2018/01/20

Dia 2422


Você chegou e esqueci de perguntar se era para ficar. Fiz café...
Daqui um ano ou dois, quem sabe? Sempre foi de planos e histórias. Embora eu seja mais frases e momentos, entendo ela. É a intensidade cara, o foda é que ela é intensa demais e por isso acha sempre que não esta sendo correspondida. É meio difícil chegar ao grau que ela espera que eu alcance. Eu tentei. Mas quer saber o que estou pensando agora? "Quantos sorrisos dela eu não estou vendo agora?"
Eu apareci de novo e mal sabia que ainda havia espaços meus aqui. Não se assuste! Afinal, preparei o café e não a minha vida. Não sabia se era pra ficar ou apenas de passagem como da última vez. Me desculpe, eu quis ir embora antes. Mas há coisas minhas aqui ainda. Quem sabe eu tenha aparecido para pegá-las de volta ou apenas ver como estão as coisas. Não quis tocar a campainha então peguei a chave debaixo do tapete. E meu Deus, aqui ainda continua tudo uma bagunça danada. As coisas estão fora do lugar na cama, na estante e no seu coração.
Quem sabe um jantar, mas um jantar romântico em um restaurante legal. Mas antes, eu ajudo a colocar os móveis no lugar e arrumar essa bagunça. O que você andou fazendo enquanto estive fora garota? Há mágoas dentro da dispensa, medos no cofre e debaixo do tapete. Abriu as portas da sua mente e acabou se tornando tudo aquilo que eu queria, certo? Vista-se, coloque aquele vestido vermelho. Ficar despida é para depois do jantar. 
Desculpa por estragar seu escritor favorito e aquela banda nova que me apresentou algumas das músicas que hoje são as minhas favoritas. Desculpa estragar as lembranças que estão no seu quarto, na garagem do apartamento e no restaurante formoso e bonito do centro da cidade. Desculpa estragar o significado do risco da sua pele, daquele seu colar legal e do parque de diversões. Desculpa por deixar de fazer parte da fotografia naquele porta retrato, por te deixar um cheiro no seu travesseiro e pela falta de guerras de almofada.
Desculpa por te deixar assustada toda vez que a porta do carro bate, pelo choro sentido e pela trilha sonora triste. Pelo trauma, pelos soluços acompanhados das lágrimas e por mais esse monte de coisas que de vezes insistem em aparecer na sua memória como aromas, gostos, jeitos e até as frases feitas.
Desculpa, fomos â reticência da nossa própria história. Saudade é a masturbação passiva dos que não sabem que a natureza é suficientemente variada para que não haja a necessidade de voltar atrás. 
Mas eu fiz café. Eu também não sabia...

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