2018/01/13

Dia 2421

Se você esta sozinho com seus quase trinta. Ou se chegou na casa dos trinta também. Não importa. Olha para o lado e vê a maioria das suas amigas casando, tendo filhos. Ás vezes até mais de um. Vê essa estabilidade de família, emprego, carro, casa e parece até que essas pessoas tem uma vida perfeita que poderia ser descrita na letra de uma música. Por outro lado, você vê alguns amigos viajando muito para lugares incríveis, outros passando a noite em bares e todos sorrindo com o copo na mão. Tem alguns que saem tanto que não da para acompanhar quem são as pessoas ao lado deles nas fotos. A vida então parece uma festa.
No meio desses dois cenários esta você. Sozinha. Sentada no sofá de meias e com sorte olhando para seu cachorro deitado por perto. Se apega a leitura e compra alguns livros pela internet. Lê metade deles. Se apega a filmes e compra uma dezena. Assiste a todos nesse mesmo sofá vestindo moletom porque é confortável. Alguns convites para chás de bebês e balada aparecem mas isso ás vezes parece tão chato. Não sair de casa parece a coisa mais sensata a se fazer aos finais de semana depois de arrumar as roupas amassadas tiradas do varal e tirar o pó da estante.
Precisa de um up. Decide várias coisas ao mesmo tempo. Que vai aprender a tocar algum instrumento, que vai iniciar algum curso, que vai aprender a fazer artesanato assistindo video aulas no youtube. Qualquer coisa que preencha o espaço de tempo imaginário dentro da sua cabeça. Ai você coloca na cabeça que precisa fazer algo da vida e começa a academia. Ser fitness, melhorar o corpo e quem sabe isso chama a atenção de alguém no trabalho ou dentro do mêtro. Quem não gosta de ser admirado por aqueles três segundos e meio ao olhar de um estranho? Muda o cabelo, investe na maquiagem e roupas que chamam atenção. Ou qualquer coisa que te faça ser notada porque, que droga ein... Parece que mesmo fazendo tudo isso ainda é invisível.
Aparece um ou dois que a primeira aposta é que essa pessoa é diferente ou que, realmente é uma atenção especial. Por fim descobre que era apenas sexo. Por fim descobre que o vazio ainda não foi preenchido nem pelas horas de academia nem pelo aplicativo do celular que te fez conhecer essas pessoas novas. Nem pelo último passeio no final de semana. Nem pela leitura do último livro. Muito menos pelo último filme. Então você olha para o cachorro sentado nos seus pés como se ele fosse te apresentar uma resposta óbvia pelas perguntas que sua cabeça anda te fazendo do porque se sente tão sozinha.
Se apega a religião. Se apega a uma amiga em particular. Se apegar em trechos de Martha Medeiros e Paulo Coelho. Se apega por fim a aceitar que na vida então é melhor estar sozinha do que se preocupar com todo o resto. Abraça a solidão como se fosse o melhor amante e aceita esse status de "melhor estar sozinha". Quem nunca? O fato é que não importa sua nova tatuagem, sua transparência na internet como se estivesse se sentindo a poderosa por estar sozinha ou a mudança radical no cabelo que fez no cabeleireiro que a colega do trabalho indicou. Entende? Nem mesmo se aparecer alguém legal. Nada disso preencherá o vazio dentro de você se você mesma não fizer isso. Minha dica (se é que posso dar uma) é: Faça amor consigo mesmo. Você só vai estar preparada a receber da vida uma outra parte dela, no momento que você não precisar de nada vindo externamente.  Seja companhia de outra pessoa ou qualquer coisa como aceitação, popularidade, reconhecimento e atenção.
Saiba quem você é. Descubra do que mais gosta se são ovos mexidos ou de gema mole. Encontre algo que goste realmente de fazer e faça isso sempre seja ler um livro ou tocar violão. Ou malhar, que seja! Tenha algum hobby. Você não mais se sentirá sozinha e estará preparada a receber alguém na sua vida. Pode ser que erre uma ou duas vezes ainda, mas vai conseguir uma hora identificar a pessoa certa. Aquela famosa metade da laranja e essa pessoa vai te fazer esquecer porque não deu certo com nenhuma outra mais porque vai te mostrar a parte mais bonita da vida que é poder compartilhar momentos. Essa pessoa vai ser seu back up, seu rascunho do texto mais bonito. Vai ser a testemunha da sua vida.

Por mais que o tempo pareça estar passando depressa demais e que esteja te deixando para trás, tenha calma. Você vai ficar bem. Só precisa ter um pouco mais de calma. As coisas vão acontecer para você, não se precipite. Alguém, em algum lugar esta esperando por você. Mas no tempo certo, na hora certa. Pode confiar. Você não esta sozinha. Dedico este texto aos sozinhos que sabem que são sozinhos. Que entendem seu lugar no mundo porque fizeram dele um espaço para se esconderem. Aos que, por vontade própria ou não, passaram por esse ano criando seu próprio caminho de reconstrução, de amor a si mesmo, de aprendizados e certezas incertas. Ser sozinho não é tarefa fácil. Às vezes a gente quer ter com quem estalar o peito, rir das piadas mais inconsistentes possíveis, ver Netflix agarradinho, observar o outro dormir e agradecer por poder partilhar a existência. Ser sozinho é uma tarefa que requer pulso firme. Pra aguentar a carência. O desamparo. O desabrigo. É claro que os amigos existem e estão ai pra nos provar que é possível viver sem um amor, mas convenhamos: é que  um carinho às vezes cai bem. E cai melhor ainda quando o carinho é mútuo, porque aí o coração aumenta de tamanho e ambos passam a experimentar o gosto que é estar, literal e metaforicamente, juntos. Nesse processo sofrido e espinhento que é tentar entender por que a-grande-pessoa ainda não veio. Nesse árduo caminho de assimilar que estar sozinho significa que estruturas internas estão sendo remodeladas. 

Este texto é um recado: tá tudo bem se você terminar mais esse ano sozinho, sem ninguém. Por vontade própria ou não. Por sorte ou azar. Por uma opção sua ou do universo. Você está exatamente onde deveria estar e esse texto é um brinde a nós.
E uma última coisa: a pessoa mais importante, sempre, nesse processo todo já chegou e está aqui. Esse alguém é você. 


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