2015/05/22

Dia 2099

Era aquele sexo. Mas não era só o sexo, quer dizer, era mas não exatamente. Ou a melhor parte dele. E a melhor parte também era o depois. E o que vinha antes do sexo. Era a conversa, a confissão do dia fodido. Era o dormir de conchinha. Não era apenas pênis, vagina, traseiro e peitos. Era carinho no cabelo, beijo na orelha, risinho baixinho. Mãos que se encontravam e depois se perdiam logo em seguida e iam se encontrar em outro lugar. Corpos que se transformavam em labirintos.
É apenas um homem e uma mulher que se deixam chocar os corpos na cama, no sofá, na cozinha, no box do banheiro pequeno. Quando dois corpos se abraçam duas peles se tocam, dois corações se unem contrariando a lei da física que diz que dois corpos não podem ocupar o mesmo lugar e fazendo de duas almas uma só. E nunca, jamais pode-se deixar com que se tornem estranhos. Jamais pode-se deixar com que se afastem. Se afastam e logo tudo se dissipa no ar como nuvem em ventania lá no alto da montanha. Lembra? A montanha? Aquela que alguns anos atrás você se esforçou tanto para escalar e conseguir chegar ao topo. E de lá de cima, ficou sem saber o que fazer que acabou não fazendo mais nada. E simplesmente desceu de lá, foi embora. Geralmente é isso que acontece com alguns casais, eles sobem até o alto da montanha e não sabem o que fazer. É complicado sair por aí buscando a pessoa ideal. Procurando o tal brilho no olhar de desconhecidos. Rezando para tropeçar nos próprios pés e deixar os papéis da vida voar por toda a calçada para que apareça alguém e ajude a recolher-los. E nada disso acontece. Você continua andando reto, disputando o olhar com os lados e o chão. E ninguém vem. Então o dia acaba e suas esperanças também. Penso que existimos para isso. Cativar quem realmente interessa. Mesmo com a falta de tempo e a correria dessa nossa rotina de gente grande do século 21.
E o sexo? Bem, nunca foi só sexo.

Nenhum comentário: