2018/01/05

Dia 2419

Eu estava lendo "Maktub" de Paulo Coelho esses dias e me deparei com o seguinte crônica: Do Chá
"No Japão, participei da conhecida “cerimônia do chá”. Entra-se num pequeno quarto, o chá é servido, e nada mais. Só que tudo é feito com tanto ritual e protocolo, que um a prática quotidiana transforma-se num momento de comunhão com o Universo. O mestre do chá, Okakusa Kasuko, explica o que acontece: 'a cerimônia é a adoração do belo e do simples. Todo seu esforço concentra-se na tentativa de atingir o Perfeito através dos gestos imperfeitos da vida quotidiana. Toda a sua beleza consiste no respeito com que é realizada.' 
Se um mero encontro para beber chá pode nos transportar até Deus, o que dizer das outras oportunidades que acontecem todo dia — e não nos damos conta."
O nosso frenesi não nos deixa aproveitar o simples. Quando foi a última vez que você se sentou em algum banco de praça ou parque ou qualquer outro lugar que seja, sem se preocupar com horários ou dentro da sua cabeça alguma obrigação ou coisa? Quando foi a última vez que desligou seu e-mail, telefone e messenger? Qual a última vez que ouviu sua música favorita, aquela que te faz pensar longe em outras coisas que não sejam seu trabalho, suas obrigações com família e amigos? Quando foi a ultima vez que tirou um tempo para você? Que desenhou na última folha do caderno, que cantou a música que tocava na rádio? Esse tipo de coisa é como se concentrar em uma oração. Você tem que tomar muito cuidado para que a cabeça não te leve a sua prisão diária de afazeres e obrigações. Não estou dizendo que devemos ser relapsos e relaxados, jogar tudo para o alto. Mas você, individualmente precisa de um tempo.



Quando se deparar com o reflexo do espelho não brigue com ele porque notou uma nova ruga e não foi avisado. Ela apareceu ali muito antes de você voltar a se olhar no espelho para reparar nos seus próprios detalhes. Não adianta relatar onde esta e o que esta fazendo em meio a mídias sociais se não esta revelando as fotos da viagem para mostrar a filhos e netos daqui e vinte, trinta anos. Porque o tempo, ele é seu amigo e inimigo ao mesmo acaso.
Isso tudo me faz lembrar de uma história de um homem que quando criança, reparou num casulo preso a uma árvore, onde uma borboleta preparava-se para sair. Esperou algum tempo, mas — como estava demorando muito — resolveu acelerar o processo. Começou a esquentar o casulo com seu hálito; a borboleta terminou saindo, mas suas asas ainda estavam presas, e terminou por morrer pouco tempo depois. “Era necessária uma paciente maturação feita pelo sol, e eu não soube esperar”, diz o homem. “Aquele pequeno cadáver é, até hoje, um dos maiores pesos que tenho na consciência. Mas foi ele que me fez entender o que é um verdadeiro pecado mortal: forçar as grandes leis do universo. É preciso paciência, aguardar a hora certa, e seguir com confiança o ritmo que Deus escolheu para nossa vida”. 
Queremos fazer vida em um dia e perdemos a mesma em semanas trabalhando loucamente. Queremos resolver um problema causando outros três, quatro. Tenha calma, seja confiante. Tudo vai acontecer, não tenha pressa. Abra mão do controle que você acha que tem. A vida nada mais é do que um fluxo constante como um rio que não para de seguir seu caminho mesmo com os obstáculos a frente. Seja simples, o simples é bem bonito. Tome seu chá!

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