2011/10/10

Dia 679

Em uma lanchonete na estrada, onde vendem um maravilhoso café espumante e sentado na cadeira revestida de couro sintético eu vejo. Eu vejo na janela a neve que foi varrida do asfalto para a lateral da estrada. Eu vejo as folhas verdes dos pinheiros respingadas por flocos de neve que acabaram de cair. A montanha coberta pela névoa. A madeira da lenha amontoada no canto. Caminhões vindo da madeireira e caminhonetes com trabalhadores. Vejo a garçonete servindo mais uma xícara. O balcão com algumas pessoas. Outras mesas iguais a minha, com um açucareiro, um suporte para colheres descartáveis, uns guardanapos...
A porta que tem sino para anunciar as pessoas que entram ali. A fumaça que sai da minha xícara. Vejo os copos molhados no escorredor. Mais ao fundo, os nictórios no fim do corredor. Plaquetas de homem e mulher nas portas. Vejo no canto, a neve se misturar com a terra. Meu casaco preto do meu lado dobrado. As chaves do meu carro, meus óculos e minha carteira sobre a mesa. Vejo a moça a minha frente sentada, tirando a touca e arrumando o cabelo. Pedindo o mesmo que eu, tirando um livro de Ernest Hemingway da bolsa com zíper. Olha pra mim de vulto rápido, assim como para a janela. Talvez tenha visto todas as coisas que eu vi lá fora, talvez não. Ela tira suas luvas de couro pretas. Toma a xícara em sua mão, dando uma golada e uma lida e assim segue. Enquanto eu também faço o mesmo, mas sem livro nenhum em minhas mãos. Por que leio o lugar, eu leio as pessoas e naquela hora, eu lia a mulher a minha frente.
O que será que ela pensa? O que será que acontece agora?

Nenhum comentário: