2014/01/28

Dia 1729


Então eu calcei minhas botas batidas. Peguei meu relógio de pulso, usava oculos escuros e uma camisa que ela gostava. Check in, obrigado. Malas prontas. Cafezinho de aeroporto. Até que é bom. Sem bagagem de mão, odeio levar minhas próprias coisas no ombro. Corredor de embarque, cadeiras reclinaveis. Poltrona da janela, por favor. Ver as nuvens sempre me trouxe boas vibraçoes. 
Eu estava nervoso. Sentado naquela cadeira olhando minhas mãos, as estrelas em mim. Eu nao conheço nada la, vou desembarcar totalmente cego. Tentar dormir era fora de cogitação. Então fiquei preso no limbo, meio acordado e meio dormindo com a cabeça cheia de pensamentos.
O piloto anuncia turbulência - eles sempre anunciam nos filmes também - pensei. E do alto da pra ver a pista pequena la embaixo. O avião pousa, nem é tão coisa de outro mundo assim. 
Pego a mala na rolante, olho pro portão de desembarque que abre e fecha suas portas. Dou risada, tenho lembranças. Saindo de la, esta bonito o tempo. O sol faz sombra na parede. Tem taxi pra caramba na porta. Logo vou pra um deles, ajeito as malas no banco de trás mesmo. "Saia logo de Pampulha" penso alto. Me leve pro centro. No centro, compro chocolates. Todo mundo adora chocolates. 'Se você é visita, nunca vá de mãos abanando' minha mãe sempre disse. Peguei um onibus com destino certo. Cheguei.
Droga, as botas fazem um barulhão toda vez que desço do onibus. Subi uma ruazinha simples, mas que me deixou tão nervoso como se eu estivesse subindo ao próprio Coliseu. 
Então eu vi aquelas pedras do muro. Eu reconheci aquela varanda de fotos passadas. A mureta com malas coloridas. O chão de pedrito cinza. Era aqui, certo. Tinha que ser. Mas e ai, o que eu faço? Grito, bato palma? Que ridiculo sou eu parado aqui na frente como um turista de oculos escuros. Sec XXI amigos, vamos usar o celular. 

"Amor, você pode vir aqui fora por favor? Eu nem sei como faço pra dizer que ja cheguei."

E la vem ela, toda apressada falando com seu sotaque algo que não entendi. Ela desceu o degrau e correu. Ah, aquele abraço. O cheiro que vinha dos cabelos dela. As mãos dela nas minhas costas. Que saudade. "Que saudade senti de você" pensei. 
Ela me olhou com aqueles olhinhos de baixo pra cima. Ela mal conseguia acreditar que eu cumprirá uma promessa. Nunca falamos disso, mas também nem precisavamos. Ás vezes a gente dizia coisa sem dizer. Mas ela sabia, que eu sempre estaria aqui pra ela. E só pra ela. 

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