2016/01/05

Dia 2182

Quando vemos um inseto ser devorado vivo no chão por outros predadores. Uma borboleta por exemplo, recém caída de seu casulo e sem sol. Largada no chão para morrer. Há um formigueiro por perto e ao sentirem debaixo da terra o tombo da borboleta caída, saem todas em busca do ocorrido. Milhares de formigas devoram a borboleta ainda viva, sem poder fugir ou voar. Sem ao menos, sentir o gosto da liberdade. Vemos ela se debater enquanto uma a uma as formigas a devoram. A cena ali apresenta dor, mas não a sentimos porque não ouvimos se quer um grito de agonia. Um pedido de misericórdia como um tiro na cabeça e fim. É doloroso e mortal.
Para algumas pessoas e isso posso dizer para mim mesmo, a dor é como a beleza da borboleta caída. Não gritamos e nem pedimos misericórdia ou socorro, porém, estamos a senti-la até a última mordida.

O que estava sentindo não era bem tristeza, era dor. Aquilo doía, e não é um eufemismo. Doía como uma surra. Quase que falei "Ei, vai com calma. Meu coração não é saco de pancada."
Acho que as pessoas mudam o tempo todo, sabe? Até eu mudei, mas não foi uma opção minha. Eu não acordei e pensei: “hoje eu vou mudar”. Foi acontecendo aos poucos. E eu não pude fazer nada.
Você leva um tapa e chora. “Seja bem vindo”, eles dizem. Os olhos doem com a claridade, barriga dói com as cólicas. Mais tarde vem os tombos, ser obrigado a comer verdura, chegar na escola antes das 7h, não ir a festa porque é muito novo, não ir ao parque porque é muito velho, o primeiro coração partido, perna quebrada, prestar vestibular, reprovação, saudade, falta de fé, crise no casamento, emprego errado, traição, doença, morte. E a vida acontece nesses espaços. Vai sempre acontecendo.

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