2013/01/27

Dia 1424

Ainda tinha sangue na ponta da agulha. Seringa de 1ml, alguma porcaria dentro. Mas que porra eu estava fazendo? Uma coisa era quando eu fazia isso e tinha 16, não tinha merda nenhuma na cabeça. Outra, quando eu estou no meio do serviço. Cheirei muita coca. Fumei outras tantas porcarias. E eu pensava facilmente "Como seria simples encontrar a paz num mundo imaginário!" Mas sempre tentei viver nos dois mundos ao mesmo tempo.
Descobri que a minha obsessão de que cada coisa estivesse no seu lugar, cada assunto no seu tempo, cada palavra no seu estilo, não era o prêmio merecido de uma mente ordenada mas, pelo contrário, um sistema completo de simulação inventado por mim para ocultar a desordem da minha natureza. Quando eu mudo, meu mundo se muda. Muda de lugar. Algumas vezes algo é estuprado de mim. Algumas vezes algo é jogado na minha cara. Algumas vezes é tudo uma história bem freak.
O que você vê nos outros é a resposta para o que você precisa para trabalhar em si mesmo. Mude a si mesmo, e as pessoas ao seu redor vão mudar também. Parece loucura, não é? Mas eu já vi isso acontecer centenas de vezes. Outras pessoas vão realmente começar a mudar quando você mudar.
Agora pelo menos eu assumo. Não faço mais aquela cena de bom moço, ja passei dessa parte. Me drogo mesmo, sou porra louca mesmo. É, sempre fiz isso e ninguém sabia. Afinal, como acha que eu sempre tive essas idéias malucas que ninguém tem? Por que acha que sempre tive esse mundo paralelo que todo mundo busca? Tenho só 20 anos como se tivesse o peso de vinte vidas sobre mim.
Amigos, namoradas, pessoas vieram e fizeram sua parte... Marcaram e partiram. A vida é assim, a gente se acostuma também com partidas assim como chegadas inesperadas. Parentes aparecem, falam mal de você e também vão embora. Isso acontece até com musicas que você ouve tanto que deixa depois de um tempo elas passarem por você, assim, de leve.
Construir sua existência é um processo singular. Ninguém, absolutamente ninguém tem a responsabilidade em costurar, ou mesmo remendar a sua colcha de retalhos a não ser você mesmo. Se ela sair bonita, o mérito é seu, mas também se o produto final não for harmonioso, assuma a culpa.
Faça faculdade, não faça faculdade. Arrume um emprego. Compre as porcarias das revistas. E quem liga?
Se você soubesse que esse era seu último dia na terra, como você gostaria que fosse? Que pessoas não deixaria de ver, que cheiros iria sentir, que comidas iria querer comer? Existe respostas pra tais perguntas? A verdade é que a gente nunca sabe a última vez que vai abraçar a mãe ou comer aquele brigadeiro gostoso. E o engraçado disso é que não assusta nada, mas hoje assustou. Por que? Vai saber. Mas me dói muito nem ao menos lembrar a última vez que falei com minha melhor amiga ou ter esquecido do cheiro da casa da minha vó. Nada de carpe diem, seize the day ou essas coisas. Não tô aqui pra passar lição de auto-ajuda. Mas se tudo terminasse hoje, será que estaríamos bem com nós mesmos? Com quem nos tornamos, com as escolhas que tomamos? Não é pra ser regra, é pra ser cotidiano. Viver o momento? Ok, mas vê se não força. O que você sempre sonhou em fazer antes de morrer?
Mas por favor não me julgue. Posso ter errado com você assim como errei com tantos outros. Olhe só a sua volta, aquela historia de atirar a primeira pedra. Interprete essa historia como quiser. Retire um trecho, escreva na parede. Sou um pouco de todos que conheci, um pouco dos lugares que fui, um pouco das saudades que deixei e sou muito das coisas que gostei. Todos somos.
E de novo acredito que nada do que é importante se perde verdadeiramente. Apenas nos iludimos, julgando ser donos das coisas, dos instantes e dos outros. Comigo caminham todos os mortos que amei, todos os amigos que se afastaram, todos os dias felizes que se apagaram. Não perdi nada, apenas a ilusão de que tudo podia ser meu para sempre.
Mas uma coisa eu sei: Não pode chover o tempo todo.

Um comentário:

Anônimo disse...

Drogado!!!