2016/08/07

Dia 2300

Sobre tudo os olhos castanhos dela. Eu me apaixonei quando ela me olhou na primeira vez.
Me vi tomando café sozinho na minha cafeteria predileta. Olhei em volta e as pessoas conversando, rindo, mexendo no celular. Minha xícara, já meio quente e meio fria esperava mais uma golada. Peguei um bloco de anotações e uma caneta tinteiro montblanc, porque acho linda essas canetas. Comecei a escrever tudo isso que vem adiante.
Eu ouvi ela contar sua história por dois ou três dias. A cada vírgula e pausa para respirar, tentava eu permanecer atento para o que vinha após. Continuar na conversa, não desfocar das palavras que ela pronunciava. E como a um rouxinol, tudo que saia da boca dela foi me prendendo a atenção. Eu nem percebi quando meu coração gravou o timbre da sua voz. Deu vontade de abraça-la só por saber da sua história. E todo sofrimento e toda dor. Por incrível que pareça, a angústia daquela mulher parecia com a minha.
E ai me perguntei "Porque então, não pegar a sua dor com a minha dor e transformar em felicidade? Porque então, não pegar a sua solidão e a minha e transformar em companhia?". Tenho na minha memória uma cena do primeiro dia que acho que nem quando eu ficar velhinho vou esquecer. Estava mais nervoso que ela mas ainda sim tinha que parecer condensado e, de certa forma, sério. Usando do cinismo que muitas vezes parece engraçado, ela riu do meu humor. Foi essa cena, ela rindo pela primeira vez. O som da risada dela, a feição do rosto e os movimentos envergonhados tentando esconder os lábios com as mãos. E o pós riso, com fragmentos no ar do sonoro sentimento que ali começou.
Dei um beijo de boa noite nela faz cinco minutos. Ela já foi dormir e eu estou aqui embaixo escrevendo sobre ela mais uma vez. Um tempo atrás eu nunca imaginaria que estaria escrevendo sobre ela, na casa dela, no sofá dela, bebendo na xícara dela em um sábado a noite. E o melhor é que não preciso ir embora. O melhor é saber que se eu quiser, posso subir as escadas e dar mais um beijo nela ainda hoje. Perceberam? Onde eu estava no primeiro parágrafo e onde vim parar no último?
Amanhã vou acordar mais cedo, esperar ela acordar e fazer um café fresco para nós dois. Ela vai passar pela porta com os olhos ainda amassados com passos lentos me dando bom dia. Vou abraça-la, ela vai pensar que ainda é o travesseiro e me abraçar de volta. Vocês não sabem, ela não sabe, ninguém sabe mas isso... Esse momento, isso é felicidade pra mim. Poder vê-la acordar todos os dias isso pra mim é o maior presente que eu poderia ter ganho na vida. Mas tudo começou assim... Sobre tudo os olhos castanhos dela. Eu me apaixonei quando ela me olhou na primeira vez.

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