2015/07/22

Dia 2123

Eu sou daqueles que tenta fazer o papel direito entende? E se meu papel é ser o cara certo pra ela, que seja. Eu tenho que fazer.
Fomos a um bar descolado da cidade. Música boa, sempre cheio. Íamos lá á tanto tempo que até os seguranças nos conheciam e deixavam a gente passar direto sem revista. Geralmente chegávamos, bebíamos um pouco e depois íamos embora antes de começar a amanhecer. Mas, naquele dia não. Parece que eu ficaria um pouco mais.
Ela estava linda, sempre chamava atenção com os longos cabelos. Sorriso aberto, seios fartos, a bunda nem se fala. Já tinha passado daquela fase de garotinha e já era mulherão. Um corpão de dar inveja. As unhas pintadas, movimentos delicados com os dedos pra pegar a maquiagem, guardar o celular e essas coisas. Ela estava incrivelmente linda naquela noite. Já eu, por outro lado não sou muito desses que as mulheres olham. Meio a meio, nem grande nem pequeno. Barba desenhada mas já comprida. Jaqueta preta e jeans escuro. Botas, não pode faltar as botas. Tatuagem apache no braço e aquela cara de quem não dormiu a noite anterior.
Levantei por alguns instantes pra buscar nossas bebidas com o barman. Quando voltei, ela estava no celular. E fazemos aquele tipo de casal moderno onde podemos um mexer no celular do outro sem problemas. Eu não chego brigando com ela quando vejo algo que não gosto, primeiro tento escutar o lado dela e tal. Mas no celular haviam mensagens de minutos atrás, de um cara falando que adorou ver que ela estava ali naquela noite. Que era bom revê-la e que era pra tentar me despistar para se encontrar com ela ali mesmo. Achei aquilo um absurdo e uma puta burrice do cara. Íamos la praticamente 2 sábados no mês. Ela estava sempre comigo, aliás ela não ia muito pra outros lugares que eu não estivesse perto. Mas o que me intrigou foi como ele tinha o número dela. Ai lembrei que mais cedo ela me passou via Bluetooth algumas músicas. Sentia o cheiro do idiota e da burrice dele. Mas então deixei ele se sentir o gostosão um pouco. Sai do bar e fui até o carro buscar a Lady Laura, uma beretta prateada, recém polida hoje cedo. Nem cheguei a perguntar pra ela o que era aquilo, confiava muito naquela mulher e já sabia antes dela até o que era. Ela achando que era eu brincando com ela, mas enfim.
Quando voltei pro bar, lá estava ele sentado na minha cadeira. Ele nem me viu chegando. Me sentei na cadeira do lado e perguntei quem era ele. Ele, meio se achando o tal e meio nervoso foi se levantando da cadeira. Saquei a arma e coloquei o cano na rótula dele. 
- Você pode até correr, mas daqui 3 metros vai começar a correr mancando de uma perna. Senta ai! - ele sentou e o semblante dele era cômico. Eu quase ri, mas tinha que manter o personagem. - QUEM É VOCÊ RAPAZ? QUE FICA MANDANDO MENSAGEM PRA MINHA MULHER?
Ele mal conseguia olhar pra mim. Mas eu tinha que parar com aquilo antes que ele se borrace nas calças. - Sabe quem eu sou filho? - Olhando bem sério agora - Eu sou o cão de guarda dela. 
Ninguém encosta um dedo nela sem ser eu! E presta bem atenção no que eu vou falar: para de ficar mandando mensagem pra mulher dos outros pegando o número delas se achando o inteligente.

 - Nessa hora eu engatilhei a arma, ouvi aquele estalo da mola do pente empurrando a bala pro cano. Coloquei a arma no testículo esquerdo dele - e se eu ver você de novo nesse bar, você volta pra casa com uma bola só.
Tirei a arma do saco do infeliz e ele foi embora com mais dois idiotas. Vi eles saindo pela porta do bar. E eu não conseguia parar de rir. 
Mas mesmo assim, tenho que dizer que não preciso de uma arma pra me garantir. Na verdade, não preciso de nada. Eu sou daqueles que tenta fazer o papel direito entende? E se meu papel é ser o cara certo pra ela, que seja. Eu tenho que fazer. Ninguém encosta nela. Nunca. 

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