2014/05/20

Dia 1852

 Quando eu estava sozinho percebi...
Percebi que tinha muito mais tempo pra organizar minhas coisas, estudar, ver filmes chatos, trocar de canal com o controle remoto que ficava largado no sofá, dormir no sofá, acordar no sofá, fazer miojo porque não tem mais nada na geladeira, entre outras coisas. Foto sozinho a gente fica com cara de idiota, fica, sozinho, sabe você e a parede? 
E na minha casa, a válvula de ligar o chuveiro era só uma válvula de ligar o chuveiro.
Bom, percebi detalhes também que se eu estivesse acompanhado não perceberia por exemplo a flor que de modo estranho atravessou a grade do portão só pra expor sua beleza do lado de fora. Meio que de alguma forma absurda gritasse "Hey, eu estou aqui você me vê agora?". Porque aquela plantinha lutou pra aparecer entende? E talvez eu nunca a tivesse olhado porque, porque... Por que meus olhos estavam em outros lados. Meu Deus, quantos "porque" e "por que" aparecem quando estamos sozinhos. 
Percebi também que sentar no meio do cinema, sozinho, não é saudável. Por mais que o filme seja interessante as escadas do cinema parecem maiores quando o filme acaba e todos estão saindo. Ah, e um detalhe interessante é que ligar o celular pra ver mensagens se torna um pouco inútil nessa parte. Essa parte de estar sozinho. E por mais incrível que pareça andou sobrando dinheiro na carteira no fim do mês. 
Por fim, percebi que sozinho minha vida parece um barco afundando. E não tem nada lá, nem lá, nem lá também.
Porém...
Quando estava acompanhado, precisava ter um dia de 30 horas. Eu tinha esquecido os filmes de super-heróis ou a coleção de ação. Nunca achava o controle remoto porque ele sempre estava na geladeira, debaixo do travesseiro ou dentro de alguma gaveta. Eu fazia compras de mercado e sempre tinha aqueles iogurtes sem gosto mas que fazem bem pra saúde. Haviam mais porta-retratos pela casa. 
Válvulas de ligar o chuveiro se transformavam em cabides de calcinhas que magicamente iam parar depois no cesto de roupa suja e eu nem encostava nelas. 
Andar na rua era engraçado, ria-se de um tropeço na calçada e haviam sustos de buzinas de carros ao atravessar o farol. A maioria dos detalhes passavam desapercebidos porque um par de olhos tomavam toda a minha atenção. 
Quando estava acompanhado percebi que as poltronas do canto do cinema são mais confortáveis que as do meio. E que no fim da escada sempre tem um acontecimento incrível de mãos dadas meio que automático.
Ah, e da pra saber também que baterias de celular não duram pra sempre então é bom sempre ficar de olho. E assim como a bateria, o dinheiro.
E por fim, me dei conta que não era um barco mas sim um avião decolando. E que tem muita coisa aqui, lá, em todo lugar. E também que... Que felicidade só é real quando compartilhada. 

Um comentário:

Anônimo disse...

*-*