2015/08/22

Dia 2120


Uma vez eu me apaixonei de verdade. Coloquei naquele amor todas as coisas que aprendi nos livros, filmes, versos e histórias que tinha visto antes dele acontecer. Acrescentei as frases românticas, as cenas marcantes, as estrofes picantes e as linhas incríveis. Mas adivinha só? Não deu certo. Ela partiu. Partiu do lugar e também o meu coração. Dói, até quando estamos bem. Amar intensamente dói. E eu amei intensamente uma vez. Aliás, ela foi o meu "era uma vez..." Mal sabe ela que minha intenção sempre foi arrancar sorrisos e não lágrimas. E já foi. Sempre vai. 

Acabei esfriando, como café largado em cima da mesa. O tempo passou, muita coisa mudou. Mas, e se tivermos no total controle, não perderíamos a beleza do caos? Agora é como se eu nunca mais conseguisse completar uma história. Sempre terminar em reticências. O fato de eu ainda não ter encontrado a forma da ideal escrita, me trás incômodo. É incômodo também ler algo já escrito por mim, a sensação que possuo é de que algo ficou incompleto e por descuido acabei por deixar. Essa completa confusão, que dia pós dia vem me desgastando, faz com que eu me sinta breve, desnecessário e desinteressante, e assim, minha escrita é interferida. Sei que escrever é o melhor remédio a uma alma angustiada, porém, remete-me a lembranças, que talvez fosse melhor se ficassem esquecidas e enterradas. É tortura cutucar a ferida que acabou de cicatrizar, pois posso fazê-la sangrar novamente e me fadar ao abismo mais uma vez. 
Essa relação entre nós é feito apego e desespero, elo feito cão e gato, muitas vezes leva ao desespero e outras ao nirvana. Afundo-me cada dia um pouco mais em minha alma cinzenta, e minha vida preta e branca. É cômico, mas a minha grafia esquizofrênica já se tornou um dia poesia. Porém, minhas horas gastas tentando encaixar uma palavra que dê sentido ao resto da caligrafia, muitas vezes se tornam em vão. Ninguém lê, ninguém comenta, ninguém se manifesta a respeito. Não sou uma merda de escritor, e não quero parecer tal, mas anseio que, quem sabe um dia, alguém sinta quando ler o que senti quando escrevi.
Ela era do tipo que adorava cheirar flores. Eu sempre fui do tipo “não sou flor que se cheire”.

Um comentário:

Anne falheiros disse...

Hey! Só queria dizer... eu sinto. Cada palavra... cada vírgula.