2019/06/14

Dia 2467

Não é sobre uma conversa de botas batidas, nem muito menos sobre versos feitos e finais de frases que combinam no diminutivo, assim, bonitinho mesmo. Não é sobre a noite que me abraça e cuida de mim, nem tão pouco a lua que me faz companhia. Talvez sobre essa rua poética. Talvez. 
Eu sou a terceira pessoa da oração que não é prece. O sujeito oculto da frase mas que não se esconde. Sou até as reticências que tornam-se ponto final, no final. Mas tudo isso não é sobre mim, ela ou sobre o barulho do gato no telhado. Não é sobre o pó de café sobre a pia ou o barulho da chaleira gritando na boca do fogão que não beija a gente.
Eu sou aquele pé de mesa meio torto mas que não vai a lugar nenhum e balança e balança a taça de vinho em cima de mim. Eu não passo de um pobre homem rico de idéias que vai até o céu sem tirar os pés do chão. E se você leu até aqui pode ter certeza que estamos juntos mesmo que separados. 
Só sei que isso não é sobre o frio na espinha, nem sobre os pelos arrepiados em brisa leve. Nem tão pouco sobre as voltas do relógio ou a ansiedade de um amanhã incerto. Tudo isso é sobre saudade. Não qualquer saudade que se resolve com uma ligação. Tenho saudade de momentos que nunca tive e espero por ela na janela, como se fosse cruzar a esquina a qualquer momento e vir correndo me abraçar. 
Hoje vou deixar teu sorriso na estante pra eu ter um dia melhor. Porque tudo isso é sobre o agora, a certa hora que não espera e me trai. Trai pela razão de ter passado mais um minuto e já tenho saudade do minuto anterior e você não faz ideia de quantos minutos atrás eu queria ter voltado. Mas quem sabe essa essa noite seja sobre ignorar o nascer do sol pra tentar dormir de novo e sonhar. Talvez, tudo isso tenha a ver com saudade mas ainda mais, tenha a ver com você e eu.

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