2013/08/22

Dia 1573

Como não lembrar dele? A casa inteira estava carimbada a ele. A cozinha, as panquecas e o brigadeiro. Não muito bons mas a gente tava chegando lá. A sala e os filmes, os programas ruins de final de semana. A varanda que nunca usamos. Para fazer aquilo, para ficar sentados olhando pro reflexo dos prédios e falando sobre nossos futuros filhos, sentindo a brisa espancar nossa cara com carinho. E o quarto, sobre tudo o quarto. Estava completamente infestado dele. A caixinha de musica e o ursinho de pelucia sobre a estante. As marcas de amassado do ultimo encontro no lençol. Alguns bilhetes e cartas dentro das gavetas. A foto no plano de fundo do computador. As roupas dentro do guarda roupa. O perfume ainda de leve no travesseiro. Até nas minhas coisas, como por exemplo no meu sapato que usava pra ficar dentro de casa e ele falava que era horrivel. As roupas que ganhei dele... O joguinho de achar que ele fez dentro do meu quarto todo no nosso aniversario. As combinações de calça e blusa que ele falava que fiquei linda. A escrivaninha e a cadeira que ja serviu pra outras coisas. 
É dificil né? Quando a gente se apega ao outro e depois não tem. Quando criamos aquele laço e depois tem que se desfazer. Fazer uma rotina diaria como contar o dia se desenrola, algo tão... Como posso dizer? Trivial e depois não ter mais. Eu aprendi que quando se trata de amor nada é trivial.
A gente tem que aprender a fingir que não lembra. De memórias frescas. Momentos intimos, risos e brincadeiras. Do sexo. Do segredo. Da palpitação no peito que agora é só saudade.
As palavras ás vezes são bem más. Saudade por exemplo, ela dói mais que um tiro. Ás vezes a gente acha que vai enfartar de tanto que dói. Na escola não ensinam isso. Que amor dói. Seria bom se ensinassem isso antes. Pouparia estragos. E lágrimas. A gente nunca sabe o efeito que vai ter as coisas que fazemos, as decisões que tomamos até ver os resultados delas.
Ele pegou na minha mão e eu fiquei nervosa.  Começou assim.

Nenhum comentário: