2014/01/11

Dia 1714

Ela não queria que eu dissesse, mas ela tropeçou no degrau da escada do estacionamento. E sabe porque eu estou dizendo isso agora? De inicio de tudo? Porque ao final, ninguém vai se lembrar do tropeço. Alias, eu vou. Eu vou me lembrar do tropeço. Dos cabelos loiros dela passando pelo saguão tentando fitar o olhar mas disfarçar pra que ninguém desconfiasse do que aqueles olhinhos estavam procurando realmente. Vou me lembrar da cara de 'Nossa, ele ta aqui mesmo'. Do abraço que ela quis sair porque estava envergonhada. De fugir o olhar. Eu vou me lembrar do cheiro que vinha dos cabelos dela, dos aneis, um no indicador esquerdo e outro no anular direito. Da sua saia rodada e aqueles pezinhos por debaixo dela. Dela colocar a mão no rosto como se aquele gesto fosse inibir de eu ver o sorriso dela por detrás disso. Dela imaginar as bobagens que eu falava seguindo a conversa, mas era tudo mentira. Eu nunca a tinha visto antes mesmo... Não sabia direito o que falar. E ela ria e ficava sem graça, ficava sem graça e ria. Vou me lembrar da sua mão tremula, ansiosa e nervosa mesmo ja tendo me visto, mesmo eu ja estando ali do lado dela. Eu vou me lembrar de, com certa falta de atenção nem prestar direito a propria atenção em quem estava com ela, por que era só ela que ali tinha minha total atenção. Vou me lembrar de não saber direito onde colocar minhas pernas dentro do carro no banco de trás. Se era encostada na dela ou, se deveria respeitar seu espaço. Vou me lembrar dela relutar de me dar a mão, fria de nervoso mas já não mais tremula.
Vou me lembrar de querer fazer dezenas de perguntas e não fazer nenhuma delas porque também estava sem graça. Vou me lembrar dessa garota porque, ela tentava se mostrar forte e não mais sem graça pra olhar pra mim e me fitar com aquele olhar direto... Mas logo virava o rosto. Vou me lembrar dela, porque ela é especial pra mim agora. 
Nós estamos aqui para rir das probabilidades e viver nossas vidas tão bem que até a morte irá tremer para nos levar. E se minhas probabilidades vem de avião, que seja. Eu pego um onibus, eu pego um taxi, eu pego um avião. Não me importo. E desde quando, desde quando a distancia impediu dois corações?
E se for pra ficar, que fique pro jantar. E se for pra ir, que me leve junto. E se for pra não voltar, que pelo menos deixe uma historia pra eu contar. 
Eu jogava com a vida, arremessava ela e ela voltava com um bumerangue. Eu fazia rima com verbos de uma silaba só. Ir. Sempre adiante baby. Eu ficava com medo de não conseguir atingir ninguém e droga, atingia a mim mesmo. Mas de vez em quando, só de vez em quando a gente atingi um coração por ai. Dai a gente não quer perder nenhum detalhe, assim como eu. Nem que eu quisesse conseguiria. Ta tudo gravado e fotografado. Revelado na maquina de fotografia aqui dentro. Porque sou e sempre fui um colecionador de boas memórias. E que me tragam visitas. E que me tragam lembranças. E porque não me tragam tropeços também. 
A vida é muito curta pra gente deixar pra la. A vida é muito curta pra gente dizer 'não'. E principalmente a vida é muito curta pra não se deixar apaixonar. Pra mim a vida é uma festa onde ninguém se conhece mas são todos convidados. 
Vai parecer estranho mas pela primeira vez eu estava em um lugar e senti que não deveria estar em mais nenhum outro. Era ali. Aquela hora. Aquele olhar. Ponto final.
Não se preocupa, a gente se encontra. Seja em um bar daqui uma semana, uma festa daqui um mês ou em uma loja daqui vinte anos.
Vamos apenas largar tudo e viver tudo por ai. Sem ter contas pra pagar todo mês. Só ter do que rir todo dia. É assim a vida.
Se encontraram e decidiram conversar sobre a vida. Começou assim...

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