisa, meia hora depois eu posso achar outra. Eu não tenho opinião definida sobre nada. Não acho que isso seja insegurança. Acho que é abertura, acho que tudo é passível de uma outra interpretação. Uma visão secreta que eu tenho sabe? O mundo inteiro dentro dos meus olhos, ta dentro de mim entende? Dai eu vejo o mundo do meu jeito. Do meu jeitinho mesmo. Nada ta ruim aqui dentro, tudo pode ficar melhor cara. É incrivel. Nada me bate aqui dentro. Mas afinal, o que eu falar de mim vai fazer alguma diferença? O ser humano sempre julga pela a aparencia mesmo! Que importa? Importa que, do lado de dentro dos meus olhos, bem la, guardadinho eu tenho um mundo inteiro que ninguém sabe, ninguém vê. Na verdade, ninguém nem desconfia que ele existe, mas ele existe.
Certas coisas a gente precisa aceitar sem bater o pé ou fazer cara feia. É assim, pronto e acabou.
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