2014/07/28

Dia 1925


São Paulo, 25 de julho de 2014.
Uma vez me disseram que aqui era grande demais, perigoso demais. Bem, agora eu concordo com você. Outra pessoa me disse não faz muito tempo que eu também não saberia viver em cidade pequena, do interior por exemplo. Apesar de eu gostar da calmaria, a tranquilidade e silêncio esta mais para uma quebra de rotina do que para um cotidiano sequencial. É, eu tenho que concordar com você também. Eu sou o cara que adora a Av. Paulista e os bares da minha Augusta. 
Conheço cada beco escuro e fedido dessa cidade. Das favelas da zona leste até os cantos escuros de Pirituba. Cada pico dessa porcaria de cidade tem uma história pra contar seja por acaso, coincidência ou destino eu estive lá. Não estamos salvos aqui e em lugar nenhum. A merda acontece em todo lugar amigo, em toda cidade.
Ultimamente ando pensando por três. Por mim, minha mulher e meu filho. Minha filha nasceu e
minha mulher chorou. Mas eu estava armado dentro da sala de parto e fiquei pensando em que tipo de proteção eu tinha que dar para aquele serzinho totalmente dependente de mim e da mãe dele naquele momento. Ninguém encosta neles entende? Eu não deixo. Minha mulher e minha filha são os intocaveis. 
E naquele mesmo dia...
Vectra preto. Placa NQC 5236. Voltava pra casa sozinho naquela noite. Ainda bem. Abarroaram meu carro e eu acelerei. Acabei batendo em outro na minha frente. Sairam pela porta da frente atirando. Eu me abaixei mas não pude evitar ser baleado. Eles entraram de volta e fugiram. E eu fiquei ali, sangrando. Com uma bala de 9mm dentro de mim. E eu só pensava na minha flha e na minha mulher. De uma forma estranha quando acordei no radio do hospital tocava Pink Floyd - Wish You Were Here. Eu só queria saber onde estavam minha mulher e meu filho. No celular do lado da cama uma mensagem não lida. Dizia "E se eu não chegar a tempo, mando meu coração para você pra ajudar o seu a continuar batendo."

São Paulo, 28 de julho de 2014.
Estou em uma cama de hospital segurando um pequeno ser de 4 quilos e 800g no meu colo e a minha mulher me olha sorrindo na cadeira ao lado. Fico feliz de ainda estar de pé pra mais uma. O médico disse que vou estar bom em seis semanas. Minha pequena é linda, tem os olhos da mãe e já sorri pro paizão. Olhando pra elas duas eu me sinto em paz... Como... Como... Como se o mundo todo fosse bom realmente. Teria motivo maior pra continuar lutando? É claro que não. 
Quando você encontra um motivo que valeria a pena morrer, você fica com ele. E pra mim, elas são meus motivos. Amém!

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