2022/11/19

Dia 2500

Ouviu baixinho o timbre da minha voz com um tom pouco rouco, pouco acabei de acordar. Palavras batiam nos pelinhos do pescoço fazendo a pele arrepiar. A mão sobre a mão. A perna dentro da perna e as cinturas se encaixavam. Já era tarde, tão tarde que já era cedo. 

A mão viria pra perto do rosto, um afago devagar, uma respiração segura como se nada de ruim no mundo fosse mais acontecer. É, foi nesse dia que a Terra parou. 

Um facho de luz insistiu em invadir o quarto pela pequena fresta da janela. Um risco luminoso cortou a escuridão das quatro paredes. Expôs, discretamente mas expôs, parte do queixo, parte do colo, parte do seio e minha mão sobre a mão dela. São muitas partes que eu adoro.

Quis morrer para que aquele momento fosse o último porque eu estava realmente feliz. Quis viver para sempre e desejei que aquilo durasse mil anos. Mas momentos são apenas momentos e temos uma coleção deles, uma porção deles.

É que ela levantava antes que eu de camiseta e calcinha para fazer um café pra nós dois porque sabia que eu gostava. Ela tocava uma playlist com Pearl Jam no carro quando sabia que eu tive um dia difícil. Me dava livros de presente porque sabia que eu, por mais que não tivesse tanto tempo para ler, iria tentar. Fazia carinho na minha nuca aleatoriamente, porque ela sabia... Ela sabia. 

A gente se olhava mas mais que isso a gente se enxergava. E enxergar alguém com outros olhos hoje em dia é raro. Raríssimo.

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