2014/03/27

Dia 1804

São Paulo 27 de março de 2014.
Estava sentado em uma cadeira fazendo a mesma coisa de dias anteriores, pensando. Pensando em como a vida pode ser clichê, em como a vida pode ser injusta, em como a felicidade pode depender tanto do estado de espirito de outras pessoas.
8:15 AM - Não entrei no prédio. Não fui trabalhar.
Eu vejo o trem passar pela ponte. Vejo o sol invadir discretamente as frestas da parede. Vejo a sombra da placa de sinalização. Vejo meu carro se chocar contra o muro e minhas idéias se esvaziarem na água debaixo do banho. Quando eu era pequeno adorava tampar os ouvidos debaixo do chuveiro, minha imaginação me levava pra dentro de uma enorme tempestade e eu conseguia ouvir o barulho da chuva dentro da minha cabeça. 
9:34 AM - Uma xícara de café e o jornal do metro nas mãos. 
9:38 AM - Uma ligação e "porque você não veio ainda?"
9:45 AM - Celular fora de área.
Você pode ouvir a mesma musica várias vezes, mas ela nunca vai se parecer como a musica que você ouviu pela primeira vez. Assim são as pessoas. Eu mudo de certezas os meus sonhos e teletransporto vontades de lugar. E qualquer lugar é meu lar. Desse jeito, quando me encontrar na rua novamente não vou ser mais o mesmo de ontem, ant-ontem e até de hoje. Mas ainda sim vou ser metade eu-metade eu mesmo. 
10:06 AM - Faço alguns rabiscos na folha grossa do caderno em mãos. Um fone no ouvido e o outro pendurado. A musica é - Vida Louca Vida - Cauza.
Eu me vejo caindo na calçada fria. Me vejo sentir dor toda vez que coloco o pé no chão pela manhã como se por obrigação tivesse que aceitar essa dor pra mim, como se eu tivesse também feito por merecer. Vejo as luzes do quarto piscarem enquanto balançam como sinos de natal dos quais jamais vou ouvir soar. Vejo meus sonhos perdidos em um paraiso que não sei existir. 
E até que ponto você sabe que esta acordado? E até que ponto você sabe que esta dormindo? E até que ponto você sabe que fez tudo que deveria? Tudo que poderia? Até que ponto não é exagero? 
E ai eu te pergunto, em qual foi o ponto que o sonho virou pesadelo e não soubemos como voltar atras?
11:55 AM - Deitei na grama umida e permaneci imovel sentindo o ambiente. A brisa, o som do lugar, sua temperatura... Por um instante me senti tolo por fazer uma coisa tão simples. Por outro instante me senti calmo e sereno. Me senti sem pressa. Sem horário. Tinha encontro marcado comigo mesmo naquele momento e não poderia me atrasar. 
13:02 PM - Pensei e repensei. Senti vontade de gritar. Desejei a morte mais que qualquer coisa naquela hora mas ela não veio. Amor, carinho, proteção, sexo, essência, sonhos e conquistas. Uma batalha incrivel sem vencedores.
Adormeci em berço esplendido.
15:17 PM - Suspirei fundo engolindo o choro que não saia pra fora e me afogava pra dentro. Desesperado folheando as paginas daquele livro tentando encontrar onde estava o erro da história. 
16:59 PM - Quis voltar pra casa mas, ia voltar mais igual do que havia saido ás 7:32 da manhã de uma quinta-feira qualquer
19:35 PM - O peso do mundo cai sobre mim e as palavras escritas secam mais do que nanquim em papel timbrado. "Mea culpa".
23:12 PM - Ultimo relato. Não tem mais casa. Estou aqui e nem sei onde é 'aqui' pra falar a verdade. Pela manha não vai haver mais fogo nem fumaça. Nao pode chover para sempre. Fantasmas não existem. Isso na verdade nunca existiu e foi tudo nossa imaginação. Sorria para um estranho hoje no café da manhã. Seu sorriso é lindo. Compre mais daquele sabonete que te deixa com um cheiro gostoso. Desculpa e obrigado. E por fim, eu te amo.

Um comentário:

aivilana disse...

Ai, que invejona de você! Hahaha!
Sempre popstando por aqui..

Sumi por muito tempo. Nem sei se pretendo voltar.
Gostei do que li e me surpreendi com o simples, mas ao mesmo tempo óbvio: "Você pode ouvir a mesma musica várias vezes, mas ela nunca vai se parecer como a musica que você ouviu pela primeira vez."

Mesmo ausente, continuo apreciando seus textos!